“Todos temos pressa”, me referi dessa forma ao Bahia na coluna da semana que passou. Mas é claro, pressa têm também as suas nuances catastróficas com tentáculos que alcançam a imperfeição. Acho que isso acontece com Paulo Carneiro no Bahia e ele acabou sacrificando o próprio estilo ao abrir mão das suas convicções, como deixa transparecer.
Talvez tenha ouvido demais e ousado pouco, e isto pode ter transcendido a sua compreensão pelo fato novo que ainda é o Bahia em sua vida. Paulo sabe perfeitamente que foi contratado para dar suporte, forte, ao futebol no Bahia, desde a reorganização da estrutura até um bom time de futebol, ainda neste ano.
A estrutura ele montou, deixando-a preparada ao ponto de suportar o projeto e sustentá-lo. Porém o time acabou não dando certo por falta de tempo e dinheiro, aliado a isso as dificuldades para encontrar jogador disposto a atuar na Segunda Divisão. Mesmo assim um time foi montado em “cima da perna” e esse pareceu, a todos, razoável…
Agora eu sei, seria importantíssimo ganhar o campeonato estadual. E ganharia sim, mas havia uma pedra no caminho do Bahia e de Paulo Carneiro: Gallo. Este quando se viu líder do campeonato resolveu fazer experiências na hora errada e desestabilizou o conjunto, e a seguir os próprios resultados fulminaram o emocional do time. Ah, mas foi Paulo quem o trouxe! Sim, e todos aprovaram. Gallo apenas começou muito bem e depois se perdeu.
Paulo Carneiro, em tese, trouxe um treinador supostamente ideal para aquele momento. Quis acelerar o processo atacando-o em todos os pontos cruciais. Só que tudo no Bahia tornou-se elementarmente crucial, o que deixa a gestão muito vulnerável, sujeito a duras críticas a cada fracasso em campo, e se o time não responde, então, Paulo Carneiro fica em cima do fio da navalha.
Imagino que Paulo tenha imaginado a grandeza de se tornar ídolo tricolor se tudo tivesse dado certo, culminando com o ganho do campeonato baiano e a classificação à Série A do brasileirão. Quem o seguraria?
Acho, inclusive, que o receio dos desafetos de Paulo na imprensa é justamente ele dar certo no Bahia, porque com o apoio da “massa tricolor” ninguém conseguiria segurá-lo, e nem ao Bahia. Mas ele vai perseguir esse objetivo com todas as forças que possui. Ele é daqueles que cresce quando é atacado. Obstinação não lhe falta, é inerente ao seu próprio caráter.
Aos que torcem pela queda de PC eu digo que ela não acontecerá. A diretoria, suponho, deve ter plena consciência da aposta que fez e da responsabilidade que seria vir a jogar todo um planejamento por terra. Agora vou mexer em casa de marimbondos… Seria um retrocesso inexplicável e irreparável a médio prazo, olhe lá, se Paulo Carneiro caísse.
Tenho certeza de que o presidente do Bahia sabe aonde quer chegar e como quer deixar o clube em 2011. Marcelo sabe que Paulo Carneiro será uma peça decididamente importante para que ele coloque seu nome na história tricolor com toda honra possível – espero que seja como o presidente que abriu o E.C. Bahia e o equacionou.
Aliás, presidente Marcelo, você precisa fazer esse processo andar, agora que a vaca já foi pro brejo, praticamente, protelar algo tão importante é atrasar muito o Bahia em 2010 com questões que podem e devem ser definidas agora. Porque não?
Mas continuemos: tudo foi feito dentro de um planejamento bem pensado com muita antecedência. Paulo chegou e todos queriam que o Bahia da sua gestão já desse certo de imediato, e a essa altura do campeonato já estivéssemos com a casa arrumada e o time classificado.
Torci muito para que acontecesse desfecho favorável aos sonhos dessa angustiada torcida da qual faço parte, que seria a classificação. Em tese, neste ano, o Bahia teria tudo pra subir, mas a prática está dizendo justamente o contrário.
Na verdade o Bahia vinha se sustentando em cima de uma estrutura absolutamente podre, nada funcionava certo – não é caça às bruxas – e isto foi um atraso muito decisivo.
