Meus Amigos,
Ontem no Sportv tivemos o privilégio de assistir (ou reassistir) a grande partida do Bahia contra o Fluminense, na semifinal de 1988, que culminaria com o nosso 2° título Brasileiro. A partida foi marcada por muita tensão na torcida tricolor, com uma excitação incrível nas redes sociais. Depoimentos dos campeões brasileiros, ações de marketing do clube e a ausência dos jogos fizeram com que este evento conseguisse mais de 10 mil ingressos vendidos, o que atiçou ainda mais a curiosidade sobre a atuação da equipe depois de tanto tempo.
O que sempre me impressionou naquele time foi a capacidade de atacar em bloco, mobilidade e muita força ofensiva. Era um time muito bem montado por Mestre Evaristo e com jogadores sabendo desempenhar bem suas funções ofensivas e defensivas.
Sobre o jogo, além da impressionante presença de público (110 mil pagantes, maior público da história do nordeste), a ausência de João Marcelo gerou dúvidas pois o zagueiro se destacou durante toda a campanha e teria como substituto Newmar que, apesar de ter um currículo vitorioso (foi campeão do mundo com o Grêmio), não nutria muita simpatia da torcida. E o gol do time carioca surge numa falha do zagueiro, que o baiano Washington não perdoou. 1×0 Flu, logo no início do confronto.
A imensa torcida presente, literalmente em todos os pontos possíveis do estádio, continuou apoiando o time capitaneado por Bobô. A confiança na equipe era grande, tanto pelo futebol apresentado quanto pela força que a velha Fonte Nova possuia. A conexão time-torcida havia sido estabelecida e quando isso acontecia, sempre era muito difícil segurar o Esquadrão.
Tanto que o Bahia continuou jogando da mesma forma de sempre, com muita movimentação dos quinteto ofensivo e estabilidade defensiva. O Fluminense praticamente não conseguiu equiparar o confronto, sempre se defendendo de forma muito recuada. Isso se refletiu na grande quantidade de chances desperdiçadas pelo Esquadrão.
O gol de empate saiu ainda no 1° tempo. Em bela cobrança de falta, Tarantini colocou na cabeça de Bobô, que não perdoou. 1×1 e a explosão da Fonte Nova. A vantagem do empate era do Bahia e esse gol tranquilizou ainda mais todos presentes no estádio. A certeza da classificação era muito grande e a forma como o time jogava incentivava isso.
Aliás, é preciso falar sobre este time e suas variações táticas. Que time moderno. Atual até para os dias de hoje!!! Variando entre o 442, 433, 4231 e 4141, Gil, Bobô, Zé Carlos, Marquinhos e Charles causavam desequilibrios nos adversários por não guardarem posição fixa. Marquinhos e Zé Carlos ora eram armadores pelos lados, ora eram pontas que chegavam ao fundo para cruzar ou chutar em gol. Gil fazia uma função Box-to-Box, tão propalada hoje, com muita maestria. Tanto que aparecia sempre para finalizar ou infiltrar na área adversária. Charles era o único que não voltava para recompor no meio campo, mas não ficava isolado entre os zagueiros adversários, saindo para jogar e abrindo espaços para as penetrações de Bobô ou Gil. O craque maior do time ora vinha armar o jogo, ora recebia a bola nas costas dos volantes para levar perigo aos adversários. Inteligente demais, era realmente um privilégio vê-lo jogar, pela sua elegância e sutileza. Caetano Veloso foi muito feliz em seus versos. Para mim, o maior jogador que vi com a camisa do Bahia.
E não podemos esquecer do sistema defensivo. Se durante a fase de grupos Sidmar e Pereira foram os titulares, para a fase final Ronaldo e Claudir assumiram a responsabilidade e não decepcionaram. O arqueiro, cria da base tricolor, sempre foi muito ágil e foi fundamental em diversos momentos. Além da agilidade, tinha uma coragem sem tamanho, o que elevava ainda mais suas atuações. Claudir assumiu a quarta zaga e foi muito preciso em diversas divididas. Além de ser bom no jogo aéreo, deu seriedade com sua virilidade a defesa. Tarantini e Paulo Robson eram laterais que se complementavam muito, pois um compensava a falta de técnica com muita marcação e força física, sendo muitas vezes um terceiro zagueiro, anulando os pontas adversários e o “Corujinha” era uma das opções de saída de bola, sempre com qualidade. João Marcelo era um grande zagueiro, com muita técnica e boa colocação. Sabia jogar com a bola nos pés e foi fundamental durante toda a campanha.
