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Torcedora argentina tem plano de popularizar o Bahia em Buenos Aires

Notícia
Entrevista, História
Publicada em 9 de junho de 2024 às 13:00 por Alan Vasconcelos
Apaixonada pelo Bahia, argentina diz que tem como objetivo "baianizar" bairro dominado pelo Boca Juniors
Argentina apaixonada pelo Bahia Bahia no bairro do Boca Juniors
Em meio a um mar auri-celeste, o azul, vermelho e branco ganham destaque. Foto: Arquivo pessoal

Não há dúvidas de que Buenos Aires é a cidade que mais respira futebol em todo o planeta. A enorme capital da Argentina é o lar de 3 milhões de pessoas, mas o número de habitantes aumenta drasticamente para 13 milhões se contarmos toda a extensão metropolitana ao seu redor, essa área é conhecida como Grande Buenos Aires ou AMBA (Área Metropolitana de Buenos Aires).

Região urbana com a maior quantidade de estádios no mundo, a AMBA possui 36 “canchas” com capacidade superior a 10 mil torcedores e mais de 30 clubes profissionais nas principais divisões do Campeonato Argentino.

Mas no meio de tanta gente e de tantos clubes mundialmente conhecidos, como Boca Juniors, Independiente, Racing, River Plate e San Lorenzo, existe um tricolor inusitado que se destaca e que chama atenção de quem passa por lá: o Esporte Clube Bahia.

A Paixão de uma argentina pelo Bahia

No coração da Argentina, em meio às coloridas ruas do Caminito, no famoso bairro de La Boca, onde a paixão pelo Boca Juniors se faz presente a cada metro quadrado, é possível encontrar um pequeno pedaço tricolor responsável por cativar turistas e locais.

Ali mesmo, em uma barraca que fica a poucos metros de distância do lendário estádio da Bombonera, trabalha Loren, uma argentina com o coração de aço que, em meio a um mar auri-celeste, exibe faixas e bandeiras em vermelho, azul e branco. Nascida e criada na capital portenha, a história de Loren com o Bahia teve início há mais de 20 anos, quando ela veio morar em Salvador para trabalhar como guia turística.

La Bombonera, ao fim da rua, vista do posto de trabalho de Loren. Foto: Arquivo Pessoal

“Morei sete anos em Salvador, na época namorei com um rapaz que a família inteira torcia para o Bahia. Eles me apresentaram o clube e foi aí que me apaixonei. Assisti o Bahia jogar na antiga Fonte Nova umas três vezes e até o dia de hoje digo que sou Bahia de coração, o Bahia é minha paixão”, disse Loren, com um notável sotaque argentino presente em sua fala. (Você pode escutar a voz dela clicando no player de áudio abaixo).

Em meio ao incessante clima de arquibancada presente em Buenos Aires, onde o Boca Juniors é a paixão dominante, Loren conseguiu encontrar um equilíbrio único em seu modo de torcer. Não dá para negar que o clube da Argentina ocupa parte de seu coração, essa mais local e enraizada pela cultura de onde vive e trabalha, mas é o Bahia que transcende todas as lógicas. “Sou do Boca e sou tricolor. Minha barraca vende mais coisas do Boca [por razões óbvias], mas sempre tem coisas do Bahia”, explicou.

Por mais que La Boca seja um bairro extremamente voltado para um único clube, Loren conta que os locais veem com bons olhos a exposição do Bahia em território dominado pelos xeneizes (como são conhecidos os torcedores do Boca), mesmo que o Esquadrão carregue cores semelhantes a de um de seus rivais, o San Lorenzo.

A bandeira do inusitado clube do nordeste brasileiro, que está a mais de quatro mil quilômetros de distância, faz com que Loren seja alvo de brincadeiras sadias dos seus conterrâneos. “O pessoal daqui ama, eles me chamam de baiana e sabem que sou apaixonada pelo Bahia e pela Bahia também. Eles estão conhecendo o Bahia aqui por minha causa”, diz a argentina, com um tom perceptível de alegria e orgulho em sua voz.

Pode até parecer surreal, mas Loren de fato está tornando o Bahia cada vez mais conhecido na Argentina. Mario, popularmente conhecido como Tourinho, é o responsável pela feira do Caminito e foi um dos Argentinos que caíram em amor pelo tricolor baiano. “Ele começou a gostar do Bahia por minha causa, ele me via com a camisa do Bahia e achava interessante. As vezes pego minha bandeira e faço com que ele dê um beijo no escudo, damos muita risada com isso”.

