Volto de um longo período de hibernação. Sinal dos tempos. Tenho emitido mais opiniões sobre futebol (e consequentemente sobre o Bahia) em grupos fechados de whatts app do que propriamente com manifestações públicas nas redes abertas.
Ironicamente, minha última participação aqui nesta briosa página foi num texto de 23 de janeiro, regido sob o título: “O papel da crítica e outras milongas mais”. Depois do exposto, sem cumprir com afinco o prometido, madornei em atividade reduzida face as temperaturas árticas que acometeram esta atmosfera tão mutável.
O que motiva meu regresso, entretanto, não é um tema tão palpitante ou mesmo inquebrantável. Muito antes. São uma sucessão de pontos que, procrastinadamente, demoro a me posicionar.
Então, a eles, sem pena!, diria João Ubaldo.
Na última sexta-feira (26/6), a direção do Bahia e a Prefeitura de Salvador assinaram o repasse das transcons (corruptela para Transferência do Direito de Construir), ante a demolição da sede de praia do clube, ocorrida em fevereiro de 2013.
Com o repasse das transcons, a direção deu declarações nos jornais indicando a possibilidade de finalmente assumir o centro de treinamento Cidade Tricolor, que hoje, assim como o Fazendão, estão sob a posse da construtora OAS.
O assunto foi tratado de forma tímida pela direção até que a solução (via transcons) se irrompesse mágica no horizonte. Máxima discrição, mínima transparência.
Mas qual a relevância do tema? Veja. Ao contrário do que a maioria pensa, no momento, o Bahia não goza da propriedade de nenhum dos dois CTs que levam suas cores e supostamente possuem sua digital.
A querela antecede a gestão SantAna. O presidente deposto Marcelo Guimarães Filho, ainda no poder, atrelou a construção da Cidade Tricolor ao repasse do Fazendão. Fez isso imaginando que teria de bate-pronto as transcons para entregar à construtora. Não tinha. O Ministério Público pediu cautela para examinar o caso e reteve a liberação do crédito imobiliário.
Neste ínterim, a OAS finalizou a Cidade Tricolor. E então, sem o dinheiro prometido, recebeu o Fazendão como garantia pela construção do CT de Dias DÁvila. Passou a ter os dois. E o Bahia, nenhum.
No fim do ano passado, como revela o jornalista Vitor Villar em matéria no jornal A Tarde, Fernando Schmidt fez um acordo para comprar a Cidade Tricolor, pagando parte em dinheiro e outra em transcons. Como a liberação da mesma ainda não havia sido dada, o acordo não foi adiante.
Aqui é um ponto, no mínimo, inusitado. Pois o torcedor mais atento há de se lembrar que, próximo de deixar o cargo, em anúncio de página inteira feita nos principais jornais do estado, enumerando seus feitos, a gestão de Schmidt ressaltou que, em relação ao seu antecessor, o Bahia havia tido uma elevação patrimonial de 0% para 200% (indicando que havia recuperado o Fazendão e a Cidade Tricolor).
O fato é que, infelizmente, não se lia verdades naquele anúncio. Schmidt deixou sim acordado a transferência das sedes mediante as transcons. Mas não recuperou o patrimônio.
Como, de fato, até hoje os dois CTS ainda não foram recuperados pelo tricolor.
O patrimônio era 0% com MGF, seguiu 0% com Schmidt e continua em 0%.
Isso explica, em partes, o fato do Bahia ainda não ter o patrocínio da Caixa Econômica Federal, diferente do maior rival, que o detém deste 2013.
O Vitória tem o Barradão para servir como fiador do acordo. O Bahia não tinha/tem patrimônio para dar lastro ao contrato com o banco federal.
E eis que SantAna assume em dezembro do ano passado e toma conhecimento da situação. E, logo depois, vê a situação se agravar.
Em abril deste ano, a OAS, alvo de investigação da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, entra com pedido de recuperação judicial. Logo depois, a própria empresa sinaliza vender a Arena das Dunas (estádio da Copa, em Natal) e sua parte no consórcio Arena Fonte Nova.
A construtora que possui os dois CTs do Bahia se desfazendo de parte do seu patrimônio — dois dos quais ligados ao setor da empresa que cuida do futebol. Nada mais desesperador. Temendo entrar na história como o presidente que transformaria o Bahia em inquilino do seu próprio sítio, SantAna guardou o assunto a sete chaves.
Há quem possa arguir que agiu com discrição para conduzir o caso para seu melhor desfecho. Vejo diferente. A única saída para o impasse seria a liberação das transcons, que, naquele momento, estavam de posse da prefeitura.
Por que o clube, institucionalmente democrático, não optou por informar a sua torcida do que vinha acontecendo? Por que não aproveitou para usar a força da mesma para pressionar o poder público? Afinal, os torcedores do Bahia, que em sua esmagadora maioria residem em Salvador, são ou não contribuintes da prefeitura?
Perguntas ao ar.
Não ignoro a existência de temas que precisem ser tratados com sigilo em nome de posições estratégicas. Mas há outros, de inegável apelo, que não podem deixar de chegar ao conhecimento do torcedor. Ainda mais um que envolve o legado patrimonial do clube — no momento, aliás, inexistente.
A democracia existe para que o sócio participe das decisões do clube? Ou estão todos lá apenas para aplaudir (decisões) e pagar (a conta)?
Perguntas ao ar.
No aguardo destas respostas, hiberno.
comentários
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