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Publicada em 24 de julho de 2007 às 00:00 por Autor Genérico

Autor Genérico

Eufemismos e oxímoros

Tenho certo fascínio pelas palavras. Não necessariamente pelos sons delas, mas pelos significados que conduzem. Temos palavra para expressar quase tudo na vida. Quando, entretanto, nos deparamos com algumas sensações pouco precisas, tendemos a usar uma combinação de várias palavras para tentar traduzir o que é essencialmente vago e aí podemos só conseguir transformar esse vago em prolixo – exatamente como este parágrafo.

Não é mole se confessar em estado de confusão. Mas é como me sinto: confuso até a medula. Não sei dizer se o Bahia está bem ou mal nesse momento. Se está num caminho reto para o objetivo ou se ruma para a danação. Nessas circunstâncias, nós temos o recurso de usar as palavras não para esclarecer, mas para confundir. Então eu digo: o Bahia parece ter-se classificado para a desclassificação.

Esse jogo de palavras antagônicas, contraditórias, numa mesma sentença se chama oxímoro. É o mesmo que dizer “música silenciosa” ou “silêncio ensurdecedor”. Pode até ser poético, e os poetas usam os oxímoros à exaustão, mas no caso em questão é apenas desalentador.

A sensação que se tem é que já vimos esse filme antes; mais exatamente no ano passado. O time vai se classificando nessas fases preliminares em que se joga contra o ar atmosférico, sem convencer ninguém, exceto os dirigentes e o técnico da ocasião, que esfregam na nossa cara números que mostram um ilusório sucesso. Depois, lá na frente, quando o bicho pega de mil qualidades e maneiras, nos vemos tão desamparados e impotentes quanto os passageiros de um avião desgorvernado. Aí começo a ter pesadelos com o Ananindeua.

Não posso fazer crônicas de jogos que não vi. Entretanto é voz geral na imprensa que tem tido acesso a esses jogos iniciais do Bahia na Terceirona que, embora ganhando, estamos jogando muito mal. E, pior, não estamos conseguindo nos impor dentro de casa, nem mostrando qualquer padrão mínimo de jogo. Convenhamos que após uma pré-temporada de 45 dias já era para o técnico Arturzinho ter incorporado ao time alguma fluência no jogo e um mínimo desenho tático. Parece que não temos nem rascunho, quanto mais desenho.

Arturzinho culpa o desempenho individual dos jogadores por esse quadro tétrico! E eu me pergunto atônito: de quem será a responsabilidade pelos jogadores estarem errando tantos passes, cruzamentos, desarmes, conclusões a gol? Será que é culpa minha? Será que eu, torcedor, não estou conseguindo aplicar meus dons telepáticos ou telecinéticos para comandar o movimento dos jogadores do meu time? Ô diacho, afinal quem é que treina esse time? É possível que os jogadores andem resistentes a sentirem o dedo do treinador – não sei qual é o diâmetro do mesmo, mas os jogadores podem estar antevendo alguma conseqüência malfazeja ou, no mínimo, desconfortável frente a essa ação.

O fato é que há uma distância incomensurável entre o discurso e a prática em Arturzinho. Se ele, por um lado, consegue fazer excelentes leituras dos jogos e de algumas atuações dos jogadores, por outro, tem-se mostrado totalmente incapaz em interceder para alterar ou reverter aquilo que ele e todo o mundo sabe que não está indo bem. Depois da metáfora digital do parágrafo anterior, cabe aqui uma outra, só que manual: ele não tem o time na mão! O problema maior de Arturzinho é não reconhecer suas limitações e seus erros. E uma pessoa que se acha muito esperta, sem o ser verdadeiramente, é um arrogante, pedante, pretensioso e afetado. Essas palavras, na verdade, são eufemismos. Para esse caso, a galera nas arquibancadas costuma mesmo é chamar logo de burro.

Para o desempenho e atitudes de Nonato não tenho nem eufemismos nem oxímoros, pois até as palavras, que têm limites, decência e compostura, estão mortas de vergonha.

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