Texto por: Nestor Mendes Jr.
Uma triste pandemia para o Esporte Clube Bahia livre e democrático: no dia 4 de maio, perdemos Fernando Schmidt; no dia 5 de Junho nosso capitão Sapatão e um dos fundadores do Movimento Bahia Livre; anteontem, foi se embora João Carlos Teixeira Gomes, o ‘Pena de Aço’; e, ontem, Jorge Maia partiu para o outro lado do caminho.
Jorge Maia era o rosto, RG e CPF do movimento que derrubou a ditadura no Esporte Clube Bahia. E era um militante antigo, dos tempos em que as reuniões por eleições livres, diretas e democráticas no Bahêea tinha ”uma meia dúzia de gatos pingados”, como dizia os informes dos X-9 infiltrados aos cartolas encastelados no Fazendão.
Conheci Jorge, por volta de 1995, no Grande Hotel da Barra, para as reuniões do Movimento Democracia Tricolor, ele que fora levado pelo seu irmão Alberto Maia, que, por sua vez, tinha sido arrastado para a onda oposicionista pelo seu vizinho Gilmar Paixão. Gilmar havia colocado um adesivo “Maracajá, devolva meu Bahia” no seu automóvel e isso despertou a atenção de Alberto.
”Maracajá, devolva meu Bahia”, criação de Durval Luiz Saback Silva — o Dudy, e que reunia ainda Alberto Salvatore Filho, Eduardo Lúcio Barreto de Oliveira, Heraldo Guerra Jr., Walter Renê Moreira de Lacerda, Aécio Pamponet, Breno de Queiroz Guerra e os irmãos Roberto e Eduardo, filhos de Adalberto Tannus, foi uma espécie de estopim que desaguou na libertação do Esporte Clube Bahia, no dia 17 de agosto de 2013, com a Assembleia Geral, na Fonte Nova, que sepultou de vez a ditadura de Maracajá instalada no clube.
Todo o grupo do Movimento Democracia acabaria sendo traído, tempos depois, de forma ridícula, por um covarde que se bandearia para as hostes maracajistas em troca de um altíssimo e imponente cargo: Diretor de Juventude do Bahia.
Apesar desse duro revés, os irmãos Maia se mantêm no grupo que se reaglutina em torno do Bahia Livre, com Edmundo Pedreira Franco, Humberto Netto, Marcelo Maia, Edmilson Gouveia, Emanuel Vieira, Flávio Novaes, Lênin Franco, Edvar Neves, Eduardo Penedo, Fernando Carlos Correia (Ratinho), Pablo Oliveira, Pedro Mello Junior (Pedrão), Paulo Batinga, Ronald Fontes, Adriano Mendonça, Élcio Nogueira (Sapatão) e João Cintra Palma, ao qual nos agregamos, tempos depois e em ondas sucessivas, a nomes como Antônio Miranda, Marcus Verhine, Fernando Schmidt, Emanuel Teixeira, Geovaldo dos Santos, David Brito Lavigne, Reub Celestino, Adriano Fonseca, Fernando Jorge Carneiro, Durval Mesquita, Fernando Passos, Wilson Santos, Lúcio Rios, Lucas Neves, Fernando Santana, Fátima Mendonça, Virgílio Elísio da Costa Neto, Marcos Gouveia, Nélio Telles de Menezes, Mário Kertész, Matheus Araújo, Danilo Monteiro, Fábio Domingues, Sidônio Palmeira, Mário Junior, Ivan Carvalho, Annibal Sampaio, Leandro Fernandes, Vitor Ferraz, Sue e Pedro Martucci, Eduardo Sampaio, Euclides Almeida, Tadeu Sena, Valton Pessoa, Luiz Moura, Zé Povinho, Murilo Jaques, Adriano Vieira, Lucas França e Emanuel Silva, entre outros.
Chegamos a editar panfletos da oposição Tricolor na gráfica de Jorge e Alberto Maia, a Santa Maria, na Rua Direta do Uruguai, fundada, em 1923, por Clóvis de Almeida Maia. Um deles foi a filipeta “Sou Bahia, quero votar!”, que reproduzia um editorial escrito pelo jornalista Demóstenes Teixeira, no Correio da Bahia, a mando de ACM — e que muito incomodou Maracajá. Na capa, edição de julho de 1995, uma pergunta também fazia o cartola espumar: “Cadê o dinheiro do Gabão?”, em referência a uma desastrada e nunca bem explicada excursão do Bahia à África.
E Jorge Maia, assim como Alberto, quando sempre os encontrava, perguntavam, em tom jocoso: “Onde está o dinheiro do Gabão?”.
Sócio remido do Esporte Clube Bahia, desde 1962, Jorge Antônio Cerqueira Maia foi o autor da ação patrocinada pelo Movimento Unidade Tricolor, e peticionada pelo advogado Pedro Barachísio Lisboa – amigo e que trabalhava para Fernando Jorge Carneiro – que suspendeu as eleições no ECB, em 6 de dezembro de 2011, por decisão do juiz Paulo Albiani, da 28ª Vara Cível de Salvador. Na decisão, ele designou o jurista Carlos Rátis como interventor do Bahia, processo que culminou, em 2013, após dois anos de luta renhida, com a Assembleia Geral e, em setembro, com as primeiras eleições diretas, pelo voto democrático dos sócios, no Esquadrão de Aço.
Jorge Maia é um exemplo de caráter, de retidão, de vida. Apesar de simbolizar a democracia e a libertação do Esporte Clube Bahia, me dizia que a sua missão estava cumprida: que era ver, de novo, o Bahia livre das humilhações e dos vexames, rumo às conquistas e novas glórias. Foi vice-presidente do Conselho Deliberativo do clube e, em 2015, recebeu, das mãos do presidente Fernando Schmidt, o título de Grande Benemérito do Esporte Clube Bahia.
Não só a família Maia – sua esposa, Terezinha, suas filhas Martina e Isabele, suas netas Maitê e Maria Helena, seus irmãos, sobrinhos e primos – está triste hoje com a partida de Jorge. Toda uma nação inteira, a Nação Tricolor, chora essa despedida, porque perdemos um guerreiro, humano na sua simplicidade, mas destemido, coerente e leal em todos esses anos de luta pela liberdade no Esporte Clube Bahia.
Bora Jorge Maia! BBMP!
Nestor Mendes Jr. é jornalista, autor de “Nunca Mais! 25 Anos de Luta Pela Liberdade no Esporte Clube Bahia”.
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