Atenção turma: hoje nossa aula para o jogo vai ser sobre Geografia; mais precisamente, vamos focar no tópico de-mo-gra-fia. Os mais religiosos não precisam se persignar nem dizer “vade retro”, porque o demo aí dessa palavra não tem nada a ver com o capeta, o tinhoso, o coisa-ruim; também não é nada relacionado a fita demo, software demo, que é coisa de preguiçoso que não quer falar o polissílabo demonstração. Esse demo de demografia é o mesmo de democracia e significa povo.
Então, meu demo, quer dizer, meu povo, vamos, com a demografia, estudar uma população e suas características quantitativas. Mas em vez de analisar uma cidade, um estado, um país, iremos estudar uma população mais restrita que é a dos jogadores (vocês, no caso) dentro de um campo de futebol. Vocês estão me acompanhando e entendendo, não? Ô, Souza, acorda aí e presta atenção, por favor, per favore, please, bitte e sil vous plaît! Parece que está precisando tomar remédio para hipotiroidismo…
Então, prosseguindo, vamos falar… Atenção, que é importante, gente! Olha a conversa paralela! De quem é esse celular aí tocando? Peço encarecidamente que desliguem seus aparelhos! É como na decolagem do avião, pessoal, não pode ficar com aparelhos eletrônicos ligados, entenderam? E tirem também os fones de ouvido dos iPods! Putz, assim é difícil…
Pois então, onde é que eu estava mesmo? Ah, no campo de futebol. Imaginemos um campo com as dimensões de 100m x 70m (comprimento e largura, estão acompanhando? Vou escrever aqui no quadro pra facilitar). Pois bem: multiplicando o comprimento pela largura, deixa eu ver… hum… sete vezes nada é nada, um vezes sete ou sete vezes um é sete… zero pra lá…isso dá uma área de 7000m2 é como se a gente transformasse o campo num tabuleiro de xadrez… de damas, vá lá, e isso resultasse em 7000 quadrados de 1 metro cada. Então nesse campo jogam 22 jogadores, certo? Sim, sim, eu sei que às vezes alguns são expulsos, Hélder, mas estou falando em circunstâncias normais. Temos uma população absoluta de 22 jogadores distribuídos no campo ou nos 7000m2.
Com esses números nós podemos calcular a densidade demográfica no campo de futebol (estou excluindo o juiz, que não joga, os bandeiras, o médico e o massagista, os penetras eventuais, etc). Não, não! Densidade não tem nada a ver com uma cidade ou com a idade de ninguém. Vejam só: a densidade demográfica é a concentração da população. Não, não! Não é aqui a nossa concentração no hotel ou em qualquer outro lugar. Puta-que-o-pariu… assim vai ser f…!
Então, voltando à densidade demográfica, temos o seguinte: num campo de futebol de 7000m2 e com 22 jogadores, a média da distribuição da população é de 0,0031 jogadores/m2. Em outras palavras: cada jogador tem à sua disposição cerca de 318m2 para si, como se fosse um loteamento, estão compreendendo? É, vamos lotear Pituaçu pra sua mãe! Desculpem, é que perdi um pouco a paciência! Não é o meu estilo.
Retornando ao raciocínio: essa densidade demográfica que eu falei é estática e não dinâmica. Sabem o que é estática e dinâmica, né? No momento que o jogo começa, as peças começam a se mover, a se deslocar no campo e a ocupar espaços diferentes, mudando a configuração inicial e restringindo ou ampliando os espaços vazios, invadindo inclusive os espaços, as áreas, dos outros. Então, se tivermos um time atacando com todos os seus jogadores de linha, vamos ter uma metade do campo quase vazia de um lado e outra bem povoada do outro. A metade povoada então passa a ter uma densidade demográfica bem diferente, maior. Fui claro? A metade de um campo tem 3500m2. E com 21 jogares ocupando esse espaço, a densidade demográfica estática aí já muda para… peraí… dividido por… dá 0,006 jogadores/m2. Sim, boa observação, eu sei que já está todo o mundo correndo, que não é mais estática; eu só queria mostrar com números que os espaços ficam mais reduzidos porque tem mais gente ocupando-os. Obrigado ao roupeiro pela oportuna intervenção.
