Salvador, 28 de agosto de 2025
Dificílimo, essa é a palavra para descrever o jogo entre Bahia e Fluminense numa noite de quinta-feira que acabou com o placar de 1 a 0 para o tricolor baiano, gol marcado pelo lateral Luciano Juba, o melhor do Brasil. Num raríssimo momento de desatenção defensiva do time carioca, o selecionável Jean Lucas encontrou Juba executando o movimento de ruptura e ataque à última linha de defesa, também conhecido como facão, num belíssimo lançamento a partir da cobrança rápida de uma falta no meio do campo. O nosso lateral/meia/atacante dominou magistralmente, driblou o defensor, que tentou acompanhá-lo e bateu firme, contando inclusive com o desvio do mesmo defensor para fechar o placar.
O jogo foi complicadíssimo, o Fluminense executou muito melhor sua proposta de jogo de travar o meio de campo do Bahia, encaixotar as saídas pelas laterais, tocar a bola no seu campo de defesa e intermediária para gastar tempo e ainda conseguiu criar muito perigo em suas decidas. O time carioca obrigou o suposto goleiro Ronaldo a praticar duas grandes defesas, marcou um gol a partir de escanteio que foi anulado pelo árbitro de vídeo em um impedimento ajustadíssimo numa jogada que é mais velha que a posição de levar o amigo do interior pro rio, a casquinha no primeiro pau para alguém completar pras redes no segundo. Ainda restou tempo para um penalty Mandrake apitado pelo perdido Raphael Claus e prontamente anulado em revisão ao VAR.
Corta para 10 de setembro, o jogo da volta. O tricolor das laranjeiras sagrou-se semifinalista ao eliminar o Penta -Único do futebol nordestino num jogo que teve 2 a 0 como números finais, gols marcados pelo rei dos Bárbios, Augustin Cannobio e pelo craque Thiago Silva. Dois gols de bola parada, é verdade: – um penalty bizarro cometido por Michel Araújo e uma cobrança de falta lateral, onde deixaram o melhor finalizador da partida livre para fazer o que já fez tantas vezes em sua grandiosa carreira que é marcar gols de cabeça. E a diferença brutal entre ambos os clubes ficou nitidamente clara.
Às vezes, no futebol ou nas artes marciais, ocorrem resultados injustos. Como numa luta de boxe onde um lutador passa o trator no outro por 10 rounds e recebe um mero jab de encontro na ponta do queixo e cai completamente desacordado, no futebol existem casos de equipes que fazem partidas abissalmente superiores ao seu adversário e num lance fortuito, na famigerada bola beba, levam o gol e saem derrotados. Definitivamente, a noite de ontem não foi um desses casos. Foi mais uma noite onde o resultado final foi o resultado justo. Na minha vida como amante do desporto, já vi equipes fazerem jogos de zero erro, mas ontem foi a primeira vez que eu vi um time realizar uma atuação zero acerto. O Bahia não acertou um passe importante, não fez uma finalização perigosa, nem sequer um drible interessante. O Bahia só passou do meio de campo em vinte e cinco ocasiões durante 98 minutos. Não existe outra palavra que descreva a atuação do Bahia que não seja vexame. Não pelo placar, mas sim pela partida.
E o que deixou tão nítida a diferença entre as equipes foi justamente o comportamento do Fluminense na Fonte Nova. Todas as equipes do Brasil estão sujeitas a ser derrotadas pelo Bahia em Salvador, todo mundo respeita o Bahia nos nossos domínios. Mas o Fluminense foi um pouco mais além naquela noite. Foi tempo ruim o tempo todo para o Bahia, um verdadeiro terror para conseguir vencê-los. Já o Bahia… seria melhor ter feito como o nosso ilustre e mentiroso rival e ter retirado seu time de campo. Não é possível sequer chamar o time de pipoqueiro, pois, para um time pipocar, é necessário perder um gol feito, um penalty, etc. O que o Bahia fez foi muito pior que isso, ele justificou o porquê que em todo o sorteio de confrontos pipocam vídeos de jornalistas em mesas redondas, influenciadores de clubes e demais contribuintes das blogosferas do futebol brasileiro, comemoram quando os times deles são sorteados pra enfrentar o Bahia. Daqui pra frente, eu espero nunca mais ver nenhum vídeo de resposta de youtubers e comentaristas do futebol baiano justificando como xenofobia as reações dessas pessoas. Ficou muito claro que, embora esses preconceitos existam, o motivo é que eles sabem que se classificarão porque, apesar de reconhecerem o bom time do Bahia, sabem que existe algo no futebol que transcende os jogadores e técnicos: – caráter esportivo.
O carácter esportivo de um clube define a sua essência e o seu foco na prática, desenvolvimento e promoção do desporto, abrangendo desde a formação de atletas e a organização de competições até ao desenvolvimento de uma cultura ética e de valores que influenciam o comportamento dos seus membros e o seu papel na sociedade. E podemos ver qual o caráter esportivo de um clube em momentos de decisões. É sobre a missão, visão e valores de um clube. E faz muito tempo que o Bahia não tem. Foi à décima eliminação do Bahia nesta mesma fase de Copa do Brasil. E essa foi a mais vergonhosa. O Bahia ontem não fez raiva, nem ódio, o que ele fez foi vergonha. Não existe nem a possibilidade de individualizar a crítica a algum jogador em específico ou ao técnico, todo o conjunto de organismos que compõem o Bahia esteve em completo estado de fiasco e vexame na noite passada. Nem situações como soltar uma bufa no ônibus lotado e se derrelar geram tanto constrangimento como assistir àquele espetáculo de horror.
E o pior de tudo é ter a certeza que, se fosse qualquer outro clube entre os 12 maiores do país na mesma situação de vantagem que o Bahia esteve ontem, teria se classificado. E me arrisco a dizer que até mesmo clubes menores que o Bahia, como Athletico, Sport, Goiás e Fortaleza teriam, no mínimo, uma atuação melhor. Inclusive com os mesmos atletas e treinador. Esse comportamento é algo muito maior que as pessoas. E só resta torcer para que esse trauma não afete os nossos heróis na disputa que nos resta de ficar entre os quatro pela primeira vez na história do clube desde que adotaram os pontos corridos como fórmula de disputa do Campeonato Brasileiro. Um trauma como esse pode ter consequências catastróficas, como o grupo de atletas eleger o cara de boné o culpado e punir a torcida com mais uma sequência de vexames, algo muito comum no nosso futebol. O que resta é torcer para que a falta de caráter seja apenas esportiva.
BBMP!






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