A cultura da violência existe e não há como negar sua existência. O assassinato aleatório de pessoas que vestem, por acaso, cores contrárias a de outrem, é um precedente mais do que perigoso, que extrapola quaisquer rótulos que possam ser dados às torcidas organizadas.
Não é a primeira vez que acontece esse tipo de “faxina étnica” futebolística em Salvador. Há cerca de dez anos, homicídios e tentativas de homicídio contra alvos aleatórios vem ocorrendo, e a sociedade insiste e persiste em culpar as agremiações organizadas pelo feito, criminalizando as mesmas.
Não que as organizadas devam ser isentas de culpa. Na gênese da barbárie futebolística, é notório que a descentralização dos seus “comandos” aproximou o crime do simples ato de torcer por um clube. E este fenômeno, obviamente, não é restrito à cidade de Salvador e região.
Em Goiânia, recentemente, um adolescente foi barbaramente espancado dentro de um coletivo ao retornar de uma prova do ENEM, simplesmente, por vestir uma camisa de cor contrária ao time dos seus agressores. Nessa capital do Centro-Oeste, o tráfico se fundiu às torcidas organizadas, que marcam duelos em terminais de ônibus e aterrorizam a população.
Junto à banalização da violência no Brasil, fenômeno marcado por certa deterioração social e de valores morais e coletivos, o fenômeno do hooliganismo, da violência pela violência associada ao futebol, chega às praças brasileiras. Ao contrário de países europeus, onde a rivalidade se mistura com política e religião em alguns casos, no Brasil e na Bahia é marcada pela intolerância e ódio puros e simples.
A violência nos estádios baianos é problema social e de segurança pública, e as organizadas não são a sua única causa. É preciso investir em inteligência e ampliar a segurança jurídica, fazendo valer todo o rigor da lei aos infratores, inclusive com penas mais pesadas, qualificadores bem aplicados, tolerância zero e afastamento definitivo dos criminosos de qualquer atividade esportiva.
Aos promotores, do alto de seus ternos engomados e no ar refrigerado de seus gabinetes, cumpre compreender o fenômeno presente e agir com foco e energia, antes que seja tarde demais.
Afastar os contrários dos estádios é cômodo, e transfere a violência para bairros distantes e suas vielas, longe dos olhos dos formadores de opinião, onde os que perecem viram apenas mais um número do crime, numa cidade escangalhada pela falência das instituições sociais com grave reflexo na segurança pública.
Saudações Tricolores!
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