é goleada tricolor na internet
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Publicada em 15 de dezembro de 2021 às 16:27 por Victor Moreno

Victor Moreno

A estrovenga girou, passou lapiando o pescoço

‘’A estrovenga girou
Passou perto do meu pescoço
Corcoviei, corcoviei
Não sou nenhum besta, seu moço

A coisa parecia fria
Antes da luta começar
Na roda a estrovenga surgia
Girando veloz pelo ar’’

Cidadão do Mundo — Chico Sciense e a Nação Zumbi

Faz cerca de nove meses que escrevi a seguinte sentença: ‘’Dor de barriga não dá só uma vez e, esse elenco, já mostrou que, juntos, com suas pedras bêbas todas a disposição, é como se fosse um abará esquecido numa vasilha fora da geladeira há 15 dias. A medida certa pra tragédia acontecer. ‘‘. Pois bem, o abará continuou fora da geladeira, apodreceu e o Bahia… Bem, botou o abará pra requentar no micro-ondas e bagaçou com um copo de refrigerante sem gás. Quais as chances disso dar certo?

Foto: Daniel Galber / Gazeta Press

No texto de título “pra ser bom é preciso sentir raiva da mediocridade”, esse rabiscador alertava que em um campeonato cuja lógica fosse seguida (quarenta e cinco pontos para não cair), o Bahia seria rebaixado. E foi. E nesse ano, nem com quarenta e cinco se salvaria. Esse esporte é como dona Raimunda, minha avó, é doce, terno, apaixonante, mas tem gênio forte e não aceita desaforos. Não dá para você repetir a mesma coisa o tempo inteiro e esperar resultados diferentes, fazer isso é ser anticiência. O Bahia possui uma administração formada por terraplanistas da bola.

O Bahia urgiu por uma reformulação no final do Campeonato Brasileiro de 2020. Papo de fechar pra balanço e redefinir até o horário de almoço. Eles até tentaram fazer, só que a quantidade de erros cometidos em contratações foi algo inacreditável. Odeio ser o que, no auge da minha arrogância, se gaba de ter avisado. Este elenco era formado por jogadores grotescos tecnicamente que procuram compensar com alguma disposição e uns que possuem uma omissão e falta de vigor comparáveis a Fredo (personagem de John Cazale na trilogia The Godfather). E, para estes, eu sequer irei relativizar tecendo algum elogio a sua boa técnica. São omissos e pronto. Apenas isso.

O pior dessa queda foi o sentimento final após o jogo derradeiro contra o Fortaleza: alívio. O Bahia me massacrou tanto, me causou tanta ansiedade, me deixou tão revoltado, que ao apito final, eu me senti aliviado que acabou este sofrimento. É dura a sensação de impotência, de ver os erros sendo cometidos repetidamente e não poder fazer nada porque as pessoas que possuem esta autoridade são arrogantes demais pra ver. O Bahia nessa gestão está sendo o Bahia da arrogância, prepotência e narcisismo.

Foto: Reprodução / SporTV

Agora que a estrovenga já alcançou o pescoço tricolor, a porra já inchou e o bambu já gemeu, é preciso , entender (agora de verdade) o que errou e o que precisa mudar, unir forças e tentar um feito inédito na história do Bahia: bater e voltar. Serie B é campeonato de sacana, precisa ter competência, força, sair na frente dos outros e ainda ter sorte pra subir. Ainda mais numa Serie B dessas com tantos times tradicionais.

Sabendo que não sei fazer um ‘o’ com um copo no que se refere a futebol e abdicando um pouco da minha revolta por ter presenciado esse vexame, listarei abaixo de maneira leviana e presunçosa, dez coisas que precisam mudar urgentemente para que o Bahia tenha alguma chance de retornar aos trilhos, não apenas no futebol, mas na mentalidade do clube, nas rotinas, em tudo:

1 — Reformular a comunicação

O Bahia acabou de anunciar a renovação do contrato do Profº Guto para 2022 (pra que fique registrado, considero um acerto), mas, no corpo da notícia, tinha que ter uma passadinha de pano, né? E o que dizer do anúncio da compra de Juninho e dois anos depois, no ato da venda, o presidente entrar em contradição? Precisa ser tão circense pra anunciar jogador? Precisa utilizar as redes oficiais do clube pra promover o chororô?

É preciso reformular este setor. Merda todo mundo fala, mas quando se está numa posição de destaque, as merdas que se fala repercutem. Tem que ter cuidado.

