Rapaz, eu estou até assustado com a minha calma. Parece que eu tomei o remédio do atacante Lima (aquele que dizia que só empurra a bola pro gol depois de acalmar tudo em volta, sedar a si a aos beques e exasperar os torcedores). O mundo à minha volta ruindo, gente medíocre assassinando a música e vivendo disso, meu carro caindo em seguidos buracos das nossas ruas e estradas ou sendo arremessado para o alto por insuspeitados e proliferantes quebra-molas, os limites de velocidade (ou de vagarosidade) cada vez mais arbitrariamente fixados, os radares me fotografando caso eu, criminosamente, cruze um sinal de pedestres num domingo deserto, enquanto não há nada que detecte os que assaltam aposentados na saída dos bancos, os ônibus ardendo em chamas em toda a cidade, o banho de luz do prefeito clareando os ataques de metralhadora aos módulos policiais, o Bahia perdendo 03 partidas seguidas e tomando 3 gols do ABC num mesmo jogo… e eu calmo, calmíssimo.
E explicação é fácil: calo. Mas não calo coisa nenhuma: falo. O calo que estou me referindo não é do verbo calar, mas sim o substantivo, sinônimo de calosidade. Aquilo que dói no calcanhar, mas que é imprescindível na ponta dos dedos para tocar violão. Esse calo ao qual me refiro pode ser interpretado como aprendizado com a experiência, uso da inteligência emocional, reflexo condicionado… Não, não! Reflexo não. Depois de ter sido chamado de irracional por PC, o huno, é meio perigoso admitir que reajo por reflexo.
O fato é que, de alguma forma, eu aprendi a não reagir tão emocionalmente quanto costumava. Isso fazia mal à saúde. Eu agora assumo o controle do meu descontrole. Não sucumbo facilmente ao desespero nem saio por aí dizendo impropérios, palavrões. Não vou falar p…. de palavrão nenhum! Sou uma pessoa equilibrada. Não tem essa de ficar xingando os jogadores do Bahia. Pra quê? Ficar chateado com aqueles filhos da p… só por causa de umas bobagens de umas falhas na defesa e perda de alguns gols? Sem essa de descambar para a baixaria. Eu estou muito acima disso. Sou civilizado e perfeitamente harmonizado com as regras de boa conduta. Aqueles v….. não serão tratados por mim com nenhum termo pejorativo.
Ameaça de rebaixamento? Qual o quê? Longe disso. Temos um elenco qualificado que já provou que sabe jogar e fazer partidas convincentes. É só uma fase de leve desestruturação emocional e ligeiro abalo na auto-confiança, coisas que podem muito bem ser contornadas com livros de auto-ajuda, palestras motivacionais, vídeos mostrando os nossos melhores momentos esse ano e a tolerância da torcida no estádio aplaudindo freneticamente os erros de Evaldo, Juninho, Nen, Diogo, Rubens Cardoso… Eles estão frágeis e precisam do suporte do torcedor. Se não, podem jogar ainda pior.
Rubens Cardoso mesmo, está se recuperando de uma pubalgia (dor na massa de carimã) há 5 anos e precisamos ter paciência até ele sarar e não deixar buracos na marcação. Evaldo só precisa de uma pequena lobotomia para que Sérgio Guedes nem cogite a possibilidade de escalar Menezes em seu lugar. Hélton Luiz com uma só orientação de como ficar com a bola protegendo-a com o corpo, sem dar chance de o adversário retomá-la facilmente, pode, em 2 a 3 anos, se tornar extremamente eficiente. Nadson está próximo de ameaçar Usain Bolt em suas arrancadas fulminantes. Juninho pode se tornar útil se a diretoria deixar de ser sovina e comprar uma bola oficial e dar a ele de presente, para ele não precisar ficar tanto tempo com ela improdutivamente durante os jogos. Eu acredito piamente nisso. Por isso é que me mantenho nesse Nirvana. Afinal, o Bahia é melhor que o Real Madrid, Barcelona, Chelsea… ou não é?
Minha mulher fica tentando me convencer que nós temos que reagir contra o que ela chama de Paulo de Tróia, contra PC, o huno, que, segundo o olhar desconfiado dela, está plantado lá no Bahia para nos desgraçar de vez. Eu digo que o cara conhece, é competente, que a precipitação é amiga da imprecisão, que o plano dele não é imediatista, mas sim de médio, longo e longíssimo prazo, e que, com calma, confiança e sangue frio, nós iremos conseguir o objetivo de ascender à Série A no ano do nosso centenário… Já pensou? Que beleza! Estamos nos estruturando para formar uma geração de jogadores que nem nasceu ainda. Estamos olhando lá na frente. Muito lá na frente. Nada de juvenil, infanto, dente-de-leite o negócio é preparar o terreno para os óvulos e espermatozóides que estão aí dando sopa e que fatalmente hão de se encontrar e se fundir. Essa será a nossa geração vencedora formada no novo centro de treinamento que será construído em algum lugar entre Pedra do Cavalo e Cova do Defunto. Ela não aceita minha argumentação, manda eu deixar de ser besta, esfrega a camisa do Bahia na minha cara, põe em dúvida a minha masculinidade através do questionamento da existência dos meus testículos, duvida da minha sanidade mental, mas eu me mantenho impassível. Mulheres, mulheres, e seus hormônios de necessidades urgentes… reagem sempre com destempero. Eu não. Estou calmo. E assim vou permanecer.
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