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Publicada em 12 de julho de 2010 às 00:00 por Autor Genérico

Autor Genérico

Ídolos mal preparados

Se um homem não sabe qual rumo seguir, então nenhum vento lhe será favorável. Definiu Sêneca numa das suas mais preciosas expressões filosóficas posta de tal forma que até nos nossos dias soa como reflexão profunda.

No futebol e em outras profissões de apelo popular muito forte, onde se idolatra o artista sem sequer conhecer a verdadeira biografia do indivíduo, acontecem surpresas tão decepcionantes que são capazes de levar anos para que sejam apagadas na memória dos idólatras.

A família, por princípio, deveria desempenhar um papel mais eficaz, clarividente e efetivo em amor. Mas qual é o modelo familiar do Brasil? O país ainda é subdesenvolvido, educação que é bom não existe na maioria, e a base digna para tudo isso é negada ao chefe de família, pelo governo…

Então muitos dos nossos ídolos surgem literalmente do nada! Especialmente através do futebol. Jogar futebol é um dom que não é inerente ao caráter. No caráter pode haver desvios, que, entretanto, são passíveis de consertos, mas o conserto depende muito da base familiar e do ambiente exemplar. “Me diz com quem tu andas e eu te direi quem és”. É bíblico.

O rumoroso e macabro caso do goleiro Bruno e uma deslumbrada garota dessas que vivem atrás de jogadores, as chamadas “Maria chuteira”, explodiu em todos os lares ao vivo e a cores mostrando a crueldade que um ídolo muito mal preparado pode ser capaz de praticar.

Há cerca de três anos escrevi nesta coluna falando sobre o papel que os clubes deveriam desempenhar para o surgimento de futuros jogadores, cuidando antes da formação intelectual do homem. Na maioria das vezes os jovens chegam para os clubes com idade tenra trazendo na bagagem apenas o dom de jogar bola…

É aí que o clube precisa então trabalhar a “pedra bruta” para transformá-la em “cristal límpido”. Mas isso não passa só pela estrutura material. Tem de passar é por uma estrutura educativa rigorosa, que a bem da verdade falta na maioria esmagadora dos clubes devido a falta de recursos, principalmente, após a Lei Pelé.

A Lei Pelé tem um conteúdo que visa especificamente a liberdade do jogador. Isto empobreceu o futebol brasileiro, tecnicamente inclusive. Porém beneficiou a empresários, hoje denominados de agentes FIFA. É necessário facultar efetivamente aos clubes a continuidade desse trabalho que os transformariam em grandes escolas profissionalizantes e específicas.

Mas não, a estrutura é pobre e sem efetivamente uma ajuda governamental para tirar o jovem da favela e da companhia inconveniente de pessoas que o induzem ao erro e à barbárie. Daí os exemplos pífios que os ídolos sem princípios, mas de destaque até internacional, proporcionam aos jovens deste País. Recentemente, Adriano, hoje jogador da Roma, fez com os dedos gestos de clara apologia a uma facção criminosa das mais perigosas do país. Como se explica atos assim?

O que se passa na cabeça do pequenino torcedor ao ver seu ídolo algemado entrando num camburão como se fosse um marginal qualquer, não sabemos. Bruno, goleiro do Flamengo, achou dentro do seu despreparo intelectual que ter dinheiro e a torcida do Flamengo aos seus pés, lhe daria imunidade e poder. Assim podem pensar Adriano, Vagner Love e outros menos votados.

Pois é, são quase todos egressos das camadas que vivem à margem de uma classe social mais privilegiada. Porém mesmo as custas de supremos sacrifícios esses mais privilegiados conseguem ter a dignidade como lema e exemplo para a sua descendência, evitando assim que dramas do tamanho do de Bruno se alastrem cada vez mais Brasil adentro. Só para falar dos nossos problemas.

Bruno é reflexo de uma infância mal cuidada, da falta de afeto familiar – conheceu a sua mãe recentemente, e teve o seu pai assassinado –, de uma base que o governo não tá nem aí pra ela, porque, se estivesse, as desigualdades sociais seriam mínimas, por mérito da educação para todos.

Esse é o nível educacional do Brasil, essa é a base da maioria das famílias brasileiras, esse é o anti-profissionalismo dos nossos dirigentes de clubes que tem o problema nas suas hostes e não capazes de identificá-lo. Aqui se constrói ídolos e monstros simultaneamente.

xxx

Que belo futebol das seleções espanhola, alemã, holandesa e uruguaia, hein? Enquanto isso os operários de Dunga voltaram para casa trazendo na bagagem a vergonha do dever mal cumprido. Previsível, absolutamente previsível. Nem precisava entender muito de futebol para “adivinhar” o desfecho daquela seleção mambembe. A mim continua parecendo armação aquela convocação, tipo coisa negociada mais acima de Dunga.

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