é goleada tricolor na internet
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Publicada em 2 de outubro de 2015 às 00:00 por Autor Genérico

Autor Genérico

Pecados capitais e interiores

Dizem que a inveja é um dos sete pecados capitais, ou seja, um dos pecados considerados pelo catolicismo como raízes de todos os males oriundos do ser humano. Compõe, junto com preguiça, gula, luxúria, avareza, vaidade e ira, a lista de falhas primárias dos filhos de Deus na Terra. O Papa João Paulo II ainda citou a Tríplice Concupiscência como o nascedouro de tais pecados, sendo esse triunvirato da maldade composto pela concupiscência dos olhos, pela concupiscência da carne e pela soberba da vida. Resumindo em graúdos, a causa primeira dos males da Terra está no orgulho e na vaidade.

Orgulho e vaidade imbricam-se e complementam-se entre si. Não dizem respeito apenas ao autoendeusamento físico ou autorreferenciado. Dizem respeito ao não reconhecimento das próprias falhas e da própria imperfeição; e também dizem respeito a não querer modificar o que reconhecidamente está indo mal, a fim de não demonstrar suas fraquezas.

O self humano, quando em crise, busca álibis e justificativas aos seus próprios erros e cai em depressão grande parte das vezes ao reconhecer-se imperfeito e falho (e nada faz para melhorar porque exige ter nascido perfeito: tudo ou nada). Uma interpretação errônea de conceitos humanistas puristas faz com que algumas pessoas desistam de si mesmas ao ver que não chegaram ao ponto que queriam. E talvez jamais chegarão…

Grande parte de tais quadros depressivos são potencializados pela culpa imposta por religiões judaico-cristãs quando da afirmativa que diz que o homem já nasce pecador, portanto, um condenado sem sentença publicada no DJE dos céus e terras.

Ultimamente, o que o torcedor do Bahia mais tem feito é se comparar com aquilo que vem do lixo. Especialmente quando o time de Canabrava vence uma partida considerada difícil ou em véspera de clássico. Deseja ter Escudero depois de um dia ter desejado ter o Primo de Messi (teve, e este até agora não “se pagou”). Isso é inveja: pecado número um.

Ainda em se tratando de inveja, o torcedor do Bahia estrebucha-se em franca sialorréia quando se recorda do outro rubro-negro, o de Recife, o qual a despeito de ter um time cheio de jogadores de relativa fama e técnica, perdeu o Estadual para um interiorano, perdeu do “péssimo” Bahia no Nordestão, praticamente não tem chances de Libertadores e tomou recentemente uma varada de um argentino sem choro nem vela. Está na série A e obviamente isso demanda ter um elenco mais qualificado e caro.

O torcedor do Bahia, ao ver tais potências mundiais “ganhando tudo pela frente”, entra em convulsões de ira contra a diretoria, contra o próprio clube e contra o elenco. Pecado número dois.

Irado, o torcedor demonstra preguiça de pensar e incorre na gula quando, num mecanismo de defesa do próprio ego, passa a desconfiar de toda e qualquer contratação ou ação empreendida por técnico e diretoria, como se estivesse falando do Íbis e pensando como Barcelona. Não entende que a estruturação do clube passa pelos eixos acesso, manutenção em longo prazo, estruturação institucional e mudança de padrão competitivo. Pecados três e quatro.

Para não dizer que falei apenas da torcida, temos uma diretoria avara no pensar e pródiga no agir, haja vista a velha e boa política da carreta continuar a todo vapor: pecado número cinco.

Quanto à luxúria, que tem conotação de lascívia ou corrupção sexual-moral, vamos forçar a barra (senão eu perco a metáfora) e extrapolar ao “sensualismo” direcionado à própria personalidade do dirigente. Com discurso sedutor e bem articulado, o dirigente atrai todos os olhares para si com um discurso modernista, porém de práticas anacrônicas, as quais tem se demonstrado equivocadas, como a política de futebol e a forma com que o torcedor-sócio é tratado nas arenas. Sexto pecado.

Diante da legítima ira da torcida em razão de resultados adversos, dirigentes ficam mais irados ainda via redes sociais, quando o melhor discurso seria o do silêncio e da atitude. O torcedor continua a morrer: de inveja de flamengos e chapecoenses; ou de grêmios e atléticos. Dirigente e técnico, na gula do próprio orgulho que alimenta seu poder, não reconhecem seus erros e a probabilidade crescente de um não-acesso diante do futebol pífio – para os padrões de quem aspira a Série A.

O torcedor do Bahia permanece na luxúria do gozo contínuo de um passado que jamais voltará, e precisa seguir em frente reescrevendo sua história. Goza também diante das derrotas do passado para vitimizar-se e antecipadamente justificar que apenas terceiros erraram e ele próprio não é corresponsável. É concupiscente nos olhos ao ver seus rivais em campo conquistando bons resultados, ainda que de momento. É concupiscente na carne quando nega a própria realidade e busca o gozo por meio da fuga fantasiosa. É soberbo na vida quando fica se medindo com um rival para justificar sua situação quando poderia olhar apenas para a frente e para o alto, trilhando seu próprio caminho.

Nos momentos mais desesperadores, o torcedor aponta o dedo para quem está à sua frente, no caso o dirigente. Em que pese a responsabilidade individual do Sr. Apóstrofo pelos atos praticados a partir do primeiro até o último segundo do seu mandato, não é de hoje que o Bahia se afunda nos próprios pecados. Gula de dirigentes do passado, vaidade dos atores que compõem e comporão o clube e soberba de grande parte de dirigentes e torcedores por não querer evoluir, além de orgulho em querer ser o maior sem pavimentar as bases para tal. Oremos, pensemos, ajamos: sábado que vem, tem mais um duelo contra as forças vermelhas e pretas do mal.

Vencendo o demônio de Canabrava, o paraíso para quem está pressionado. Empatando ou perdendo, a Série C será logo ali, mesmo que matematicamente não haja possibilidade para tal. O insucesso, se houver, será apenas mais um capítulo de um clube que ainda não acordou para sua verdadeira realidade: a de um clube mediano que vive do passado e precisa construir seu próprio caminho.

Não basta ser um clube DA Série A, e sim tornar-se um clube DE Série A. A forma como isso se dará não importa, mas é aprendendo com os erros que se acerta. Espero que o treinador e o periodista presidente entendam isso sem melindres.

Saudações Tricolores!

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