Se o nosso time é atacado, nós temos que posicionar os nossos jogadores mais em nosso campo para retomar a bola. E não é só uma questão de povoar mais a nossa metade do campo e ficar ali guardando o nosso lote. Lote hipotético, por favor! Nós temos que, com movimentação e atenção constantes, tentar ocupar um lugar mais próximo do quadradinho em que o jogador adversário se encontra, para dificultar o passe, para evitar que soframos gols, para podermos retomar a bola e para, daí, partirmos para o nosso ataque. Quando um jogador adversário se desloca, não é falta de educação segui-lo de perto, dificultar sua ação e roubar-lhe a bola é isso que eu quero salientar. Ouviu, Fahel?
Quando atacamos, a conduta deve ser a inversa: a nossa movimentação tem que se dar de forma tal que, nos desvencilhando do adversário, sempre tenhamos um companheiro ocupando um espaço livre para tocarmos a bola até ele sem risco de interceptação por parte do adversário. Agora, uma outra coisa: para que nossos ataques sejam mais produtivos, nós devemos aumentar a nossa densidade demográfica nas proximidades e dentro da área do adversário. Isso significa dizer que não podemos ter um jogador que chegue à linha de fundo ou à lateral da área e faça um cruzamento para não encontrar vivalma lá na zona do agrião. Nós não estamos chegando com nossa população na área dos outros! Quem foi que proibiu? Por que não há sempre alguém no primeiro pau, outro no segundo e, pelo menos, mais um na meia-lua ou na marca do pênalti? E a segunda bola, aquela que é rebatida da área? Existe alguma lei que diga que deve sempre ser do adversário? Que aquela zona lá deve sempre ser demograficamente ocupada apenas por eles?
Outro aspecto: observem que o time que cobra laterais e escanteios fica em desvantagem numérica no campo. A sua densidade demográfica diminui, porque um jogador sai de campo para realizar a cobrança. Assim, quando o lateral ou escanteio é contra nós, nós temos um homem a mais no campo; é nossa obrigação, com essa vantagem, marcar melhor e dificultar as ações do adversário. Se o lateral ou escanteio é a nosso favor, principalmente o lateral, devemos fazer a cobrança o mais rápido possível para não dar tempo do adversário nos marcar porque eles estão com um homem a mais para isso e a densidade demográfica está contra nós. O quê? Não. Arremesso lateral não precisa ser cobrado exclusivamente pelos laterais qualquer jogador pode fazer isso. Mas parece que só os argentinos é que sabem disso.
Os escanteios a nosso favor com a subida dos nossos beques para a área do adversário só podem continuar depois que o meu plano de saúde aprovar minha permanência em UTI por mais de 60 dias. Titi, meta na cabeça que o que você faz bem é desarmar os adversários com os pés e propiciar arremessos laterais graciosos para eles, sem ao menos tentar despachar a bola para o ataque ou fazer a bola resvalar neles para que tenhamos um lateral beneficiando nosso time. Você não sabe cabecear para o gol adversário. Você está terminantemente proibido de aumentar a densidade demográfica na área adversária, a não ser que já estejamos no desespero, o que significa dizer: se estivermos perdendo depois dos 35 minutos dos segundo tempo, que é quando eu me decido, depois de muito me questionar e ponderar, a proceder a entrada de algum jogador do banco de reservas.
Gostaria de salientar também que as faltas (tiros livres diretos) devem ser cobradas diretamente, di-re-ta-ment-te, reto (ou em curva) em direção ao gol. Tudo aquilo que vocês aprenderam com Arthurzinho, de dar aquele toquinho pro lado pra tirar a bola da barreira ou sei lá o quê, não deve ser executado nem no vídeo game. E a razão para isso é que, após o toquinho, a densidade demográfica nas proximidades da bola aumenta exponencialmente e as chances de sucesso no arremate diminuem na razão em que aumentam as chances de um contra-ataque fulminante do oponente. Essa jogadinha só serve mesmo para aumentar o meu vocabulário com os impropérios que a torcida solta no meu pé de ouvido.
Como se pode ver, turma, futebol é muito simples. É o que eu estou tentando passar pra vocês. É tudo uma questão de densidade e podemos usar o que é denso a nosso favor. Alguma pergunta? Sim, meu filho, pode dizer! O que foi que você não entendeu? Tudo o que eu disse depois do atenção turma? Vou voltar pra Jamaica…
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