Domingo passado, por volta de 9:30, me dirigia da Pituba para o Horto Florestal e à altura da do Quartel de Amaralina emparelhei com um ônibus lotado por torcedores do Bahia, que faziam uma batucada bem animada e entoavam refrões provocativos, mas aparentemente sadios, isto é, não fosse meio corpo pra fora da janela do ônibus apontando os dedos para todos os que estavam em automóveis, ou caminhando pela avenida. Fiquei pensando: tão cedo assim, e já estão indo para o estádio… mas era Bavi e quanto mais cedo chegar ao estádio, tanto melhor.
Fomos “juntos” até a confluência da Vasco da Gama com a Garibadi. Ali o ônibus tomou o sentido Iguatemi e eu segui pela Vasco da Gama. Mas aquele ônibus com aquela gente e aqueles gestos não me saíam da mente, o que me incomodava muito, mesmo após eu seguir por outra via diferente. Fiquei pensando no que escrevera anteriormente –aqui nesta coluna– justo sobre torcida, elogiando comportamentos, inclusive. Queira Deus que tudo ocorra bem no Barradão e o Bavi seja de paz — pensei me consolando e tirando aquele sentimento de angústia que tomava conta de mim naquele momento…
Na verdade, o que eu houvera visto e ouvido foi um grito de guerra e eu me recusava a acreditar naquilo. Mas tive de admitir que algo mais que o simples fato de torcer estava por trás daquilo. É como se eles estivessem indo a um encontro marcado para medir forças, poder, qual torcida tem mais macho, e por aí vai outras idiotices que só os tolos são capazes de explicar para eles próprios.
Bem, após estar no Horto, segui para Interlagos, onde fui passar o dia com amigos. Barradão? Nem pensar, meu tempo de cometer loucuras encontra-se no pretérito mais que abandonado. Mas você, Djalma, escreve sobre pacificidade no futebol da Bahia, disse pra mim mesmo… É, escrevo mesmo, mas tenho medo de estar enganando a minha própria consciência.
— No fundo dos meus sentimentos o que acho mesmo é que temos uma bomba de pavio curto e uma caixa de fósforo bem juntinho dela, e se já a explodiram no Sudeste, os daqui sabem que podem fazer o mesmo. Isso se as autoridades deixarem rolar.
Radinho de pilha ligado, entre uma gelada e outra no lindo paraíso de Interlagos, ouço o que disse-me pela manhã a minha própria intuição: “briga entre torcidas no Barradão força a Polícia Militar intervir com bombas de efeito moral; muito tumulto”. O resto já se sabe.
A pergunta que faço é a seguinte: até quando esses vândalos travestidos de torcedores vão dar as cartas e ficar impunes? Será que vai ser preciso legalizar o desequilíbrio dessa gente bagunceira para que ela mesmo se auto extermine? Quando será que as famílias terão a segurança como motivo maior para irem aos estádios? É simples a resposta: quando nossas autoridades tomarem consciência que a punição ao vandalismos deve ser exemplar, assim como aconteceu na Inglaterra.
Talvez pareça piegas, mas este é o meu sentimento porque acredito que o futebol nasceu para integrar e não para dividir. Claro que considero a rivalidade como fator preponderante no meio, mas entre rivalidade e guerra vai uma distância incalculável. As torcidas do Gremio e Internacional apresentaram um conceito de civilidade única em beleza e atitude. Mostraram que interagir e rivalizar é viabilíssimo no futebol. Vimos casais, famílias e amigos rivais no futebol, aos beijos e abraços antes de adentrarem ao estádio e, uma vez dentro, sentaram-se lado a lado para assistirem o espetáculo com o mesmo sentimento de amor presente.
Não diria que têm de ser exatamente naquele molde inédito dos gaúchos, eles só quiseram mostrar o quanto somos iguais, mas diria eu que a torcida mista pode e deve voltar a acontecer porque não somos animais irracionais. A mensagem das torcidas de Grêmio e Inter veio num momento certo, e tomara que tenha chegado às organizadas de todos os lugares. Ou será que a “Torcida Organizada” é um conceito diabólico? Se assim for, a Justiça tem de exorciza-la o mais rápido possível.
BARRADÃO
Aquele acesso no estádio destinado ao espaço das torcidas visitantes deveria ser mais humanizado, menos parecido com um corredor que conduz animais perigosos às arenas, deveria parecer mais com a civilidade e menos com o ódio. Aquilo é o fim da dignidade a que todo ser humano tem direito. Nunca vi um espaço tão antidemocrático como o Barradão. Tão feio quanto o “corredor da morte” foi a Polícia impedir que a torcida do Bahia usasse a sua “proteção” habitual contra odores… aquilo não é uma arma, é apenas uma provocação literalmente sadia. Creio que o Comandante das tropas deve ser rubro-negro doente.
NO PALMEIRAS
João Paulo, filho do meu amigo Valnei Barbosa, e ex Diretor das divisões de Base do Vitória, assumiu as divisões de Base do Palmeiras -SP. Competente como é fará sucesso no verdão do Parque Antártica, certamente. João “nasceu” no Bahia e na saída de Newton Mota para o rival foi com ele, a exemplo de outros garotos à época, incluindo Bebeto Campos. João Paulo jogava como volante e tinha futuro como jogador, porém, um problema grave no joelho fez com que abandonasse a carreira como jogador, inciando outra carreira, dessa vez como gerente e foi galgando postos até chegar ao cargo de Diretor geral das divisões de Base. Deu tão certo que o Palmeiras o levou. Boa sorte, João!
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