é goleada tricolor na internet
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Publicada em 31 de agosto de 2015 às 00:00 por Autor Genérico

Autor Genérico

Saia desse padrão!

Um dia, estressado de tanto trabalho, descobri que estava com uma úlcera gástrica. Pudera! trabalhava parecendo um louco de domingo a domingo, comia mal pra caramba (quando comia) e ainda perdia de três a quatro noites na semana!

Lamentei-me até não poder mais, afinal “iria perder dinheiro se trabalhasse menos”. Meu pai, ao ver-me chateado, chegou e disse: “de que você está reclamando, se você fez por onde? Você queria ter um câncer por acaso?” Calei-me e interrompi imediatamente as murmurações. Bola pra frente.

Tratamento padrão, uma dietazinha básica, uns remedinhos e em menos de 30 dias estava zero bala. Descoberta a causa, tratamento correto e ajustes feitos a fim de que não houvesse recidiva. Hoje, a despeito dos meus pigarreantes refluxos, aquele problema nunca mais voltou.

Ato contínuo, depois de resolver, pela avogadrésima vez, ser uma pessoa melhor no padrão Epitáfio de vida (amado mais, visto o sol nascer e o jacarandá a quatro), busquei uma psicoterapia. A profissional, por sinal, um dia me alertou que eu precisava “sair desse padrão”. Padrão?!

Sim, o padrão. O padrão neurótico que faz com que repitamos diuturnamente e inconscientemente determinados comportamentos. Por exemplo, a crença de que trabalho é objetivo e não meio de vida. A crença de que somos perfeitos e que não podemos falhar nunca. Esse é o padrão e é nossa luta diária vencê-lo se não quisermos que a bomba estoure lá adiante. Coisas não resolvidas no campo mental são piores que a fatura do cartão de crédito paga no valor mínimo em tempos de pixulecos tributários escorchantes.

Analisando os padrões neuróticos do universo tricolor da Fazendávila, 59 e 88 são mais do que a saudade para a maioria dos torcedores acima dos trinta anos de idade: são o apego a um tempo que dificilmente voltará. Por algum motivo, o torcedor do Bahia envolveu-se num escudo feito de aço 88 polegadas e disse: pra mim isso me basta e não preciso evoluir.

O mesmo padrão foi extensamente repetido por sucessivos dirigentes, inclusive tendo alguns supostamente feito do clube uma espécie de investimento pessoal de longo prazo e balcão de favores. Neste caso, usou-se tal padrão para esconder possíveis malfeitos.

Após a democratização do clube, a última moda na Paris do Doutor Almeida Castro passou a ser a palavra gestão. É plano de gestão pra lá, plano de gestão pra cá, coach, manager e CEO prali. Uso de ferramentas gerenciais num clube de futebol não é ruim, pelo contrário, mas de repente a coisa fica fordiana demais ou keynesiana demais, quando neste caso o dirigente protagoniza as manchetes do clube em vez dos atletas. O que se viu nas últimas eleições foi uma política partidária de fazer inveja aos petistas e tucanos.

Não que devamos demonizar a política, afinal de contas praticamos política todos os dias de alguma forma. Contudo, os efeitos colaterais das promessas de campanha são sentidos pela torcida com o passar do tempo ao ver que algumas coisas permanecem as mesmas de sempre.

Segue o Bahia a contratar e descontratar jogadores de séries inferiores sob alegação de economia. Permanece o Bahia a vender promessas da base por valores questionáveis sob alegação de equilíbrio das finanças e buscando manter salários em dia. Salários estão em dia, mas o treinador permanece usando o limitado elenco como laboratório e os atacantes perdendo gols em escala industrial. Fora os apagões contra os dois leões rubro-negros neste semestre.

“Somos bicampeões brasileiros” e pronto. Assistimos o maior rival brigando pela liderança do campeonato e o desespero do torcedor aumenta. Vimos o coirmão de Pernambuco, também rival, jogar com uma raça jamais vista – usando inclusive refugos de grandes clubes do Sudeste, tão criticados pela torcida ao longo dos anos haja vista experiências malsucedidas no próprio Bahia com esse perfil de jogador.

Oposição, no maior estilo like a boss, diz “eu já sabia”. O jogo para 2017 está apenas começando.

O fato é: o presidente Apóstrofo, eleito pela maioria dos sócios do clube, não está conseguindo sair do padrão: o padrão do mediano, do meia-boca, do regular.

Inclusive o mesmo mandatário, junto com o seu substituto, repetem (mais civilizadamente que os seres das trevas) o comportamento de rebater crítica de torcedor revoltado em rede social, esquecendo que impessoalidade e paixão andam em paralelo.

Sucessivos anos mantendo o mesmo padrão tem seu corolário, e um dia a conta chega. A conta já chegou, travestida de Série C e de goleadas para times terciários do Ceará. Agora estamos pagando os juros em uma regressiva tabela SAC da desonra.

Recomenda-se que o presidente e o substituto tricolor falem menos e continuem buscando uma solução para o problema que eles mesmos criaram. Não é o fim do mundo, de forma alguma, e poderia ser pior como já foi. Mas empatar com o lanterna da Segundona, depois de vários outros resultados pífios, é sintomático de que é preciso fazer alguns ajustes.

Prometer ser “um clube melhor”, tirar as ervas daninhas do jardim e buscar o acesso é o mínimo que se pode fazer. E uma vez subindo, que se busque uma forma de se manter. Caso contrário, o apóstrofo será rebaixado a vírgula e o tempo passará implacável por cima dele: reduzido a um underscore ou um espaço no papel do tempo.

Saudações tricolores!

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