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Coluna

Djalma Gomes
Publicada em 16/03/2023 às 14h28

O torcedor está humilhado e se sentindo subjugado

Renato Paiva é um monstro em matéria de retórica. O moço é didático, articula bem o português, é um estudioso, porém, prolixo nas entrevistas, o que o torna polêmico. Apesar das qualidades que possui, ainda não tem o perfil de treinador de clube de massa. Futuramente aprenderá a treinar times de futebol sem fazer esse estilo kamikaze. Por agora deveria professorar com a consciência de que nada é estático, tudo se move, tudo muda e tudo se cria, lembrando-lhe que a mudança é a única coisa que nos oferece novas oportunidades.  

Posto isto, sigo dizendo que tudo está muito mal no Bahia devido à forma como Paiva vem trabalhando – mas não é único culpado. Penso com uma quase certeza de que o treinador atual do Bahia está no lugar que ainda não era para ele estar. Ele tem a teoria, mas colocar ela em prática é o seu maior problema. Ademais, ele trabalha segundo a metodologia dos patrões e esses não estão preocupados com opiniões externas. O que Renato tem que fazer é ver o que pode mudar dentro dos métodos que lhe apresentaram. 

Observando a postura do treinador Tricolor por outro prisma noto que rever conceitos parece não fazer parte da filosofia do português, que não mostra nem um pouquinho de sensibilidade quando o assunto é sugestão para fazer uma reflexão sobre seu conceito de jogo. Ele não está disposto a isso e cria um ambiente desfavorável para si com a torcida e a própria imprensa. O resultado disso vai para o campo de jogo e torna-se natural uma contenda inconsciente por parte do treinador, e isso tem consequências abismais que materializam nele a teimosia que ele chama de convicção. 

Todavia, quem decide a permanência do treinador Tricolor não é este colunista, nem a torcida, nem a imprensa, o City Football Group decide quem sim, quem não e quem nunca. É simples assim. O grupo pagou pelo Bahia e tem agora o monopólio de todas as decisões. Trata-se de um investidor que visa lucro e tem lastro internacional. No mais, o que se fala do grupo que comprou o Bahia são coisas espúrias. Interessante é que antes do debacle do time em campo os elogios ao City Group eram à altura do azul celeste do céu, mas isso é coisa arraigada na cultura do futebol brasileiro onde tudo funciona como nos freios de arrumação. Se a bola entra tem aplausos efusivos, se a bola não entra, tem a paixão enraivecida. 

– Especialmente no futebol, o que resolve é saber passar da teoria à prática quando a bola rola em campo, isto com a certeza de que entre uma coisa e outra há uma distância considerável que não deve ser ignorada, e por conta dessa dificuldade em considerar a distância entre o ponto de partida e o ponto objetivo, torna a teoria meramente uma retórica ao léu. É o que ocorre com Renato Paiva.  

Pior para a torcida Tricolor porque sente seus sonhos se desvanecendo ante o desastre do momento atual que nada tem a ver com a expectativa do torcedor ao vibrar com a venda do Bahia ao Grupo City, e agora, aflita, vê parte dos 500 milhões destinada ao futebol “descendo pelo ralo” em contratações nada coerentes com os valores gastos até então. Bem pior que isso é saber que nenhuma contratação específica em qualidade tem sido feita – excetos Biel e Acevedo. Só chegam jogadores inexperientes e sem o perfil capaz de impor liderança num grupo fragilizado pelo próprio fracasso.    

Explicar os fiascos do time em campo após cada partida tornou-se algo preocupante porque seus diretores acreditam que essa inflexibilidade tática do treinador faz bem ao Bahia – é o que parece. Aturar Cicinho como lateral e Everaldo como centroavante, pelo menos até hoje, nem com chá de camomila.  Ver Goulart tentando ser o jogador que foi no passado chega a dar dó. O resto é aposta na colheita de jiló verdinho plantado em tempo de lua nova. 

