Dizia o filósofo que o homem é um animal político, e uma vez fora da pólis, ou da comunidade, ele seria ou um ermitão genial ou o “menino do Acre”… de qualquer maneira, a vida organizada em sociedade é parte da natureza humana.
Organizar-se em grupos de interesses afins sempre pautou as relações sociais em toda a história da humanidade. É assim no condomínio, no clube de mães, no conselho comunitário, no sindicato, na maçonaria, no partido político, na galera do bairro… e, ultimamente, nos grupos de aplicativos de mensagens instantâneas e nas redes sociais.
Nada surpreendente que, com a abertura política do Esporte Clube Bahia, tenha havido uma proliferação de grupos, siglas, “partidos” ou “organizações criminosas” (sic! sic! sic! – nas palavras de um então pré-candidato a referir-se a grupo oponente) visando seja o poder, seja “mudar o mundo” tricolor, seja fazer valer seu ponto de vista futebolístico, empresarial e gerencial no nosso clube. Bem verdade, para o clube, as siglas não existem. O que existe de fato são as chapas que concorrem à Diretoria Executiva e ao Conselho Deliberativo a cada eleição; e os grupos organizados são formas de agregar pensamentos semelhantes num único CNPJ visando atuação dentro de tais chapas.
Ingenuidade achar que, pelo fato do EC Bahia ser uma instituição esportiva e cultural de largo e amplo alcance na sociedade baiana, que o clube é totalmente asséptico à política partidária governamental. Esta, logicamente, sempre rondará clubes de futebol de massa, quando candidatos a cargos eletivos buscarão bases políticas-eleitorais dentre seus torcedores. Basta recordar que dois ex-presidentes do Tricolor fizeram carreira nos palácios, plenários e tribunas de Salvador e da nossa Bahia, impulsionados por um imenso potencial de voto que é este fenômeno futebolístico do Nordeste. Ingenuidade, também, é achar que poder econômico e social não interferem, ainda mais na Era das Arenas, onde, do alto dos láunjes, pessoas cochicham e confabulam junto aos amigos contra seus inimigos políticos.
Sem mais rodeios, na semana passada foi dada a largada para mais uma eleição, a terceira da Era Democrática e a segunda com bate-chapa real. As opções estão aí, variando entre aquele candidato popularesco, que fala o que o torcedor mediano quer ouvir (cujo principal slogan é “contrata que a torcida paga”); e aquele candidato elitista, cheio dos jargões empresariais, prometendo, seja por OBZ, balanced scorecards ou coisa do tipo, títulos, pacotes promocionais, programas de sócios e “times competitivos”.
Dentre as chapas postulantes, uma delas chama atenção: composta por um secretário municipal de governo, cujo alcaide-em-chefe, abertamente, almeja conquistar o comando do Executivo Estadual, talvez em 2018. Tanto prefeito como secretário são notórios torcedores do Bahia, ok, mas o que causa estranheza é a indicação de uma pessoa que, certamente, não tem a menor credibilidade no meio esportivo, lançado, tão somente, sob a égide de “excelente gestor público”.
Conhecendo a história do grande [político] avô do pequenino prefeito, poderíamos imaginar que a conquista de um nicho tão interessante quanto a torcida do Bahia, aliada à recuperação da credibilidade de sua dinastia política – impulsionada pela elogiada administração do rapazola à frente da nossa capital – não deixa de nos causar uma invasão retroauricular de Siphonaptera.
O que ocorreu nos bastidores para que essa composição fosse levada a cabo, talvez nunca saberemos de fato. O que se sabe, a bem da verdade, é que o grupo vigente no poder, de jovens independentes que contribuiram para que o processo de democracia fosse consolidado no Bahia (sem prejuízo da atuação de grupos mais antigos), retrocedeu e cedeu às pressões político-partidárias vigentes, enterrando, talvez, o sonho de um clube autossuficiente em termos da sua condução pela própria torcida. Some-se a retirada sorrateira do Presidente Mídia do cenário: um dia saído dos rodapés de página dos jornais diretamente para o cargo mais importante da Bahia depois do governador do Estado.
Pode ser que esta chapa vença, pode ser que não: muita água há de rolar. Não devemos demonizar ou criminalizar a política nem as composições dos grupos que aspiram ao comando do Bahia, decerto formados por torcedores apaixonados. Contudo, esperamos que o sócio-eleitor fique atento a quaisquer manobras no sentido de tornar nosso clube um comitê eleitoral, no qual grandes resultados são conquistados dentro e fora de campo quando conveniente; e depois o preço a ser pago pela torcida poderá ser alto demais.
Para não dizer que não falei de Laranjeiras, bom resultado do Bahia no Rio de Janeiro, considerando o objetivo de sempre do clube que comemora não-quedas como se não houvesse depois de amanhã. Com mais uns dois triunfos, poderemos respirar aliviados. E que, em dezembro, o melhor candidato vença e faça do Bahia o clube que queremos.
Saudações Tricolores!
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