Ainda tem um aspecto que também deve ser considerado: técnico de "ponta" não quer trabalhar em clube com orçamento inferior a 100 milhões, e no Bahia o orçamento fica abaixo disso. Nesse nível, ninguém confiaria no próprio taco para tentar fazer um papel que colocasse o clube pelo menos entre os oito melhores times do brasileirão, que é onde pode até se buscar uma classificação para a Libertadores.
Pois é, se o presidente do Bahia não podia trazer técnico de "ponta" então teria sido melhor ter colocado as cartas na mesa dividindo com a sua própria torcida as dificuldades impeditivas e o porquê de o Bahia não aventurar acima do planejado. A demora de anunciar um novo nome deixou o torcedor com a falsa expectativa de uma notícia bombástica, e uma vez que isso não se verificou a torcida tem todo o direito de ficar na defensiva e não no apoio, o que só aumenta a pressão por resultados que justifiquem a contratação de um técnico emergente.
O discurso de trazer Enderson porque este "sempre foi o foco" não convence. Trouxe quem deu pra trazer. Duvido que alguns nomes reconhecidamente fortes no mercado não tenham sido tentados, até porque se a diretoria tivesse como filosofia trabalhar somente com técnicos do andar de baixo, então o torcedor teria de ficar preocupado porque a ambição por algo maior do que se tem estaria bem distante do seu sonho.
Enderson fez um belo trabalho no Goiás e a partir dali abriu os olhos de clubes como Fluminense, Santos e Grêmio. Não esteve bem em nenhum deles. Foi para o América e capengou inicialmente. Porém lhe foi permitido um trabalho de longo prazo que acabou sendo razoável. Então, será que esse trabalho de médio a longo prazo teria a tolerância da Nação tricolor? Eis a questão.
Clube de massa não é fácil para nenhum treinador, muito menos para os emergentes. Em tese, demitir Guto e trazer Enderson não significou nada de diferente, claro, tendo como parâmetro o desempenho de Enderson por onde passou. Pode ser que no Bahia ele encontre o ambiente ideal e se consagre definitivamente. O que questiono não é o potencial do novo técnico tricolor, sim, a sua capacidade atual para lidar com uma torcida tão exigente.
Vem aí o Ceará como teste inicial para o novo comandante do Esquadrão pela Copa do Nordeste, Passando bem no teste colocará a primeira de mais algumas pás de cal sobre as dificuldades que ora assolam todo o contexto do futebol no Bahia. A seguir terá o tempo adequado para corrigir defeitos e falhas do time para em seguida tirá-lo da zona mal assombrada do futebol. Feito isto o caminho de Enderson no Bahia estará pavimentado.