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Publicada em 23 de abril de 2013 às 00:00 por Vladimir Costa

Vladimir Costa

Alma, espírito e testículos

Sem pretensão de criar um artigo religioso, permitam-me definir alma conforme o conceito da bíblia: trata-se do próprio ser vivente, que nasce e morre, como podemos ver no livro de Levítico 22:3 ou 1 Coríntios 15:45. O conceito comum no nosso português é que uma pessoa sem alma é insensível, indiferente, sem coração.

Espírito, mais uma vez recorrendo apenas à bíblia, mas sem querer ser gerador de discussões religiosas, pode ser definido como o fôlego de vida que Deus, Javé ou Jeová nos deu, assim como também a todo ser vivente, conforme Eclesiastes 3:19-21 onde observamos que assim como o espírito do homem, o dos animais também retorna ao pó. Em nossa língua-mãe, espírito pode ter a conotação semelhante a alma, qualificando a pessoa como boa ou ruim, frouxa ou valente etc, daí temos expressões tais como boa alma, espírito de vencedor, espírito de porco…

E testículos, conforme meu velho pai, é “cuião”, aquilo que torna o macho capaz de se reproduzir e que define muito a personalidade dessa alma, seja ela um homem ou um shitzu.

Um macho sem testículos é incapaz de se reproduzir naturalmente, em muitas espécies o tamanho e mesmo a cor do saco escrotal é determinante na escolha dos melhores reprodutores e determinação do macho alfa no bando. Aliás, quem já castrou seu cãozinho percebe como o temperamento do animal muda depois que lhe são extirpados seus “ovinhos”.

Mas o que esse ensaio sobre a macheza tem a ver com o Bahia? Simples: o Bahia foi emasculado, capado, castrado, arrancaram-lhe o escroto, o pênis e a próstata, já começou a engordar e a falar fino como os castrati da idade antiga.

Quem conheceu o Bahia dos anos 60-80, principalmente, sabe do que falo. Falta de estrutura, alimentação adequada e dinheiro são problemas desde o retorno de Zuza Ferreira a Salvador. A diferença de orçamentos com relação aos times do Rio e de São Paulo, principalmente, sempre existiu, a torcida sempre pegou no pé de jogadores das divisões inferiores e nunca apoiou o time do começo ao fim dos jogos (exceção feita à meia dúzia de torcedores de algumas organizadas).

Cobertura da imprensa de fora era um luxo e mesmo assim sempre tratado o Bahia como um bicho exótico e cheio de misticismo; a imprensa regional também não era muito diferente da de hoje, afinal muitos deles ainda estão com a bocarra diante dos microfones e teclados do rádio, jornal e TV.

Infelizmente, a única coisa que mudou foi a alma, o espírito do clube. O processo foi lento, começou com a persistência num modelo ultrapassado de gestão: dependência quase exclusiva da renda dos jogos e das cotas de TV, afastamento total do sócio das dependências do clube, abdução da cadeira de presidente por um grupo só, arrogância dos dirigentes e incompetência administrativa com o sucateamento do patrimônio do clube, negociações desesperadas de jogadores da base e contratação de jogadores de qualidade, e comprometimento duvidosos a granel. Somem a isso o fato do rival ter melhorado sensivelmente e temos um Bahia castrado.

Os sinais começaram ainda no final da década de 1980. Péssimas campanhas nos brasileiros de 89, 91, 92, 93, 95 e 96 culminaram no rebaixamento de 97. Nesse ano histórico para o clube e sua torcida, foi iniciada a dinastia Guimarães e os anos mais tenebrosos da história do Tricolor de Aço. Já em 98, após a conquista do Baiano dentro do estádio rival, o time começou a mostrar a falta que culhões faz num antigo macho-alfa: quinto lugar num grupo de seis e eliminação precoce na primeira fase da Série B. Em 99, a falta de testosterona na diretoria se materializou por uma tentativa ridícula de tirar o mando de campo do rival na final do Baiano, causando a ridícula e frouxa divisão do título daquele ano.

Ainda em 99, mais dois exemplos do time de castrati: no Nordestão, perdemos o título para o mesmo rival do Baiano, no mesmo estádio que, semanas antes, não era apto a receber a final do Estadual. No segundo semestre, bela campanha nas fases preliminares da Série B, até que se chegou a hora da onça beber água ou de se colocar o bingulim na mesa e os “desbingulinizados da Ribeira” não tinham o que apresentar.

Como resultado, o Bahia de Joel, Marcelo Guimarães, Roberto Passos, Ruy Acyoly (nunca soube onde deveria colocar os “Y” no nome desse cavalheiro) não foi macho o suficiente para vencer o Goiás numa Fonte Nova entupida de torcedores tricolores que tentaram apoiar o time durante toda a partida, mas, diante do que via, começaram a vaiar o time de Uéslei e Alex Guimarães. Ficamos em terceiro no quadrangular que classificava dois clubes para a primeira divisão do ano seguinte. Não restava dúvida que o espírito de vencedor do clube estava desaparecendo. Cheio de jogadores sem vínculo afetivo com o clube, sua tradição e torcida, podemos dizer que o Bahia já naquela época era um time desalmado.

Nada que uma carona na virada de mesa que beneficiou o Fluminense não resolvesse. Dopado pela última grande falcatrua dos grandes clubes e da CBF, o time da famiglia Guimarães conseguiu fazer dois bons nacionais em 2000 e 2001, vencer um Baiano com as calças na mão em 2001 e dois Campeonatos do Nordeste, em 2001 e 2002. Mas a injeção de testosterona começou a perder efeito ainda naquele ano de 2002.

Mas tratarei dos anos 2000 até os tempos atuais no próximo artigo, juntamente com uma observação sobre as mudanças na nossa torcida.

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