Na esquerda: Loren, a personagem desta reportagem. Na direita: Mario, um dos argentinos convertidos por ela. Foto: Arquivo Pessoal

Para Loren, sua conexão com o Bahia vai além do futebol, em um entrelaço emocional que é capaz de transcender a distância e as gritantes diferenças culturais, o Bahia é o que faz com que a saudade de seus amigos, deixados em Salvador há 13 anos, diminua. Esse fator fez com que o Esquadrão se transformasse em algo que ela sempre irá carregar em seu coração para onde quer que vá. “Quando converso com brasileiros que vem para cá, fico bastante emocionada. Sinto muita saudade de Salvador, da Bahia”, neste momento, logo depois de declarar seu amor tanto pelo estado quanto pelo clube, os olhos de Loren já deveriam estar cheios de lágrimas.

A cada resposta dada, Loren tinha que dar uma pequena pausa para atender as pessoas que apareciam em sua barraca para comprar itens dos clubes. Cachecol, bandeira, camisa, é possível encontrar de tudo em sua pequena loja, claramente dividida entre Boca e Bahia.

Semelhança entre as torcidas

Para Loren, a relação Bahia-Boca é facilmente entendida pelos locais graças às semelhanças existentes entre as duas torcidas. “O torcedor xeneize tem o fervor muito parecido com o da torcida baiana. Quer dizer, com a torcida do Bahia, é importante deixar isso bem claro! Fiquei impressionada com a paixão existente na torcida tricolor, é uma família e isso é muito parecido com o que temos aqui no Boca”.

Quem frequenta a Fonte Nova sabe que na maioria dos jogos os torcedores visitantes transitam tranquilamente em meio aos torcedores do Bahia antes do apito inicial, isso também é visto na Bombonera. Loren relembra um episódio recente de quando os torcedores do Fortaleza foram bem recebidos pelos argentinos. “O pessoal do Fortaleza estava aqui, tranquilos, reunidos com suas camisas, cachecóis e ninguém mexia com ninguém, só na brincadeira”.

O sonho de assistir o Bahia na Argentina

Loren sonha com o dia em que possa receber a torcida do Bahia em Buenos Aires para um confronto entre as duas equipes. Recentemente, em 2021, o Bahia foi até Avellaneda — cidade na região da Grande Buenos Aires e que faz fronteira com o bairro de La Boca — para enfrentar o Independiente pela Copa Sul-americana. Com as restrições de público causadas pela pandemia de Covid-19, Loren não conseguiu assistir o jogo no estádio, que foi disputado sem a presença de torcedores, mas ela afirmou que fez questão de ir até o hotel Hilton, em Puerto Madero, para assistir a partida com os membros da embaixada tricolor em Buenos Aires.

Membros da embaixada Bahêaires reunidos antes do jogo do Bahia na Argentina contra o Independiente, em 2021. Foto: Divulgação/EC Bahia

Até o momento o Bahia disputou somente quatro jogos oficiais na Argentina: o primeiro foi na Libertadores de 1960, contra o San Lorenzo; os dois seguintes aconteceram na Copa Sul-americana de 2020, onde o Esquadrão enfrentou Unión Santa Fé e Defensa y Justicia, em jogos que também não tiveram público por causa da pandemia. O histórico não é bom, são três derrotas e um empate, mas em nenhum deles o Bahia pode contar com o incessante apoio de seu torcedor.

Com a boa fase do Bahia no Brasileirão 2024, ressurge o intrínseco desejo de ver o Esquadrão voltar a jogar a Libertadores, algo que não acontece há 35 anos. Por mais cedo que possa parecer, Loren e os membros da Bahêaires já planejam uma recepção para os jogadores e os torcedores tricolores que saírem do Brasil para um possível jogo na capital argentina. “A ideia é deixar um local só para que eles possam fazer a resenha, um churrasco e fazer com que eles se sintam seguros aqui, afinal não vai ter problema entre os torcedores. Queremos acompanhá-los desde o aeroporto até aqui”, revelou seu plano.

Loren é uma argentina de alma tricolor, uma ponte cultural entre Buenos Aires e Salvador, o ponto exato em que as íngremes arquibancadas da Bombonera se encontram com as esverdeadas cadeiras da Arena Fonte Nova. O acaso fez com que ela conhecesse o Bahia, mas o amor fez com que ela o levasse para qualquer lugar.

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