2 — Acabar com o discurso de ‘’nós x eles’’

Não tem uma coisa mais constrangedora no Bahia que esse clima de ‘’contra tudo e contra todos’’ o tempo inteiro. A diretoria e suas ramificações soltam esse discurso, os jogadores compram. Os caras tão penando pela própria incompetência e botando a culpa nos Illuminatis. Já chega disso, queremos mais trabalho e menos ‘’brá-brá-brá’’. Tem coisa errada e podre no futebol brasileiro sim, mas, por que outros clubes chegam aos seus objetivos, mesmo que às vezes sejam prejudicados por CBF e seus subgrupos e só o Bahia que cai? Um dos motivos é essa mania de perseguição que essas pessoas têm que existe um complô contra o Bahia, onde os senhores do crime se reúnem pra conspirar e criar formas de maltratar o fenômeno, fantástico e colossal Bahia, a biografia do futebol brasileiro. Até quando o time broca (raro), tá lá nos bastidores o ‘piru imperador’ do clube com ‘’vocês vão ter que nos engolir’’. Tá chato, soa como mimimi (odeio este termo, mas se enquadra perfeitamente).

3 — Parar com essa gentrificação com o seu torcedor

‘’O torcedor quer que o time vença, mas não quer ser sócio’’.

Sua desgraça, você foi ao mercado esses dias? Com duzentos reais, você sai com apenas duas sacolas (e até o saco plástico tem que levar de casa senão tem que pagar). O brasileiro está chamando ovo de carne já fazem dois anos. Se antes da pandemia esse processo de gentrificação com o torcedor já era um erro grotesco, imagine agora. Mas, quando chega na hora da cobra fumar, abaixam preço de ingresso pra chamar o torcedor não-sócio, né?

Aí, você pensa: — Eles aprenderam, não é possível.

Guto, no vídeo em que anuncia sua renovação de contrato, foi orientado a enaltecer o associado. Embora, para sermos justos, a abordagem do discurso seja a de pedir para que esta parcela mantenha sua associação, pois, o clube irá ter uma queda substancial de recursos financeiros, esse tema já gerou muito desgaste. Parece que a visão do clube é de que o torcedor não-sócio tem menos sentimento que o sócio. Apenas constrange o torcedor, não convoca ninguém.

E outra, o Bahia usa a chantagem de ‘’se associe para que a gente tenha resultado’’, aí revisitamos 2019, quando estávamos com 45 mil sócios. Sabe o que aconteceu? Fumo.

Mais uma vez: menos conversa, mais trabalho. Mais resultado.

4 — Lugar de dirigente (e seus asseclas) não é no vestiário

Os vídeos de bastidores do Bahia, mesmo com tanta edição, com tanto corte, ainda revelam muita coisa sobre como é trabalhar no Bahia, sobre o ambiente. Os bastidores saem quando ocorre um triunfo do time, ou seja, a hora boa. Aí estão lá no vestiário: jogadores, comissão técnica, funcionários, presidente, vice-presidente, diretor de futebol, gerente, pirus, filhos de dirigentes, cachorro, gato, papagaio, cágados, menino perdido sem camisa chorando, mãe procurando o mancebo, Wally, o cadeirudo da novela A indomada, o assassino de Odette Rottman, Paulo Guedes, Dexter, Julius, a torcida do Chivas toda, Jaiminho carteiro, etc.

NÃÃÃÃÃÃÃÃO, CHEGA DISSO. Alguém já viu o vestiário de time campeão assim desse jeito? Imagine como deve ser esse vestiário na derrota?

Vestiário é para jogador e comissão técnica. Esse momento é de dar o papo reto deles, entre eles e para eles. Não tem vantagem nenhuma dirigente no vestiário: se só ir lá quando vence, quando perder todo mundo vai perceber que vocês só querem se aparecer, se os dirigentes aparecem lá na derrota, limitam o calor da cobrança interna dos próprios jogadores (ninguém vai botar o dedo na cara de ninguém na frente do patrão). Lugar de dirigente é no escritório angariando recursos para investir no time. A única situação em que a presença de um presidente no vestiário seja aceitável é pra mostrar o envelope do bicho. Ponham-se nos seus lugares.

5 — Cobrar resultados

No filme ‘’The Godfather’’, toda vez que o Don Corleone deixa que seus inimigos notem suas fraquezas, alguém tenta matá-lo. Isso ocorria justamente quando seus comandados falhavam. Presidente, você é o responsável pelo clube, pelos funcionários, jogadores. Pelo Bahia. É preciso ser duro quando necessário. Não dá para o time bater fofo tantas vezes e os jogadores ficarem achando que o Bahia é brincadeira. Decisão difícil tem que ser tomada rapidamente, se postergar, gangrena. O Bahia caiu também por isso. Muita maré mansa. Só que como vão cobrar resultados se são amiguinhos dos caras?. Primeira mudança é entender que jogador é funcionário, esquece esse negócio de muito carinho. Declaração de amor para jogador é salário em dias e premiações acordadas pagas no prazo. Poucas.

