O relógio marcava 17h00 de uma sexta-feira quando recebi uma triste notícia: morreu Jorge Maia, principal responsável pelo processo de democratização do Bahia.
Se para a imprensa esportiva baiana e grande parte da torcida tricolor, Jorge se tornou conhecido em 2013, a partir do processo judicial que culminou na destituição da então diretoria do clube e consequentemente na intervenção judicial que proporcionou a democratização do Bahia, para outros tantos ele já era muito importante há bastante tempo.
Conheci Maia quando eu tinha uns 15 anos, lá pelos idos de 2001 ou 2002, época em que uma das coisas que existiam com certa semelhança (pouca, é verdade) às atuais redes sociais eram os antigos grupos de discussão temáticos via e-mail. Participávamos de um sobre o Bahia em que, dentre algumas dezenas de torcedores predominantemente jovens, encontrava-se ali um “tio ranzinza” que vivia o Bahia desde a sua infância.
Nascido em uma família de tricolores, sua relação com o Bahia vem, literalmente, de berço. Seu pai, Clovis Maia, foi conselheiro do clube por décadas e chegou a ser diretor do clube na gestão de Osório Vilas Boas, tendo muitos e relevantes serviços prestados ao clube. Em um trecho do filme Bahêa Minha Vida, Jorge conta alguns dos “causos” em que viveu no clube, dentre eles o da época em que Alencar “morou” na casa de sua família.
Sempre solícito e humilde, não se importava com o choque de gerações ao trocar ideias com tricolores muito mais jovens. Sua experiência – de vida e de clube – não o colocavam em um “pedestal”. Pelo contrário, se tinha uma coisa que ele mais defendia, era de que todos tinham o direito de se manifestar. “Meu ídolo” era como me chamava, acho que por causa das dicas “tecnológicas” que eu prestava de vez em quando. Assim também eu o chamava, mas pela pessoa que ele era e por sua grande história com o clube.
Voltando ao grupo de e-mails, foi a partir dele, também, que Jorge, eu e mais alguns tricolores nos reunimos e tivemos a honra de fundar, em 2003, a Associação Bahia Livre, um dos combativos grupos de oposição na conhecida “Era das trevas” do Bahia.
Eis que, dez anos depois, apoiado por outros abnegados tricolores, o então desconhecido (para o grande público) Jorge Maia, através de uma ação corajosa na Justiça conquistava o primeiro grande passo para a realização de um dos seus maiores sonhos: a Democracia no Bahia. Aquela estava longe de ser a primeira batalha travada por Maia por esse objetivo, mas certamente foi a que ele obteve o maior êxito.
Sua eleição como primeiro vice-presidente do Conselho Deliberativo do clube na Era democrática e a posterior concessão do título de Sócio Grande Benemérito são apenas simbólicos perante a importância que Jorge Maia tem para a história do Bahia. Merecia muito mais. E se um grande reconhecimento não ocorreu ainda em vida, que esse erro seja reparado em um futuro próximo.
Quem sou eu para querer definir níveis de reconhecimento a personagens históricos do nosso clube, mas uma homenagem no nível da que – merecidamente – recebeu neste ano o nosso ilustre Evaristo de Macedo, que deu seu nome para o novo centro de treinamentos tricolor, ainda seria pouco para Maia. Acabei de saber que a diretoria do clube vai rebatizar o monumento “Juntos Venceremos”, que está sendo construído na Cidade Tricolor, para homenagear Jorge Maia. Grande iniciativa! É um importante começo…
Pelas circunstâncias normais da vida de ambos, encontra-lo nos últimos anos se tornou de certa forma um evento raro. Acho que a última vez que o vi faz alguns meses, provavelmente até mais de um ano, ocasionalmente fazendo compras no supermercado. Com um simples sorriso rosto e seu inseparável chapéu na cabeça. Foi a última oportunidade que tive de conversar pessoalmente com ele, por alguns minutos, na fila do caixa.
Grande pai de família e “avô babão”, certamente deixará muitas saudades para sua esposa, filhas e netas, além de toda sua família e amigos.
Fique com Deus, meu ídolo. E muito obrigado por tudo. Pelos ensinamentos, histórias, estórias, e por ter mudado o rumo da história de nosso cube do coração.
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