Bons jogadores em baixa

O Bahia não vai conseguir contratar um craque no auge. Ninguém tem essa ilusão, espero eu. Não vamos contratar jogadores em ascensão como Bernard, Lucas ou Bruno Mendes. Tampouco, craques consagrados e em boa forma, como Ronaldinho, Seedorf ou Fred. Nem mesmo jogadores selecionáveis, ainda que em baixa, como Robinho, Diego ou Pato.

Mas, tampouco, o Bahia deve ser pouso turístico para “craques” ou jogadores de seleção de dez anos atrás. A tara de Angioni por medalhões com brilho ofuscado há muitos anos tem que ter acabado, para o bem do Bahia. Chega de tentativas em jogadores como Ricardinho, Kleberson, Carlos Alberto, Zé Roberto, Fabinho e que tais.

Por outro lado, também ninguém quer receber aqui o último goleador da Série C do Carioca ou a revelação da base do Vasco que não foi aproveitada por 3 anos seguidos. Dá pra arriscar com esse tipo de jogador? Uma ou outra vez, sim. Mas não fazer disso uma política de contratações.

Um tipo de jogador que, a meu ver, o Bahia tem condições de tentar e que pode dar certo é alguém com comprovada qualidade, mas que está num período recente de baixa. Eu disse recente! Dez anos atrás não é recente.

Nessa categoria de jogador, vejo alguns nomes no mercado brasileiro. Não faço a menor idéia de quanto eles ganham, mas para quem paga 200 conto pra Zé Roberto jogar essa bolinha quadrada…

Por exemplo, André, centroavante, aquele dos “meninos da Vila” de 2010. É do Atlético-MG, que o trouxe caro da Europa. Não deu muito certo, perdeu posição pra Jô. Foi emprestado pro Santos. Não deu certo também, acabou indo pro banco. Mas, é jovem e já mostrou faro de gol antes. Acho um reforço que pode dar muito certo (mas pode dar merda também e repetir a história de Ciro).

Outro nome que está em baixa e terminou o ano comendo banco é o de Borges, no Cruzeiro. Borges foi artilheiro em todos os times por onde passou e tenho certeza que cairia como uma luva no Bahia. O cara sabe fazer gol e isso está mais do que provado. Parece ser, atleticamente, muito mais dedicado e responsável que Souza. Esse pra mim é o centroavante ideal pra gente. E ainda é baiano, o que, de repente, poderia facilitar a vinda dele, uma vontade de retornar às raízes.

Mais um bom nome em baixa: Dátolo, do Inter. Argentino, é banco direto e, pelo limite de estrangeiros por jogo, várias vezes sequer é relacionado. Me parece muito um jogador disponível para ser negociado no Inter, e o Bahia podia sinalizar com um empréstimo. Pode ser o maestro do meio campo que nem Zé Roberto, nem Ricardinho, nem Carlos Alberto, nem Morais, nem ninguém jamais foi em nosso passado recente.

Aliás, o Inter (e o Corinthians) são times com elencos enormes e cheios de bons jogadores, alguns que certamente prefeririam jogar em outro lugar com destaque a comer banco nesses times.

Claro que o Bahia, sendo um time que não está no foco central da mídia do Brasil, muito menos do resto da América Latina, tem mais dificuldade de convencer esse tipo de jogador. Afinal, esse jogador ainda acredita muito no potencial dele e na condição de brigar por uma vaga. Contudo, o poder de convencimento do Bahia pode ser mais eficiente do que, aparentemente, tem sido. Temos uma torcida que comparece, que idolatra e que acaba, sim, gerando alguma repercussão. Aliar salário a prêmios por metas conquistadas pode ser mais uma alternativa.

Apresentar um projeto ambicioso, que envolva força pra disputar títulos.

Salvador é sede da Copa das Confederações e do Mundial. Haverá jogos importantes aqui. A cidade fará parte do noticiário e o Bahia precisa se aproveitar disso e surfar nessa onda.

O fato é que o Bahia carece de doses maiores de ousadia e criatividade para reforçar seu elenco. O que não dá mais pra aceitar é a estratégia já comprovadamente furada de apostar em medalhões de glórias já longínquas. Gosto da permanência de Angioni no cargo, sobretudo pra não dar brecha de voltarmos às eras do amadorismo nocivo. Mas não podemos estacionar numa era de camaradagens com empresários amigos ou sondagens preguiçosas. A hora de arregaçar as mangas é agora. Um Borges, certamente, não ganha um salário maior que a soma dos salários de Elias, Júnior, Cláudio Pitbull, Ciro e Jones Carioca. E, certamente, um Borges é um investimento melhor que esses 5 juntos, com sobras.