6 — Mantenham-se humildes

‘’A nossa posição no campeonato mostra pelo que estamos brigando’’.

Quando esse beócio disse essa asneira, todo mundo chamava atenção que esse time iria abrir o bico. Torcida, imprensa, até o técnico nesta altura clamava por um fortalecimento no elenco. Mas, os bonitos estavam achando tudo lindo e teimaram. Humildade. Tem que ouvir quem te critica, sobretudo o torcedor. Se ficar dando ouvidos só aos puxa-saco, pelegos e pirus que ganham dinheiro as custas do Bahia, não vai subir e vai perigar virar o vice.

 

Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia

7 — Faça só o seu, chega de querer entrar em guerra pelos outros

Sinto ataque de gastrite toda vez que o presidente do Bahia deixa de trabalhar em prol do clube pra ficar entrando em guerra dos outros. Exemplo: Brigar com a Globo pra estar do lado do Flamengo num guerra onde passa alguns dias, o staff rubro-negro marca uma reunião num restaurante chique com o pessoal da emissora, se acertam e o Bahia fica com o c* na seringa. Ou quando foram lá na Turner pedir pra aumentar o dinheiro do Fortaleza e os caras meteram time reserva contra um concorrente do Bahia e depois jogaram pra pirão contra o Bahia pra pisar na cabeça. E a pataquada com a CBF porque Gaciba tava mafiando o campeonato, quantos pontos o Bahia perdeu em represália?

Sabe como soa quando o presidente deixa o Bahia em segundo plano pra brigar pelos outros? Que o Bahia é um acessório.

Só que no final de tudo, quem toma a punição é o clube e o prezado fica de boa.

8 — Pesquisa é bom, todo mundo gosta e antecipa tendências

O Bahia contratou um treinador estrangeiro pra descobrir um mês depois como era o treinamento do cara. Precisou perder um monte de pontos, jogador contundir, pra eles descobrirem que o técnico gosta mais de treino físico que técnico. No meio da temporada. Emocionaram-se com o Fortaleza. Isso é de um amadorismo grosseiro.

Isso foi só um exemplo. E jogador que vem pra cá com problema de sobrepeso? E jogador que tem 4 anos sem jogar nada e vem pra substituir ninguém menos que Gregore? E atleta que já tinha fama de desagregador que o clube pagou uma fortuna pra trazer e depois teve que emprestar (e agora nem isso mais vai conseguir)?

Tem que haver seleção. Isso aí não é Brasfoot que se olha o nome e a força e contrata.

 

Foto: Kely Pereira/Estadão Conteúdo

9 — Divisão de base é coisa séria

É um tal de demite técnico, manda uma carreta embora, contrata outra, muda dirigente. Um ciclo vicioso, todo ano reformula, nunca dá certo. E esse sub-23 que contrata uma centena de atletas e aproveita dois?

Bizarro.

10 — Perfil

Que tipo de time você quer ter? Como você quer que seu time jogue? Que tipo de técnico o Bahia precisa ter? Qual a identidade do clube? O que a torcida gosta de ver em campo? Que tipo de personalidade o jogador precisa ter pra jogar no Bahia?

Esse rebaixamento do Bahia não foi hoje. Vem se desenhando desde 2019. E talvez o maior motivo seja esse, parece que as decisões no que tange o futebol são tomadas aleatoriamente. Desde a derrocada do segundo turno de 2019 que tá essa bagunça. Tentaram formar um time mais protagonista com a bola em 2020, não deu certo, com as mesmas peças e um técnico diferente tentaram retornar ao perfil mais reativo, aí depois volta pra um técnico com perfil mais propositivo, muda pra um estrangeiro que gosta de um time físico e direto. Atualmente, temos um técnico mais pragmático. Isso com as mesmas peças. Se tem que haver seleção sobre a personalidade dos atletas do elenco, mais importante ainda é consolidar um modelo de jogo pro clube, com um técnico que atenda, caso precise mudar, que venha um substituto numa mesma linha, com atletas que possuam capacidades físicas, técnicas e táticas para jogar bem naquele modelo de jogo.

O futebol fez de tudo para o Bahia não cair, deu várias chances, a bola gosta desse time, desse clube, dessa torcida, mas tem limite. Ele não leva desaforo pra casa. E não gosta de arrogância e nem de teimosia, isso aí, o futebol castiga sem pestanejar. Que sirva de lição.

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