é goleada tricolor na internet
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Publicada em 8 de dezembro de 2014 às 00:00 por Vladimir Costa

Vladimir Costa

Pau que nasce torto, cai torto

Escrever na noite em que a queda do Bahia se confirmou foi a forma que encontrei para expressar o que estou sentindo. Na verdade não estou com raiva –esgotei-a logo antes da Copa, com a manutenção de Marquinhos Santos– nem decepção, esta veio quando perdemos em casa pra Chapecoense. Hoje só sinto tristeza. Não apenas pela queda em si, mas por saber o peso que ela tem para o clube e seu torcedor. O fantasma do período da dinastia Maracajá-Guimarães reapareceu. Afinal, da última vez em que caímos, levamos sete anos para subir.

Mas não é de fantasmas exorcizados e que estão a rir como hienas obsessoras o que quero tratar. Permita-me o leitor contar uma passagem de minha vida. Há sete anos, perdi meu pai para o câncer. Lembro-me de quando ele ficou gripado e como sua recuperação demorava. Surgiram dores abdominais e, ao ir ao médico, um catatau de exames lhe foi prescrito. Torci e orei desesperadamente para que não fosse câncer, afinal, aprendi que quando você sente dor causada por ele é porque há pouca chance de cura (isso não é verdade absoluta, por favor!).

Um dia, saindo do trabalho, meu irmão liga e confirma o diagnóstico: câncer de estômago. Caminhei chorando pro ponto de ônibus. Sem nunca ter lido Gramsci, me identifiquei com o que o colega Alex Rolim escreveu em sua coluna da semana passada: “Faço parte da minoria gramsciana da torcida “pessimismo na razão, otimista na vontade”. Faço os piores diagnósticos desejando ser contrariado”. Dali em diante, meu velho só piorou e foi definhando até que descansou na morte no começo de maio de 2007.

Aprendi a ser Bahia por causa de meu pai, além de Claudio Adão, Bobô e Charles. Por isso, a situação do Bahia me remeteu a essa lembrança triste. O diagnóstico foi tardio. Os especialistas que o acompanharam disseram que o mal já vinha de anos antes. Seria necessária uma intervenção séria, tratamentos doloridos e radicais para tentar dar-lhe uma sobrevida.

Houve algumas melhoras, mas infelizmente o estrago estava feito e, num determinado momento, me resignei com sua perda e, num misto de desespero e pena, torci que sua vida fosse encurtada para que parasse de sofrer e deixasse que as pessoas que o amavam ficassem ainda com sua imagem de um passado de vitalidade, carisma e alegrias.

Mas, infelizmente ele agonizou até o fim. Sofreu, foi desenganado e todos ao seu redor só podiam orar e se compadecer. Até que veio o último suspiro, que eu não quis ver, de forma egoísta preferi não testemunhar seus últimos instantes. Mas confesso que a notícia que chegou pelo telefone não me entristeceu na hora. Foi na verdade um sentimento de alívio. Como esperado há meses, o Bahia estava rebaixado.

Um famoso projetista de carros de Fórmula 1 disse certa feita que um carro mal nascido não tem conserto. Se ele foi mal projetado, não há mudanças que resolvam. É como diz o poeta: “pau que nasce torto, nunca se endireita”. O “pojeto” Bahia 2014 começou mal desde o nascedouro. Culpa de um monte de “donzelo” se metendo a cartola de um time quebrado.

Fernando Schmidt e seu “Assessor Especial” –nome bonito pra “gambiarra não remunerada”– Sidônio Palmeira, Valton Pessoa e William “Capita” são os principais responsáveis por essa desgraça em campo. Ao longo de mais de 300 dias, víamos os erros se repetirem, assim como as desculpas, demissões e contratações de dirigentes e jogadores. Todo mundo via, todo mundo falava e apontava os erros, mas, a teimosia, pra não dizer coisa pior, somada à falta de dinheiro (alô, diretoria de negócios, bom dia, meu bebê; bom dia, meu bebê…) rebaixou o Bahia desde a parada para a Copa do Mundo e, ainda que os demais rivais tenham ajudado, a “disgraça” do time não conseguiu fazer míseros 42 pontos de 114 possíveis.

Reclamar da ruindade de Henrique, dos frangos de Lomba e das âncoras nos pés de Titi é pouco. Ao Bahia, faltou profissionalismo e respeito no futebol. O rebaixamento foi consequência justa da incapacidade do único departamento que interessa ao torcedor. Milhões jogados pelo ralo, enquanto times menores conseguiram campanhas no mínimo dignas, com orçamentos infinitamente menores que o nosso, são evidência clara de que nos faltou competência.

Assim como a bíblia fala em ressurreição, quando espero rever meu velho, a Série B pode servir de recomeço para o Bahia em breve. Que o novo presidente consiga conduzir essa pobre alma à vida eterna na série A, não como figurante, mas ao menos como coadjuvante e, quem sabe, protagonista no futuro?

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