Deixei o melhor da partida para o final. Paulo Rodrigues era um volante que desarmava sem faltas e que iniciava as jogadas com muita qualidade. A sua classe em desarmar era uma das coisas mais impressionates que eu já vi no futebol. Sempre calmo, era o termômetro defensivo, o organizador da defesa e capaz de partidas incríveis como esta contra o Fluminense. A regularidade era uma característica sua, tanto que ganhou com méritos a Bola de Prata da Revista Placar, maior prêmio da época para um jogador. Foi um prazer vê-lo jogar. Eu não vi Baiaco, mas vi Paulo Rodrigues.
O segundo tempo foi uma aula de futebol. O gol do triunfo surge de uma bela jogada coletiva, com Marquinhos iniciando a jogada, Zé Carlos servindo Charles na direita, o camisa 9 tentando finalizar e, no rebote, cruzar para Gil pegar de canhota e marcar um gol incrível. Gol que emocionou a todos, mesmo depois de tanto tempo. Tirando o lance onde Ronaldo cortou o cruzamento e o atacante do Fluminense pegou o rebote e a zaga impediu o empate, o que se viu foi um verdadeiro massacre do Bahia. Foram inúmeras chances criadas e desperdiçadas, com bola na trave, penalti não marcado e ataque até o ultimo minuto, como no lance que Claudir foi ao fundo cruzar na área, já aos 48 do segundo tempo. No fim, uma festa sem precedentes no futebol da Bahia, com a tradicional invasão de campo, jogadores e comissão técnica bem próximos de um feito incrível, que seria a segunda estrela de campeão brasileiro.
Escrever sobre este jogo foi muito especial para mim. Ouvir as palmas da torcida na transmissão, o grito de “Êa, êa, Tricolor, é Tricolor”, as imagens da Velha Fonte abarrotada, a invasão de campo, o Bahia impetuoso até o fim da partida foi algo que me emocionou. Na época, eu tinha 7 anos e assisti este jogo com meu pai, em Aracajú. Estávamos viajando pelo nordeste e chegamos naquele dia à capital sergipana. Após o fim da partida, meu pai arrumou as coisas e viemos para Salvador, interrompendo nossas férias por um excelente motivo. Neste campeonato eu fui pela primeira vez ao Fazendão, tenho excelentes memórias dos jogos que eu fui e recebi o abraço mais apertado que eu já ganhei do meu pai, após a final contra o Inter. Além disso, ser torcedor do time campeão brasileiro foi algo muito especial. Um momento que levarei para o resto da vida. BBMP!
Ronaldo – Seguro, não teve culpa no gol. Mesmo quando não teve exito no corte do cruzamento, foi salvo pelos companheiros.
Tarantini – Mesmo não sendo o mais técnico, foi fundamental na partida. Além de ser o autor do passe para o gol de empate, anulou o atacante Andreolli, bom jogador do time carioca.
Newmar – Apesar da falha no gol, foi bem na partida, com bons cortes defensivos, principalmente pelo alto.
Claudir – Grande partida, com muita força defensiva e atuação de respeito.
Paulo Robson – Bons passes e desarmes, foi importante na construção das jogadas. Desafogo muitas vezes para o time iniciar os ataques.
Paulo Rodrigues – O craque do jogo. Fundamental tanto defensivamente quanto ofensivamente, fez uma partida perfeita. Nota 10.
Gil – Foi fundamental para o triunfo, pelo seu belo gol, mas também pelas suas movimentações defensivas e ofensivas. Jogador extremamente moderno, muito importante para o esquema tático.
Bobô – O diferencido. Apareceu quando o time mais precisava. Condutor ofensivo, empatou num belo gol de cabeça, deu muito trabalho para os marcadores adversários e abriu espaços na defesa com deslocamentos muitas vezes para a função de segundo homem ou de ponta esquerda.
Zé Carlos – O pulmão do time. Marcou e atacou como poucos. Merecedor de todos os elogios.
Marquinhos – Azougue do lateral adversário, foi fundamental na partida pela sua aplicação tática. Muitas vezes recuando para deixar Bobô mais livre no ataque, foi importantíssimo no gol do triunfo.
Charles – Se não marcou, pelo menos conduziu o time de forma muito inteligente, abrindo espaços para as penetrações de Bobô e Gil. Além disso, deu muito trabalho aos zagueiros, apanhando muito.
Evaristo de Macedo – Um time muito bem montado, com uma variação tática impressionante e um preparo físico invejável (Parabéns ao Preparador José Carlos Queiróz), que foi encantador de se ver. E que marcou o futebol baiano e brasileiro, tanto que é um time até hoje bastante falado nas rodas de futebol.
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