CBF, não toque em nosso Nordestão!

Hoje, a CBF tornou oficial um novo grande golpe no melhor e mais bem-sucedido campeonato regional do país: a Copa do Nordeste. Em anúncio de extensa reformulação no calendário do futebol brasileiro, a instituição anunciou que os clubes nordestinos classificados para as competições da CONMEBOL não participarão do Nordestão, já a partir de 2026.

Não é a primeira vez que a CBF atenta contra a Copa do Nordeste. Em 2003, ela extinguiu repentina e arbitrariamente a competição, dando origem a um litígio com a Liga do Nordeste que perduraria por anos a fio e, por fim, obrigaria a CBF a reincluir a competição em seu calendário.

Agora, a CBF não extingue a competição mais querida dos nordestinos, mas a fere com gravidade, ao esvaziá-la, privando-a de seus melhores times (seria dispensável explicar que os times que vão para as competições da CONMEBOL são precisamente os melhores colocados nas competições nacionais). Ademais, a medida soa como um ato preparatório para uma nova extinção, mais cedo ou mais tarde.

Essa medida anunciada pela CBF não pode vingar! Primeiramente porque a região Nordeste do país tem uma conexão identitária historicamente profunda, e este aspecto confere força e apelo à competição. O Nordeste e o povo nordestino merecem não apenas ter um campeonato para chamar de seu, como também merecem que esse campeonato seja prestigiado e fortalecido, não enfraquecido e empurrado para um novo fim melancólico.

Em segundo lugar, se algo tem de ser sacrificado para viabilizar o calendário da CBF, que sejam os deficitários e pouquíssimo atrativos campeonatos estaduais. A atratividade de qualquer campeonato estadual do Nordeste para os clubes e torcidas da região é muito menor que a do Nordestão, por razões óbvias: são campeonatos de baixíssimo nível técnico, disputados em estádios semiamadores e que dão prejuízo financeiro, principalmente para os clubes mais estruturados. 

Diante do exposto, em vez de excluir do Nordestão os clubes nordestinos que participam das competições da CONMEBOL, faria muito mais sentido que a CBF poupasse os maiores clubes do Nordeste da primeira fase dos deficitários estaduais. Sendo assim, os clubes nordestinos melhor classificados no ranking da CBF entrariam nos estaduais apenas nas suas respectivas fases finais, liberando várias datas do calendário dessas equipes e preservando a Copa do Nordeste em sua plenitude.

Aqui na Bahia, por exemplo, o Campeonato Baiano poderia ser disputado sem a presença de Bahia e Vitória na primeira fase, com seis equipes se classificando para as quartas-de-final, na qual se juntariam à dupla Bavi. E já há precedente histórico: em 2002, configuração similar foi adotada de forma bem-sucedida.

O arranjo que ora proponho é a melhor forma de conciliar os diversos interesses envolvidos neste caso: de um lado, os maiores clubes e torcidas do Nordeste poderão seguir desfrutando plenamente da melhor competição regional do país, sem uma esdrúxula exclusão dos participantes dos torneios da CONMEBOL, que pune injustamente tanto os melhores times e seus torcedores quanto o próprio Nordestão; de outro lado, as federações e clubes pequenos da região continuarão tendo os estaduais com a participação dos maiores clubes – sem os quais perdem a pouca atratividade que lhes resta -, alterando-se apenas a fase na qual eles entrarão na disputa.

O que definitivamente não é aceitável é que a CBF, com uma canetada imposta de cima para baixo, priorize os interesses das federações estaduais e de seus melancólicos campeonatos em detrimento dos interesses dos maiores clubes e torcidas de nossa região, que devem reagir com urgência, gritando em uníssono: CBF, não toque em nosso Nordestão!