é goleada tricolor na internet
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Publicada em 16 de julho de 2025 às 10:13 por Victor Moreno

Victor Moreno

O cliente tem sempre razão

                Altemir é um sujeito complicado, chucro, turrão, daquele tipo que vai de zero a cem em questão de segundos no quesito irritação. E pra piorar a vida do nosso amigo, ele trabalha com atendimento ao público numa distribuidora de botijões de gás de cozinha. Certa feita chegou um cliente na portaria que o fez movimentar cinco botijões do tipo P13 e dois botijões do tipo P20 da rampa até a guarita de atendimento, o que dá uma distância aproximada de 200 metros e, ao chegar com o produto solicitado, Altemir ouviu a seguinte reclamação: – esses botijões estão muito feios, quero que você busque outros. O homem deu pra ruim, saiu resmungando, bufando, quase inchou tal qual um baiacu, mas atendeu o cliente e em seguida foi à sala do patrão afirmar que se sentiu comediado e não iria permitir mais aquilo. O patrão, prontamente, proferiu a máxima: – o cliente tem sempre razão.

                Essa frase que permeia o imaginário do brasileiro no que tange ao atendimento ao público é um simplório mantra que mascara uma série de problemas que tornam a atividade de atender, e ser atendido, por um ser humano, um parto. Quem não amou a elegância sutil do internet banking para não precisar entrar numa fila e ser (mal) atendido num banco? Quem não precisa de um verdadeiro trabalho espiritual para dar conta de atender as mesas de um bar movimentado num sábado à noite?  Quem não deseja, lá no âmago, uma gastrite nervosa para todo profissional de serviços, quando precisa lidar com seus prazos irreais? É problema puro, mas, é como dizem, o cliente tem sempre razão.

                E ele tem sempre razão porque no final do dia, quem paga as contas do fornecedor de produtos ou serviços, é o cliente. Quem põe o pão na mesa do trabalhador é o freguês. Ao profissional, só resta focar na tríade primordial de qualquer oferta de produto ou serviço: – atendimento, preço e qualidade. E atendimento vem em primeiro lugar porque, veja bem, um cliente volta se o preço e o atendimento forem bons, mesmo que a qualidade seja duvidosa. Ele vai pensar bem se vai retornar caso o preço seja salgado, mas tendo qualidade e atendimento, sempre acabará fazendo um esforço. Contudo, ninguém tolera um mau atendimento. Todo brasileiro, ainda que também trabalhe com atendimento ao público, quer se sentir contemplado quando precisa labutar com um ser humano que está no papel de agradá-lo.

                Feito este preâmbulo, vamos ao Esporte Clube Bahia. Check-in pago, Tv Bahêa+, camisa oficial custando quase quatrocentos merréis, reajuste no valor do plano de sócios, produtos alimentícios caros na fonte nova, todo dia uma camisa comemorativa nova (só esse ano já foram três, fora a que foi distribuída aos sócios-torcedores), estacionamento da fonte nova custando um rim e meio baço etc. além de fatores que não podem ser controlados pelo clube como horário de jogos, trânsito, aumento na quantidade de sócios, insegurança, excesso no número de jogos disputados, criaram no torcedor do Bahia uma relação de clientela. A torcida de ouro está sendo explorada o máximo possível pelo clube quanto ao seu poder de compra motivado pelo amor incondicional pelo Esquadrão de Aço.

                Mas, nem tudo são flores nessa relação. Se eu sou visto como cliente pelo meu clube, eu vou exigir um pouco mais dele. Eu vou querer sempre um espetáculo a altura do meu esforço. E isso não é uma crítica pessoal ao time do Bahia, inclusive estou muito satisfeito e feliz com os caminhos que o nosso time está percorrendo, mas, num universo de 30, 35 ou 40 mil clientes, cada indivíduo sabe qual o seu nível de exigência. Uns imaginam que estão assistindo um Real Madrid acarajé e nunca estão satisfeitos com nada, outros estão com a memória da serie C fresca e anestesiados, curtindo tudo o que está acontecendo com o Bahia. E tem os que entendem o momento exatamente como ele é.

                Ontem ocorreu a peleja entre o Bahia e o diabo vermelho da Colômbia que acabou em um placar ‘’oxo’’.  Muitos atribuem este placar ao fato de que o time do Bahia escalado pelo treinador Rogério Ceni foi altamente mesclado, em teoria priorizando a próxima partida pelo Campeonato Brasileiro contra o Fortaleza. Essa utilização de sete jogadores reservas deixou o Bahia um pouco mais lento e menos criativo, enquanto o adversário focou unicamente em se defender. No final, a estratégia do América de Cali prevaleceu, não permitiu que o Bahia criasse muitas chances claras e, as que o Bahia criou, foram finalizadas em cima do goleiro ou na trave.

                E, como já virou tradição, ocorreu às vaias, seguidas de aplausos. Esse comportamento ocorreu em dois momentos: na saída de Cauly e no final do jogo. O nosso camisa 8 fez mais uma partida ruim, me arrisco a dizer inclusive que ele assinou a súmula com a digital, porque se ele fosse utilizar uma caneta para escrever seu nome, era capaz dele assinar como Jean Lucas na linha ao lado do nome Michel Araújo. Ele errou todos os passes em progressão, não acertou um drible, ligou contra ataque do adversário errando domínio. Ele estava completamente fora de órbita. De fato, a sua atuação foi sujeita a vaias. O Bahia como um todo não destoou tanto assim de Cauly. Goleiro e sistema defensivo praticamente não foram exigidos e a linha de frente toda foi mal. Os únicos destaques positivos foram Acevedo e Pulga, que conseguiram atuar mais próximo do seu nível de futebol, ainda assim seu muito brilho. O Bahia jogou mal e mereceu ser cobrado por sua torcida.

                O ponto é: – O Bahia é o 4º colocado no Campeonato Brasileiro, ganhou 6 dos últimos 8 jogos no campeonato, acabou de vencer um clássico nordestino perante o segundo melhor time da região e acabou de vencer um adversário direto na briga por uma classificação para a Copa Libertadores com gol nos acréscimos, bem ao estilo Bahia, inclusive vestidos de super-homem. Detalhe: com Cauly criando toda a jogada do gol derradeiro do Bahia perante o Galo das Alterosas, uma linda construção desde a defesa, com trocas de passes, tal qual um 10 de antigamente.

Será que esse time não merecia uma colher de chá? Um pouco mais de crédito? Será que parte da torcida não foi dura demais com o Bahia ontem? Ou será que o Bahia tem responsabilidade nesse comportamento tabaréu da torcida? O cliente tricolor tem que voltar a ser mais torcedor ou o Bahia tem que repensar a forma como tá tratando o torcedor como cliente? Há quem diga que o torcedor do Bahia sempre foi assim, mas, eu particularmente não me lembro de nenhuma janela em que o Bahia esteve bem e a torcida do Bahia foi tão exigente. Mas, é como dizem, o cliente tem sempre razão.

BBMP !

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