Imagine você, leitor, o cidadão compra um sítio onde vai morar e também tirar dali o sustento, mas ali falta de tudo que é necessário para uma sobrevivência sofrível, onde até a dignidade está ferida. Não há cama, não há limpeza, as contas estão atrasadas, o local de trabalho é uma lástima, o almoço é um lanche, e mesmo assim você tem que arrumar tudo paralelamente e de mãos dadas com as dificuldades para não perder o controle da situação.
Pois é, assim estava o Bahia. Se subisse ano passado desceria neste. É uma questão lógica e uma equação prática, já vivida pelo próprio Bahia. O clube era um modelo de desorganização e o rombo não poderia ser remendado, sequer havia receita de televisão e patrocinadores, posto que estavam todas empenhadas desde o ano passado…
Felizmente o planejamento começou pela infra-estrutura do clube, equacionando problemas operacionais dos mais importantes como campos de treinamento, academia, cozinha, dep. médico, dormitórios, fisiologia, comunicação, funcionários, crédito, credibilidade etc., etc.
Foi esse o ambiente de trabalho encontrado por Paulo Carneiro. Importante dizer que não conheço Paulo pessoalmente, não tenho aproximação alguma e muito menos procuração para defendê-lo. Mas tenho independência para saber reconhecer méritos e competências.
Em tese, Paulo Carneiro é o marco zero do Bahia que veremos no futuro. Pode não acontecer o Bahia que penso, porque de fato ainda temos em mãos uma faca de dois gumes. Mas as evidências sinalizam favoravelmente para o Bahia num futuro próximo bem dentro dessas minhas expectativas. Anote pra me cobrar depois.
Ouvi um radialista de muita credibilidade, formador de opinião dos melhores, bradar equivocadamente após o jogo com o ABC, que a Era Paulo Carneiro havia chegado ao fim no Bahia… Fiquei surpreso partindo de quem partiu, uma pessoa de estilo conciliador. Ele quase afirmava isso com toda eloquência. Mas… que “Era Paulo Carneiro” se ele ainda não está nem num terço do seu trabalho? Gente, o Bahia ainda trabalha no rescaldo do incêndio e o silêncio em momentos assim soa como uma prece.
A filosofia no Bahia de agora deixa claro que o papel sagrado da imprensa é o de bem informar com um noticiário rico e uma crítica justa. Não vamos inverter os papéis, façam resenhas temáticas, com boas entrevistas, sem tendências clubísticas, para que a independência seja o fiel da balança. A questão de demissão desse ou daquele fica a cargo dessa ou daquela empresa que detenha o seu concurso.
É num ambiente muito tumultuado de fora pra dentro em que o trabalho no Bahia vem sendo desenvolvido. Numa outra rádio, um repórter arguiu que o Bahia estaria recebendo do Clube dos Treze cota mais ou menos igual a que recebe atualmente o Cruzeiro, por exemplo, e ele, repórter, gostaria de saber pra onde está indo esse dinheiro. É mole? Isto porque o Bahia teria privilégio por ser fundador do Clube dos Treze, segundo ele. Quanta desinformação!
O critério é outro, o Bahia recebe atualmente três milhões de reais/ano. Divida isso por 12 e ficará sabendo qual é a cota que o Bahia recebe mensalmente. Por que será que a imprensa baiana, em sua maioria, torce contra o Bahia dessa forma? Não é o Bahia a maior locomotiva desse futebol?
Pois é senhores diretores do E.C.Bahia, a tarefa será árdua o tempo todo! Trégua não haverá, jamais! Então se é para brigar em defesa de um projeto no qual os senhores acreditam, sigam em frente que eu também vou junto, por simplesmente acreditar que o caminho está sendo trilhado de forma politicamente correta.
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Fiz questão de escrever esta coluna antes do jogo contra o Ipatinga, onde qualquer resultado não teria influência alguma sobre a minha opinião, até porque já me liguei muito mais lá na frente e de forma bem realista.
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A torcida do Bahia deveria estar mais presente na vida do clube visitando suas hostes e vendo o que está sendo feito no clube. Ainda não vi em nenhum jornal uma matéria bem trabalhada e mostrando as diferenças estruturais ponto a ponto entre 2008/2009. Sugiro ao meu amigo Nelson Barros uma matéria nesses moldes.
Divulgam muito mais as coisas negativas do Bahia que as positivas. Pelo menos, deveriam ser feitas as duas coisas, com imparcialidade e exatidão. Seria justo.
comentários
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