Addio Angelo Gabriel

Tenho pelo presidente do Bahia, Marcelo Filho, um apreço e consideração enormes. É um ser humano que ultrapassa a média pelos seus atos de dignidade com as pessoas que dele se aproximam. Costumo dizer que o Bahia me deu muitos amigos, e dentre esses está o seu presidente, amizade da qual não abro mão e nem deveria, até pelo respeito e atenção que ele tem por mim e eu por ele na mesma intensidade.

Apesar de tudo isso, e me valendo do histórico de cerca de oito anos escrevendo no ecbahia.com, cerca de 300 colunas, sem jamais ter criado área de atrito com quer que seja e, usando sempre a minha principal arma que é a independência e a busca pela sensatez em tudo que faço na vida, nesta ocasião me dou o direito de opinar sobre a negociação entre Bahia e Flamengo, envolvendo Gabriel, achando-a de uma infelicidade sem precedentes.

Primeiro porque, se neste ano foi implantada uma filosofia de “prestígio à prata da casa”, se condições não existem de contratar jogadores de capacidade técnica reconhecida nacional e internacionalmente devido à concorrência absolutamente desigual, como então se desfazer da principal revelação do Bahia nos últimos 20 anos? Poderia o Presidente ter adiado a saída de Gabriel por mais um ano, certamente bem mais valorizado.

Tudo bem, vamos lá que as apostas estão voltadas para as categorias das divisões de Base, e nesse meio outro Gabriel esteja no ponto da flecha no arco para ser lançado ao sucesso, mas o termo “aposta” já diz tudo: pode ou não dar certo. Então se faz necessário que aquilo que já se tem garantido como base de uma nova filosofia de trabalho não seja desfeito da forma como foi, sem criar consequentemente recursos para tentar uma reposição.

O que fiquei sabendo é que o valor da venda foi de 2,2 milhões de euros divididos em cinco vezes… E aí, como entender um negócio desses sendo benéfico para o Bahia? Menos mal se a intenção for descontar no mercado financeiro todos os títulos inerentes à venda do jogador. Menos mal se os 50% que o Flamengo comprou foi dos 70% pertencentes ao Bahia…

– Em caso contrário, quem saiu ganhando nessa transação foi o Flamengo, pois, de acordo com o planejamento para 2013, o investimento será em cima das revelações dos clubes que estão de “pires na mão” Brasil afora, e os cariocas já encontraram o primeiro, é o que parece.

Não é que o Flamengo esteja nadando em dinheiro, pelo contrário, mas pelo fato de ser a marca que é, com um poderio midiático assombroso, os investidores aparecem e apostam na certeza dos melhores negócios, e Gabriel, convenhamos, já foi um excelente negócio na saída da bola… Agora, terão a paciência necessária para esperar um ano ou dois, no máximo, e vende-lo pelo preço de mercado internacional.

Ao Bahia, resta a esperança de que o Flamengo transforme Gabriel num superman show-ball e apareça um Paris Saint-Germain versão Árabe e o leve por 110 milhões… O Bahia, se tiver 20%, pegaria a bagatela de 22 milhões e só então o negócio ficaria razoável… Mas quando? Nem o Flamengo é o São Paulo e nem Gabriel é o Lucas – quando o cavalo do Saint-Germain passou selado pelo Brasil, o São Paulo montou.

– “Não quero nem saber se o salário está atrasado, nunca perguntei por isso, quero é estar dentro de campo jogando e ajudando”.

É esse comportamento que aprecio no jogador e que vejo como comprometimento e alegria de jogar no clube que ama e que o revelou para o futebol. Ele entende que em primeiro lugar está o clube. Ainda tem jogadores assim, a maioria oriunda da Base é assim… Mas, infelizmente, o planejamento dos clubes nordestinos é frágil e de uma pobreza ímpar. Veja que o Flamengo quer se fortalecer construindo um time para médio e longo prazo, e os nossos clubes, o que pretendem mesmo?

O presidente do Bahia deveria dificultar a negociação impondo a lei do mercado, ou seja, se você quer pague o preço. Provavelmente desistiriam, pois o que eles querem é bolacha quebrada e no final deste ano o Bahia poderia vender o jogador numa outra condição de mercado usando a premissa da lei de oferta e procura, mas o negócio já estava fechado, pelo que pude entender.

Agora é torcer pela garotada que está aqui incorporada ao elenco profissional e por aquele time que está fazendo uma Copa São Paulo digna de todas as nossas esperanças. Isto é: se Gabriel saiu deixando o legado do aprendizado de paciência e o exemplo de como não mais se fazer péssimos negócios.

Il fatto è che il sorriso di Gabriel giunge al termine per i fan tricolore – traduzindo do italiano para o português: O fato é que o sorriso de Gabriel chegou ao fim para a torcida tricolor.