Sei que vocês não me conhecem. Também sei que não se aceita conselhos de estranhos de conhecidos menos ainda, dizem. Mas peço um instante de sua preciosa atenção. Deixe a calculadora de lado, feche a planilha, o simulador da tabela, guarde o esquadro e o transferidor. Não adianta regra de três, desvio padrão ou noves-fora. Não desperdice orações com São Tales de Mileto nem evoque o beato Tristão Garcia. A verdade não está lá fora, não está na chance mínima que resiste, não está no pênalti não marcado três rodadas atrás. Não há matemática, estatística nem qualquer outra ciência deste mundo que salve: O Bahia já caiu para a segunda divisão. Há, porém, quem diga que de lá ele nunca saiu.
Se você ainda acredita na salvação tricolor, está com o terço entrelaçado entre as mãos ao melhor estilo Roberto Carlos (essa fé que me faz otimista demais) não se aperrei com minhas observações. Eu sei que a fé, ao contrário da defesa do Bahia, não costuma falhar. Só acho que é muita fé e pouco futebol nessa equação. Nesse balanço, o resultado sempre é desfavorável e não tem margem de erro do Ibope que salve.
O que Bahia precisa mesmo, além da fé, é procurar entender por que desde 2011 ele é um estranho no ninho na série A. Por que ainda não conseguiu três triunfos seguidos. Por que nunca passou de 42% de aproveitamento. Por que não consegue se impor quando joga em casa. Por que só figurou na parte de cima da tabela em 16 rodadas [12 em 2013 e 4 em 2014]. A atual direção do clube, que assumiu após a intervenção e entrega o carvão molhado agora em dezembro, definitivamente não entendeu.
Sim, o clube teve ganhos institucionais louváveis nesse ano e meio: Conselhos deliberativo e fiscal atuantes, divulgação de balancetes, quebra de práticas nepotistas, fim de relações espúrias com torcidas organizadas e imprensa, melhora significativa nos meios de comunicação com o público [site, mídias, sociais, TV Baêa], setor jurídico mais atento e eficiente, aumento do quadro de sócios… e outros mais que não vou repetir porque essa coluna não é chapa branca. Faltou convocar assembleia de sócios [sócio tem que ser visto como parte atuante na vida do clube, não apenas como consumidor], mais transparência em algumas situações e competência para captar recursos. Mas o salto foi gigantesco.
Fora isso, todo o resto foi pensado e executado de forma errada. E todo o resto é, tão somente, o futebol. Se eu acreditasse que o futebol é uma loteria estaria resignado. Mas eu não acredito. Se acreditasse talvez não torcesse para um dos times mais azarados do mundo. Azar já me basta no amor.
E não há nada de louvável em cair para a série B. Não é pilha, não tem lado positivo. É só sofrimento, humilhação e escarnecimento perante aquele amigo chato que torce pro rival. Segunda divisão não é como o Rio Ganges, onde você mergulha no lodo e sai purificado. A prova disso é que está cheio de time que toma um caldo lá e volta pior do que era. Time imponente, de colônia, com nome de navegador e técnico que fala inglês. Porém, we go to give um jump nessa parte.
Fico bastante receoso quando ouço este tipo de argumento: Na série B é melhor para nos organizarmos. Logo o papo evolui para lá pelo menos a gente disputa a parte de cima da tabela. Se o sujeito tomar mais três ampolas de cevada ele solta o estádio está sempre mais cheio e é o título que nos falta.
Não, nobre amigo ébrio. Sofrimento não ensina nada a ninguém. E um time da estirpe do Bahia na série B é sofrimento sem recompensa. Não aceitarei calado a PONTEPRETIZAÇÃO do Esquadrão de aço. Com todo o respeito que a centenária Macaca merece, agora de volta à série A, talvez com o primeiro título do virgem currículo.
A queda do Bahia esse ano não pode ser justificada pela herança maldita da gestão do inominado. O departamento de futebol manteve a política equivocada dos últimos anos: Dobrou a folha sem reforçar como deveria, apostando em jogadores em curva descendente, muitas apostas injustificadas, refugos de outros clubes e atletas a caminho da aposentadoria. Relegou a base – que possui excelentes resultados e valores a segundo plano, meteu-se em negociações confusas e sem sucesso e aceitou pacotaço de empresários. O resultado foi um grupo de jogadores problemático, pouco comprometido com o clube, um time tecnicamente frágil e com várias posições deficientes. Somado aos atletas que acumulavam fracassos na gestão anterior e que foram mantidos, não dá para dizer que a queda será apenas falta de sorte. Pior, independente do resultado na final da temporada, o fardo da próxima gestão será pesado.
É preciso compreender tudo que o clube fez errado neste período pós-intervenção, avaliar uma mudança no gerenciamento do futebol e implantar um novo perfil de trabalho. Não apenas imaginar que na série B será mais fácil e a roleta da fortuna nos agraciará. Basta recordar que das outras vezes que foi rebaixado o Bahia nunca conseguiu voltar no ano seguinte. Se a fé não nos salvar esse ano será necessário trabalho e competência para voltarmos em 2016. Vamos deixar a sorte só para o amor. Não sei vocês, mas eu, pelo menos, estou precisando.
comentários
Aviso: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do ecbahia.com.
É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral, os bons costumes ou direitos de terceiros.
O ecbahia.com poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios
impostos neste aviso ou que estejam fora do tema proposto.