é goleada tricolor na internet
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Publicada em 13 de janeiro de 2014 às 00:00 por Autor Genérico

Autor Genérico

O tempo passa…

Lembro-me como hoje, quando ia para a Fonte Nova, na primeira metade da década de noventa, com meu tio, e ele contava, para aquele garoto de no máximo quatorze anos, histórias de jogos e jogadores das décadas de setenta e oitenta. Pareciam relatos distantes, tão-distantes como aos, dos gladiadores romanos, e eu ficava imaginando, sonhando, como teria sido vivenciá-los.

Mas, o tempo passa, e agora em 2014 será comemorado o vigésimo aniversário de uma das maiores conquistas do Bahia, e, provavelmente, a mais emocionante de um Campeonato Baiano.

Há quase vinte anos, poucos dias após o Brasil conquistar o tetracampeonato mundial, mais de noventa mil pessoas foram para a Fonte Nova assistir ao último Ba-Vi de uma série inesquecível naquele ano, que começou com uma goleada do Vitória, e terminou com um gol antológico de Raudinei.

No meio daquela multidão, estava aquele garoto, com seu pai, em pé e exprimido na velha Fonte Nova, na arquibancada superior, onde ficava a “Povão”. Pai que, até o ano de 1989, não sabia o que era futebol, mas que ainda hoje vai aos jogos, menos frequente depois que o garoto aprendeu a andar com suas próprias pernas, mas sempre presente quando é chamado.

Hoje, é o garoto quem conta para os seus sobrinhos a emoção de ter presenciado Raudinei, aos 46 minutos do segundo tempo, empatar o jogo e fazer explodir um grito que veio da alma como nunca antes tivera acontecido e que fez até esquecer, por um momento, a dor da perda de sua avó materna naquela mesma semana, e lhes mostra a camisa tricolor original daquele ano, guardada com carinho em seu guarda-roupa e que foi usada naquele dia.

São cerca de quinze segundos, que parecem ter durado toda uma existência: bola recuada para o campo de defesa do Bahia, Jean, como se fosse um líbero, devolve para o meio de campo, e, após um chutão, dois toques de cabeça, a bola sobre para ele, Raudinei: o tempo para, o barulho some, quem saía volta, e todos olham incrédulos, a bola ir em direção ao gol.

Ninguém sabia o que fazer, torcedores se abraçavam, choravam, gritavam, tudo ao mesmo tempo. Só não sei como respiravam – se é que isso era importante naquele momento. Os jogadores corriam para todos os lados, sem saber como e onde comemorar, alguns foram inclusive em direção à torcida adversária. Torcida, esta, que em poucos segundos esvaziou sua parte na arquibancada, deixando o estádio para que a festa fosse feita por quem de direito.

O garoto que frequentou a Fonte Nova por quase dezoito anos, até a sua interdição e posterior demolição, indo a praticamente todos os jogos, independentemente de dia, horário, compromisso e de quem fosse o adversário, que viu grandes triunfos, que presenciou a maior tragédia do futebol baiano, no fatídico jogo que parte do velho estádio cedeu e matou sete pessoas em 2007, que também teve decepções, como dois rebaixamentos, eliminações e goleadas sofridas, quando é perguntado do maior jogo de todos os tempos, sem pensar, responde que foi o daquele domingo de sol.

E, parece que foi ontem.

Todavia, outros vinte anos logo passarão, e espero que meus sobrinhos – e também meu filho – possam também ter lembranças tão doces como as minhas, apesar de calejadas pelos últimos anos, para contar aos seus filhos e sobrinhos, dando continuidade àquilo que nos identifica.

Que esse “novo” Bahia que se apresenta não seja a farsa de outras tragédias.

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