Há algum tempo, ouvi uma pregação em que o doutrinador dizia que quando os homens de bem se omitem, o esgoto toma conta da sociedade. Desde então, comecei a refletir sobre a sociedade e o imundo ambiente político que sempre imperou nas esferas públicas do país e a minha responsabilidade sobre isso.
Para mim, foi surpreendente notar que nos círculos sociais em que eu perambulava, sempre havia uma maioria de cidadãos de bem, preocupados com a manutenção de altos valores sociais. Mas esta maioria é transmutada em minoria, pois se omite e permite que interesses perniciosos dominem as decisões.
O pecado da omissão, a covardia do homem de bem que se omite, é cúmplice da vilania dos que se locupletam com a miséria alheia. Essa é uma verdade social de nosso Estado e de nosso pobre país.
Como fenômeno social de nosso Estado, a história do Bahia não poderia estar livre dessa verdade: a omissão é o veneno que está matando com requintes de crueldade o patrimônio afetivo do Estado chamado Esporte Clube Bahia.
Motivos e desculpas para se omitir são o que não faltam. Justifica-se que o Bahia é entidade privada, que o futebol é jogado dentro das quatro linhas, que política não tem a ver com futebol, que o Bahia não é prioridade, que os tempos são outros, etc.
Não importa se o estatuto do clube é desrespeitado constantemente por seus mandatários, não importa se o clube é seguidamente rebaixado, não importa se seu patrimônio é seguidamente dilapidado, não importa se um grupo se perpetua no poder afundando o clube nas divisões inferiores.
Nada disso importa aos que se omitem, e eles continuam se omitindo. Nada disso impede o ritual de um conselho de trezentos cidadãos que somente trienalmente se reúne para reeleger um preposto do mesmo grupo, que há mais de duas décadas vem destruindo o Bahia.
Um conselho formado por pessoas que nem eram sócios, segundo o Dr. Reub Celestino afirmou sobre ele mesmo. Um conselho formado por uma chapa de trezentos conselheiros, que tem apenas cento e vinte votos (mais um absurdo que só acontece no Bahia: mais candidatos que eleitores).
Um conselho que deveria ser purgado de conselheiros que faltam a mais de três reuniões seguidas, segundo o próprio estatuto do clube, mas que continua intacto após várias reuniões com presença máxima de 56 pessoas. Um conselho cuja composição só se pôde conhecer às vésperas do pleito de 2008.
Tudo isso acontece em um clube cujas assembléias gerais de sócios são realizadas sem que suas minutas sejam lidas na presença de todos, como a que ocorreu na venda da sede de praia.
Um presidente deputado que olha em seus olhos dando sua palavra de que vai convocar uma assembléia para alteração dos estatutos e não cumpre. Tudo filmado, registrado, noticiado e ele não cumpriu sua palavra. Uma pergunta aos entendidos: isso seria quebra do decoro parlamentar?
Processos judiciais ficam anos esquecidos, sem uma decisão, que só é proferida após não ter mais efeito prático algum, enquanto liminares são cassadas à 3hrs da madrugada.
A dor e a revolta do torcedor vão sendo alimentadas sem que ninguém de direito deixe de se omitir.
Tanta coisa acontecendo e o clube não sofre a fiscalização de nenhum ator social. Todos se omitem. Até o ministério público, que gasta seu tempo exigindo a cobrança de meia-entrada nos ingressos de PituAço, não move uma palha.
Todos esses desrespeitos à história, às tradições e ao estatuo do clube são cometidos com a conivência da omissão de toda a sociedade. Os que amam o Bahia e denunciam os desmandos são poucos e não são ouvidos, pois seus gritos não transcendem a esfera esportiva.
Entretanto, o que acontece no Esporte Clube Bahia é fenômeno de importância social, pois o clube é um patrimônio afetivo do Estado e é parte da vida da maioria da de sua população. Por isso, conclamo a sociedade baiana e digo: chega de omissão!
Caetano e Gil, o Bahia precisa que vocês expressem nossa dor e revolta. Vocês que enfrentaram a ditadura militar, não têm o direito de se omitir e deixar de cantar contra essa democradura que tomou conta do Bahia.
Deputados Pellegrino, Pinheiro e Lídice, governador Wagner, ministro Geddel, e assembléia legislativa do Estado da Bahia: precisamos de intervenção política!
Torcidas organizadas, precisamos de sua indignação. Torcedor anônimo, o Bahia precisa que você vá às ruas. Conselheiros, por favor, tomem as rédeas do clube! Vamos agir!
O Bahia precisa da intervenção da sociedade para sobreviver. Não podemos continuar permitindo que o esgoto domine. O Bahia precisa da intervenção da torcida, dos seus conselheiros, do partido de seu presidente, do prefeito, do governador, do ministro, do ministério público e principalmente da justiça.
Chega de omissão, intervenção já!
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