Depois de várias tentativas, ligações, troca de mensagens e uma espera de quase uma semana, enfim, conseguimos uma entrevista exclusiva com aquele que chegou a ser considerado a maior promessa do futebol nordestino, nos anos 80: Dico Maradona.
Após chegar ao Bahia com 15 anos e ser promovido ao time profissional aos 17, rapidamente passou a ser considerado como a maior promessa do futebol nordestino, mas não vingou. O que faltou? Em sua visão, o que mais lhe prejudicou? O que faz agora? Raimundo Eduardo Sousa Oliveira , o Dico Maradona, conta tudo.
Hoje, aos 45 anos, Dico é um dos responsáveis pela procura de jovens talentos para as categorias de base do Tricolor. E seu filho, com 12 anos, já está treina no clube. Colaboração de Manoel Messias em especial para o ecbahia.com.
ecbahia.com: Quem lhe descobriu, levou para o Bahia e quantos anos você tinha?
Dico Maradona: Eu treinava em uma Escolinha, em Ilhéus, no interior da Bahia (cidade onde nasceu) com o professor Renato. E, como a gente viajava muito para jogar contra outras equipes, tinha sempre a pretensão de que um dia alguém nos veriam atuando. Entre muitos jogos que fizemos, um deles foi contra o Bahia que, uns dois meses depois, Newton Mota ligou para a escolinha onde eu treinava e pediu que eu viesse para o Clube. Eu tinha 15 anos em 1984. O professor Renato foi um cara que me ajudou muitos garotos na minha cidade.
ecbahia.com: Este apelido veio de Ilhéus ou surgiu no Bahia?
DM: Quando eu ainda treinava na escolinha na minha cidade, meu apelido era Dico, mas naquela época, Maradona estava arrebentando no futebol e, daí como eu era canhoto, passaram a me chamar de Dico Maradona.
ecbahia.com: Este nome não era pesado de mais para um garoto?
DM: Não me incomodava em nada, porque quando entrava em campo só queria jogar bola e nem prestava muito atenção para essas coisas. Além de que, sabia que era apenas um apelido.
ecbahia.com: Com quantos anos você estreou no time principal do Bahia e quem era o técnico?
DM: Fiquei quase dois anos na base, onde disputei as competições com os elencos e voltando da Copa São Paulo, o professor Paulinho de Almeida me levou para o time principal com 17 anos. Naquele time da Copinha tinha eu Mauricio, Chiquinho, Ricardo, Charles, Zé Carlos, Mailson… era um bom time, mas quando surgiram Jean, Rodrigo, Samuel e Ronald, acredito que subiram mais atletas do que na nossa vez.
ecbahia.com: Você surgiu e fez parte de uma década (80) em que o Bahia mais revelou jogadores para o time Profissional, concorda ?
DM: Sim, basta olhar no elenco campeão Brasileiro de 1988 onde temos; Ronaldo, Zé Carlos, Charles, João Marcelo, Mailson, Chiquinho. O Bahia sempre revelou bons jogadores e isso ainda existe até os dias de hoje. Vemos Feijão, Gustavo Blanco, Éder, Zé Roberto no time principal e no ano passado tínhamos muito mais. É claro que a época é outra e as cobranças são mais fortes principalmente nos jogadores da base.
ecbahia.com: Dico, você era tido como a maior promessa do futebol nordestino naquela década, mas por que não apareceu para o futebol nacional?
DM: Tive muitas lesões principalmente musculares e isso me atrapalhou muito na carreira. E naquela época tudo era muito mais complicado. Não se tinha as condições que os meninos têm hoje. Os garotos de hoje já são tratados apenas para jogar futebol e naquele tempo não se tinha os avanços, por exemplo, numa preparação física adequada. Faltava quase tudo que se tem nos dias de hoje. Diziam na época que você tinha insuficiência respiratória, era verdade? Eu tinha certa dificuldade respiratória sim, mas, não acho que tenha me prejudicado tanto, mas as lesões musculares foi que mais me atrapalharam.
ecbahia.com: Até os dias de hoje boa parte da torcida do Bahia lembra com certo vazio, de Dico Maradona. Na sua visão, o que faltou para você se tornar de fato um inesquecível camisa 10 do Bahia ?
