Apesar do respeito que tenho pelo trabalho de Ceni e pela sua ética conduta profissional, não concordo com o seu pragmatismo em relação às condições meramente atléticas de um atleta – principalmente, quando se trata de estatura – para justificar uma improvisação em detrimento dos especialistas disponíveis com bons níveis técnicos, dos quais dispõe o treinador para cada posição. Respeito as convicções de Ceni porque fazer o que acha favorável ao Bahia é uma premissa sua como treinador, assim como fazer ouvidos de mercador é outra premissa que deve ser respeitada, afinal são milhares de técnicos que habitam a torcida Tricolor.
Entendo que são conceitos embasados no trabalho cotidiano, fora da visão pública, mas ainda assim não é o bastante para justificar improvisos supostamente desnecessários. O pior no contexto é como fica a condição mental do preterido em favor do improvisado. É por isso que os críticos não abaixam o tom em relação às estratégias do treinador quando tenta, por exemplo, Rezende de quarto zagueiro ou de lateral esquerdo, sendo que há jogadores de qualidade para as respectivas posições.
Luís Gustavo, egresso do Vasco da Gama, há 3 meses no Bahia, jamais estreou. Ruan Pablo, um jogador ambidestro, hábil, de muita força, que faz sucesso na Seleção Brasileira sub-17, comentado em jornais europeus e cobiçado por grandes clubes daquele Continente, ainda assim Rogério não oportuniza o menino devidamente. Dell, outra excelente promessa, centroavante da Seleção sub17 do Brasil que deveria ter oportunidades no time principal do Bahia, entretanto Rogério ainda não o acha pronto…
Só para fortalecer um raciocínio lógico sobre um passado não distante: há uma certa e obvia diferença técnica entre os times do Vitória e Confiança de Sergipe, claro, mas por acaso não foi o mesmo Confiança quem desclassificou o Vitória da Copa do Nordeste em pleno Barradão? Então, Sidney pode jogar como titular na decisão de um título de Copa do Nordeste, mas não pôde jogar o último Bavi, num jogo que nem era decisivo. São essas as incongruências do pragmatismo de Ceni, que respeito, mas não devo concordar.
É preciso sair da bolha e ousar muito mais, caro Rogério. Você pode encontrar o antídoto contra o medo da casa adversária mal-assombrada – só pode ser isso – através dos jogadores mais jovens que pedem passagem e podem ser os “exorcistas” que o Bahia necessita. As batalhas no campo do adversário precisam e devem de ser mais vitoriosas do que inglórias, principalmente nesse jogo fora de casa contra o Internacional, porque não trazer um saldo equilibrado na bagagem pode minar a confiança para se sustentar na tabela de classificação que dá passagem direta para a Libertadores.
Os fatos se sucedem e a frouxidão mental põe em dúvida até os profissionais da área de psicologia do clube. Os jogadores só precisam deixar de tentar explicar o que não tem explicação. É preciso ação. O torcedor já cansou de tanto ouvir “a gente sabia que ia ser difícil”, “agora é trabalhar para reverter isso” e outras esfarrapadas tentativas de subjugar a inteligência do torcedor. É verdade que o jogo em Belo Horizonte contra o Atlético foi atípico devido às costumeiras e insanas bizarrices dos árbitros do nosso futebol, mas o que chama atenção é a capacidade do Bahia de deixar que o vitimismo seja a estrela da companhia no lugar da força mental.
Tem de injetar sangue novo nesse Bahia, Rogério, porque o tempo vai passando, a concorrência encostando e esse time caseiro sempre dependente da torcida na Fonte Nova para ganhar por mirrados placares, na bacia das almas. As condições de trabalho que o Bahia entrega para o seu elenco são para fazer o time jogar sem sufoco e se impor diante dos adversários fora de Salvador, assim como faz o Mirassol, um time de folha salarial modesta, de uma cidade com apenas 65.000 habitantes e com alguns ex-jogadores do Bahia.
– Vivi para ver o Mirassol sendo exemplo de humildade, coragem, determinação, sabendo aonde quer chegar, mostrando em campo como se joga futebol solidário, apreciável, disciplinado taticamente e de boa qualidade técnica. Detalhe: o Mirassol não tem medo quando joga fora dos seus domínios, pelo contrário, joga o mesmo futebol que apresenta em casa. Voltando à cerne do texto, Não será fácil, mas espero que o Bahia justifique o time que joga na Fonte Nova neste sábado em Porto Alegre, contra o Inter, que a bem da verdade está no limite entre a luz e a escuridão.





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