Vejamos o histórico recente do Bahia de Renato Paiva: jogando com um atleta a mais e levar pressão do Camboriú de Santa Catarina; perder por absoluta incompetência para o Itabuna; empatar com o time sub-20 do Fluminense do Piauí; ser eliminado vergonhosamente enquanto ainda digere uma goleada estrondosa em Recife. O pior de tudo é a possibilidade de entrar no Campeonato Brasileiro sem mudanças significativas nesse Bahia que parece uma casa de terror que assombra o torcedor de noite e de dia. Das duas uma:  o time é ruim; Renato Paiva é o problema; e por que não os dois?  Reflexão. 

O que dá para se concluir é que Renato Paiva ainda é um treinador, proporcionalmente, no mesmo patamar incipiente desse time de jovens que está sendo montado no Bahia. É inexperiente, sem rodagem e sem a devida flexibilidade para lidar com um clube que tem uma torcida gigante e apaixonada. Quando ele foi anunciado como treinador, fiquei iludido com suas entrevistas e animado com a atuação do time, inicialmente, no campeonato de casa...  

Mas daí aconteceu o Nordestão: vi que o Sampaio Corrêa continuava sendo a correia que castigava o Bahia; Vi que o Ferroviário continuava o ferro que ferrava o Bahia; vi que o Sport nos impôs uma irrecuperável e humilhante goleada; vi que Enderson Moreira era mais treinador do que Renato Paiva; vi então que a vaca não iria mais para o brejo porque já estava no brejo. 

Entendo que o Bahia precisa de algumas “peças” pragmáticas porque as que possui têm se mostrado insuficientes. Mas o que preocupa nem é tanto assim essa insuficiência técnica, sim a involução do time de jogo para jogo, e isso tem a ver com o modelo tático imposto pelo treinador. Melhor dizendo: tem tudo a ver com o treinador.  

Senhores diretores do Bahia, abril está à vista e urge uma mudança dentro do que foi planejado para este semestre. O conhecimento sem qualidade e sem valores que o orientem pode lhes desnutrir, pode lhes embebedar com a ilusão do poder e da certeza de que uma filosofia não pode ser mudada. É fato, já foi gasto uma fortuna – inimaginável no passado recente – no sentido de se fazer realizar o Bahia prometido para estar entre os seis melhores clubes do Brasil, mas isso não indica que o gasto tenha sido proveitoso, sequer a médio prazo.   

A frustração não é somente da torcida Tricolor e nem do Estado da Bahia como um todo, é também de toda a região Nordeste que esperava ver no Bahia o know-how do Grupo City – tendo Guardiola como inspiração de um modelo – exibindo um time competitivo e técnico que pudesse estar dando exemplo de organização em campo. Não é o que acontece. Lembro de ter visto e ouvido o CEO do grupo, Ferrán Soriano, dizendo que causaríamos muita raiva à concorrência.  

– Don Ferrán Soriano, quisiera enterarme si las contrataciones tienen empresarios en el medio. Hay mucho carbón húmedo llegando a nuestro Bahía. Los aficionados les encantaria saber acerca. 

Do jeito que a “carruagem” vai se deslocando, “carroças” passarão à frente jogando poeira na cara da gente. O torcedor Tricolor está humilhado e se sentindo subjugado. É péssimo saber que até então o Bahia é a pior SAF do Brasil. Mudar o patamar de contratações é mais que um pedido do torcedor, é uma necessidade. 

COMPLEXO REI PELÉ 

No dia 31/03 às 11:00, a Prefeitura de Santos-SP, em parceria com o Instituto Arte do Dique, presidido pelo baiano José Virgílio L. Figueiredo – que nos honra como habitual leitor desta coluna –, inaugurará o COMPLEXO REI PELÉ, que entre outras obras edificadas no moderno complexo homenageando ilustres, consta a QUADRA DOUGLAS FRANKLIN. Justa homenagem ao meu amigo Douglas, ídolo eterno do Bahia. A inauguração terá como patronos Rogério Santos – Prefeito de Santos –, e José Virgílio Leal Figueiredo – presidente do Instituto Arte do Dique.  

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