DM: Como já falamos vivíamos para jogar futebol, mas não éramos tão preparados para fazer isso. Hoje os meninos são levados para os clubes com 9, 10, 12 anos e tratados como atletas, mas nem sempre foi assim. As sequencias de contusões me atrapalharam e tivemos muitos problemas que já nem cabe mais comentar aqui.
ecbahia.com: De lá pra cá o Bahia, já revelou e vendeu jogadores como, Fabão, Daniel Alves, Jorge Wagner, Felipe, Bruno Paulista, Gabriel, Anderson Talisca, Cícero… Você acha que se atuasse nos dias de hoje teria se transferido para um clube da Europa, por exemplo?
DM: Acho que sim. Hoje, cada jogador, tem pessoas cuidando de suas carreiras. Mas, na minha época, tínhamos que nos desgastar para acertar quase tudo que um jogador precisava e muitas vezes não tinha tranquilidade para jogar. Os desgastes com acerto de salários eram grandes e atrapalhou muitos jogadores, mas hoje não se tem mais este problema. Eu não tinha representante para cuidar dos meus contratos e tinha que encarar Dirigentes, o que dificultava muito para quem queria e precisava jogar apenas futebol.
ecbahia.com: O zagueiro, Pereira, seu ex companheiro de clube, campeão Brasileiro assim como você em 88, em entrevista aqui mesmo no ecbahia.com, disse que pelo futebol que você jogava, ele esperava te ver na Seleção Brasileira. O que faltou ?
DM: Nossa! Agradeço de mais a ele por essas palavras, sou fã dele que é um cara correto e foi um dos que me ajudaram no Bahia. Mas falando de meu futebol, acho que sim porque, eu era um jogador de bons passes, boa visão de jogo e que tinha velocidade. Se não fazia muitos gols sempre tinha em mente que um bom passe, uma jogada de efeito desarrumava uma zaga bem postada e daí, procurava os espaços para jogar e armar boas jogadas de ataque.
ecbahia.com: Dizem que naquela época, o então Presidente, Paulo Maracajá, conduzia o clube de forma dura e às vezes até com certo autoritarismo. Sentia isso também?
DM: Foi uma época muito boa, mas também muito sofrida. Porém não quero falar sobre isso neste momento.
ecbahia.com: Hoje você é um dos nomes na garimpagem de novos talentos para o Bahia. Qual a maior dificuldade na hora de escolher e definir quem vai para o clube e quem fica fora numa peneira?
DM: A maior dificuldade é encontrar o bom jogador. Isso tá faltando em todos os lugares desde a capital até no interior. Na minha época ninguém se importava com a marca do calçado e sim em dar dribles, chapéus, canetas, fazer gols, ganhar o jogo. Quem tinha um tênis para jogar era privilegiado. Muitos de nós descascávamos os dedos jogando na rua, com chuva, sol, campos de terra e sempre saia alguma coisa. Quando jogávamos na Praia era sempre sem camisas e tinha que tocar a Bola certa, no cara de nosso time. Hoje se não tiver coletes dificulta tudo e quase ninguém acerta um passe. Os garotos de hoje já se apresentam com lindas e coloridas chuteiras da “Nike”, e muitos esquecem do principal que é jogar futebol.
ecbahia.com: Na sua visão, por que há rejeição quanto à administração do presidente Marcelo Sant’Anna?
DM: Acho que tudo é momento e o momento do Bahia dentro de campo não é de conquistas, mas tem um time forte. O Guto Ferreira é um ótimo treinador que vai brigar pra subir, não tenho dúvidas disso. A insatisfação da Torcida não é com o Presidente, respinga nele mas vem da falta de bons resultados dentro de campo, uma vez que, o Bahia sempre andou disputando e ganhando títulos e isso pesa numa torcida gigante como essa. Fora de campo é um clube bem organizado com profissionais e pessoas capacitadas, cuidando de cada área. Sabemos que o Presidente é novo e assim como todos nós pode errar e no caso dele, ainda tem uma imensa Torcida insatisfeita com os resultados de campo dos últimos anos.
ecbahia.com: Pensa um dia em ser treinador?
DM: Olha, já fui treinador, trabalhei no Vitória e com alguns empresários, mas não penso mais em ser técnico. Estou muito feliz aqui no Bahia, agradeço ao Presidente Marcelo e vou trabalhar duro para cada dia mais garimpar novos jogadores para o Bahia.
Considerações finais:
DM: Quero agradecer ao ecbahia.com pelo espaço e dizer que é sempre bom falar dessas coisas, de nossas histórias… É gostoso viver, trabalhar e promover o futebol. Obrigado a todos.
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