O “ano letivo” para o Bahia em campo terminou há menos de dez dias e até meados de janeiro próximo o que teremos é a chatice das especulações sobre contratações, dispensas e contratos publicitários e de TV.
Se as notas do aluno Bahia em campo foram de razoáveis a boas ao longo de 2018, não tirou dez em nenhuma prova, mas também não ficou na reco-reco, fora das quatro linhas o desempenho foi de bom a ótimo. Em que pesem alguns descumprimentos de prazos (loja, lançamento dos uniformes, aplicativo), os resultados apresentados por Bellintani, Ferraz e sua equipe são dignas de elogios e estes vieram de todas as partes, tornando-os prescindíveis nestas mal-digitadas linhas para poupar fita da minha Olivetti.
Olhando para 2019, o assunto que mais preocupa certamente é a transmissão dos jogos e a receita gerada por esse serviço. Como sabido, o Bahia faz parte de um grupo de clubes que vendeu os direitos e transmissão de seus jogos na TV fechada para o grupo Turner. Em decorrência disso, como castigo/retaliação, a Globo decidiu impor uma multa de 20% sobre os valores a serem pagos a esses clubes no acordo de transmissão da TV aberta e do pay-per-view.
Ao todo, 7 times da Série A assinaram contrato com a Turner. Desses, 4 assinaram posteriormente com a Globo aceitando o redutor. O tricolor, o Palmeiras e o Atlético-PR, foram os únicos a não aceitarem a redução até aqui e batem pé firme, cogitando até mesmo a perda dessa receita em seu orçamento, como tem dito o mandatário do Esquadrão.
Considerando que até 2017 a receita de TV era responsável por mais de 70% da arrecadação do Bahia no ano, a postura da diretoria parece arriscada, especialmente agora, quando a Turner acabou com o Esporte Interativo e nenhuma outra rede de TV se apresenta como alternativa à rede carioca, seja na TV aberta ou no PPV. Por outro lado, aceitar a redução de 20%, porá o Bahia num patamar provavelmente abaixo do atual em termos de receita.
Pelo lado da TV, perder o direito de transmitir os jogos de 3 clubes seria algo inédito, afetando mais de 100 partidas que envolvem essas equipes. Uma delas atual campeã brasileira, outra finalista da Sul-Americana e o Bahia, maior torcida do nordeste e com elevado número de assinantes de PPV em nível nacional.
Obviamente, Bahia e CAP são coadjuvantes na batalha entre Globo e Palmeiras. Este, não é tão dependente da receita de TV. Por ter um lastro enorme de sócios, receita de estádio e uma patrocinadora bem generosa tem mais músculos e fôlego para suportar o combate. Um acordo com eles enfraqueceria a rebelião dos dois remanescentes e diminuiria o prejuízo da Globo.
Dividir para conquistar é uma estratégia elementar utilizada tanto nos conflitos bélicos como na política e nos negócios. Os executivos da TV certamente sabem disso e poderiam aplicar esse princípio com o Palmeiras facilmente se não tivessem um pequeno problema. Internacional, Santos, Fortaleza e Ceará já se submeteram ao castigo dos 20%. Aceitar os termos palmeirenses certamente provocaria rebelião nesses quatro. Especialmente no Santos e Inter. Isso explica a inflexibilidade da emissora na mesa de negociação.
Bahia e CAP também possuem boas cartas na mão. Ao assinar com a Turner, receberam a garantia de que, caso não assinassem contratos de TV aberta, receberiam cerca de R$18 milhões como compensação, segundo o UOL. Além disso, outros R$14 milhões são garantidos pela transmissão na TV fechada, fora os percentuais variáveis (colocação no final da competição + exibição de jogos).
Pelo último balancete disponível no site do Bahia, a receita com TV neste ano foi de pouco mais de 60 milhões, até outubro. Uma projeção permite chegar ao valor de R$72Milhões ao final de 2018.
Até esse ano, o Bahia tinha R$35 Milhões fixos pelo contrato de TV aberta. Para 2019, sem acordo com o PPV e TV aberta, o Bahia tem garantidos 32 milhões de reais, sem contar o variável.
Submetendo-se à proposta da Globo, terá R9,6 milhões fixos (fruto dos R$240 milhões divididos igualmente entre os 20 participantes da A menos o desconto de 20%) e ao fim da competição, os percentuais variáveis (R$180 milhões distribuídos conforme a classificação e outros R$180 milhões de acordo com a exibição de jogos, ambos com o desconto de 20% também).
Em setembro o presidente do Bahia previa uma queda de receita na ordem dos R$35 milhões em decorrência da ausência da Globo e dizia estar preparando o clube para tal impacto. Em entrevista à Transamérica na semana passada, Bellintani deixou claro que o novo modelo de contrato não foi vantajoso para o Bahia. Falou ainda sobre sua insatisfação com o tratamento diferenciado dispensado a Corinthians e Flamengo. Ambos têm cota mínima de PPV no valor de R$120 milhões.
A AT&T, atual dona da Turner/EI, garante que transmitirá os jogos de seus sete contratados em canal fechado e precisa achar um parceiro em TV aberta para repassar os direitos de Palmeiras, Bahia e Atlético-PR.
A Globo segue ameaçada de perder milhares de assinantes de PPV, fora a audiência nos canais abertos. Também vai apresentar um produto incompleto para seus anunciantes ao mesmo tempo em que pode criar uma confusão ainda maior, caso ceda às exigências dos três dissidentes.
Como pode ser visto, há diversas variáveis a serem consideradas pelos clubes e redes de TV envolvidos. Apesar de ter um arsenal menor, Bahia e CAP parecem alinhados com o Palmeiras em sua estratégia e estão se preparando para uma eventual ruptura. Não há jeito fácil de se chegar a um acordo. O certo é que ninguém sairá ileso dessa guerra de interesses. O que se espera é que o número de baixas do lado tricolor seja reduzido e que não tenhamos um triunfo de Pirro ao final.
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