Dinheiro é bom e todo mundo gosta, todo mundo quer – afinal, vivemos numa sociedade capitalista. Até o advogado que defende um ex-presidente de clube de futebol nos superiores tribunais da vida – homem que cria uma vasta barba em homenagem ao ídolo-mor do comunismo – é um capitalista nato, empreendedor com atuação em vários ramos… normal e natural em se tratando de um mundo que o fantasmagórico barbudo de Cuba insiste em negar…
Dinheiro compra comida, compra casa, compra terras… compra consciências, compra corpos… só não compra almas porque estas [ainda] não são bens materiais ou materializados.
Até a verdade, relativa que é, pode ser comprada por tostões, redefinida e vendida por milhões: os mesmos fatos contados numa roupagem sob as medidas prediletas de quem os compra.
A imprensa, chamada de Quarto Poder, dá o devido tratamento aos fatos e estes, contextualmente, podem virar estas ou aquelas verdades. Um dia, um determinado fato foi divulgado de modo a derrubar um presidente da República. Outro dia, fatos semelhantes ao retrocitado nem arranharam a imagem de outro presidente da nação brasileira… os fatos também podem ser digeridos desta ou daquela forma a depender do estômago de quem os consome.
Não sou profissional de imprensa, mas pela pouca vivência que tenho neste assunto, sei que todo meio de comunicação tem sua linha editorial, porquanto possui de certa forma uma opinião. O dever de informar encontra-se frente-a-frente com a tendenciosidade (muitas vezes natural) da opinião, numa fronteira tênue e flexível a qual por vezes perpassa os limites do sistema ético da mediana da sociedade em geral. Às vezes, a opinião é mais palatável para certos estratos sociais em detrimento de outros, atendendo aos anseios de múltiplos interesses que variam entre grandes conglomerados empresariais a pequenos grupos articulados.
Fato notório é que o esporte, notadamente o futebol, não deixa de gravitar em torno de alguns destes interesses. Não sejamos ingênuos de imaginar que o mercado muitas vezes impõe ídolos, fabrica santos de barro oco ou fabrica/destroi reputações em impressionante velocidade. Tudo depende de qual deus é agraciado. Aos chamados articulistas independentes, a luta hercúlea diária contra as forças ocultas, variando entre o amor incondicional ou o ódio visceral de segmentos da sua assistência a depender do assunto tratado.
Num Estado como a Bahia, possuidor de clubes de mentalidade pequena, dá para imaginar como é a mediana dos formadores de opinião deste Estado. Uma imprensa plural, independente e livre é o primeiro passo para indagações, questionamentos e, consequentemente, mudanças. O bom jornalista, radialista ou coisa que o valha sabe que não se pode escrever apenas para o Rei, sabe que por vezes é preciso desnudá-lo e até oferecer-lhe novas propostas de vestimentas…
Mas neste mesmo Estado, futebolisticamente falando, tudo vai “bem”: os abnegados continuam abnegados, iluminados e agraciados por Jeová com o dom da Suprema Competência; e o torcedor continua tendo seus sonhos literalmente negados por pessoas que se valem ou valeram do esporte para alavancar negócios pessoais, angariar fama, clientes, leitores, telespectadores ou ouvintes. É comum apontar determinado fulano nas ruas e dizer “ele é isso no Bahia” ou “ele é aquilo no Canabrava”. O esporte, por seu apelo popular, de fato abre muitas portas, inclusive pode abrir portas para profissionais que hoje ocupam cargos no nosso clube – se for única e exclusivamente pela competência, nada contra…
Vive-se de escândalos nesta Bahia, e os programas popularescos estão aí que não me deixam mentir. Seguindo a mesma linha destes dog-world-shows, a crônica esportiva adota estilos semelhantes, com suas “bombas” tão devastadoras como um adrianino defeituoso – queimam quem solta, o “alvo” e quem estiver por perto…
Enfim, dos quinze, dezesseis anos de dinastia familiar no Esporte Clube Bahia, pouco se ouviu, viu ou leu algo que desabonasse o grupo que levou o clube à Série C e dilapidou (segundo a Justiça) de forma irresponsavelmente pródiga, o patrimônio do Clube. As poucas vozes que se insurgiram contra este estado-de-coisas foram escanteadas de alguma forma, fosse através de intimidações diretas ou indiretas. Pululavam processos judiciais, à mancheia, contra quem ousasse contestar a divindade de certos dirigentes.
Eu não botei fé: achava que era bravata, mas agora está aposto em papeis o que sempre foi tratado como tabu: sim, existem benesses em favor de profissionais de imprensa por parte de clubes de futebol.
Que benesses seriam estas e em que condições? Não tenho, no momento, a segurança jurídica necessária para fazer ilações ou inferências a respeito, mas é no mínimo estranho que um clube pague viagens para pessoas as quais deveriam lhe fazer críticas.
Da mesma forma, é estranho demais que se gaste tanto com jantares, bebedeiras e outros rega-bofes com a participação destas mesmas pessoas.
Sim, empresas promovem jantares com clientes, fornecedores e afins… mas o crítico sendo frequente convidado do criticado é sempre estranho.
Sim, rádios recebem verbas de empresários da música para tocar “as mais pedidas”… existe o dial para mudar de estação e banda predileta a gente tem uma hoje e outra amanhã; mas quando a gente fala de paixão, do clube de futebol enquanto identidade cultural-esportiva (ainda mais quando existe um quadro social cotizando este clube), a coisa toma contornos mais sérios e mais graves.
Alguma surpresa? Nenhuma em senso lato. Apenas a surpresa em ver pela primeira vez o que todos desconfiavam ser discutido de forma tão escancarada.
O futebol baiano, certamente, não será mais o mesmo depois disso. Mesmo que o “sistema se reinvente”, como diria o personagem Capitão Nascimento, muita coisa vai mudar. E o torcedor saberá mais e mais quem é quem neste jogo. Aprenderá inclusive a sintonizar certas rádios e TVs, ler determinados meios impressos e acreditar (ou não) em certos apresentadores ou articulistas…
A gravidade do tema nos faz esquecer, momentaneamente, do “caminhão” de jogadores, dos desentendimentos administrativos intraclube, dos resultados pífios (até agora) dentro de campo e até de uma inédita regularização das folhas de pagamento do clube… por sinal, este último fato me leva a crer que, pelo menos, existe algum sentimento de lisura e transparência dentre os novos gestores do Bahia da Torcida.
Adeus, carne seca! Nesta terra ninguém é totalmente inocente! Pânico em SP ou na ABCD?!
Saudações Tricolores!
comentários
Aviso: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do ecbahia.com.
É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral, os bons costumes ou direitos de terceiros.
O ecbahia.com poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios
impostos neste aviso ou que estejam fora do tema proposto.