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Agora é João Carlos Teixeira Gomes quem desabafa

Notícia
Historico
Publicada em 24 de novembro de 2006 às 09:54 por Da Redação

O imperdível texto abaixo se encontra na página 3 do jornal A Tarde desta sexta-feira, data da histórica passeata da torcida tricolor. João Carlos Teixeira Gomes, o Joca, é jornalista, autor de um famoso livro sobre ACM (Memória das Trevas) e filho do primeiro goleiro da história do Bahia. Confira:

“Bahia, um funeral programado

O naufrágio do Bahia é uma tragédia esportiva sem precedentes no cenário do futebol nacional. Pior, para o torcedor tricolor, do que a perda da Copa de 50, mas sem o ingrediente da surpresa. Na verdade, foi uma catástrofe programada, um funeral anunciado por sucessivas diretorias ineptas, misturando oportunismo, incompetência e ambição. No meio de tudo isto, três vítimas: as tradições do clube, o time e a torcida.

Tudo começou com a gestão do finado Pernet, herdeiro da deserção de Paulo Maracajá, intimidado pela arrogância de Paulo Carneiro, que o substituiu no trono do coronelismo futebolístico. Pernet não estava preparado para a presidência. Tudo se agravou com as gestões de Marcelo Guimarães e Petrônio Barradas, numa linha incontrolável de decadência. Petrônio já apresentava o precedente de ter sido um péssimo diretor de futebol. Maracajá o levou à presidência. De nada adiantaram o clamor da torcida e a tímida reação oposicionista. O grupo que domina com mão de ferro o Bahia quer mesmo ser o cúmplice e mentor da sua destruição. Eles se autoflagelam, pensando que são astutos. Estão desmoralizados.

Ouço hoje nas ruas, nos lares e nos bares, nos becos e nas praças, que o maior responsável pela tragédia do Bahia é Paulo Maracajá. Concordo. Quando assumiu a direção do clube, na década de 70, prestou serviços. Depois usou o Bahia como mero trampolim político. Recebeu muito mais do que deu. Andou em conflito com Osório, pois eram dois coronéis personalistas e vaidosos, em busca de prestígio. Acuado pela era Carneiro, que marcou a ascensão do Vitória, Maracajá refugiou-se nas sombras do ostracismo para manipular os títeres que colocou na presidência, impondo a vergonhosa submissão de um Conselho que nunca deliberou nada e apenas foi usado para barrar a voz da oposição, aliás dispersa e fragmentária. Muito longe das necessidades do clube.

O Bahia já teve grandes dirigentes: Valdemar Costa, Jaime Guimarães, Paula Filho, Zelito Bahia Ramos, Nelson Pinheiro Chaves, Fernando Tude, Carlos Costa Pinto, Carlos Wildeberger, Pedro Pascásio, Amado Bahia Monteiro, Hamilton Simões, Orlando Gomes, entre outros. Lembrou-me Saul Quadros que era da autoria de mestre Orlando a máxima que ficou famosa: “Ou se ama loucamente o Bahia ou se detesta de toda alma”. Sempre foi assim. Que o diga a hoje triunfante torcida do Vitória, clube que se livrou de um coronel para subir, enquanto seu maior rival afunda na desmoralização.

Mas quem o destrói não quer largar o osso. É uma obstinação suicida, ditada por interesses sombrios.

Ao lado da ação predatória dos seus dirigentes, o Bahia tem sido vítima também do desconhecimento da sua real situação, que se sabe péssima, mas não nos detalhes, talvez escabrosos. Afinal, como se joga fora tanto dinheiro? Aqui, tem faltado o trabalho investigativo da imprensa esportiva, numa omissão que não a engrandece. Isto não é jornalismo. Lembremos, porém, que a destruição do Bahia não é apenas um fato esportivo, mas sobretudo um abalo social, pela imensidão da sua torcida, capaz, sozinha, de encher estádios.

Isto é o fator que confere ao fenômeno uma dimensão de tragédia coletiva. Há um clima de abatimento na cidade. O Bahia é, visceralmente, uma metáfora da própria Bahia, da sua grandeza e dignidade. O Bahia era, em campo, o espírito heróico da resistência e da bravura, o vingador das nossas tradições, o famoso “Esquadrão de Aço”, imbatível em seu terreiro, mas hoje é apenas um aglomerado de jogadores sem fibra, dirigidos por um bando de coveiros, aferrados ao poder ilusório, mesmo na desmoralização.

Por que a mídia somente noticia os fatos, mas não investiga as causas reais da crise? Que fizeram, afinal, com o velho e glorioso campeão?

Com todos os méritos devidos ao bravo Vitória, devo dizer que a dor da torcida tricolor é a dor da própria Bahia. E os dirigentes insensatos, que já sentiram a fúria dessa massa indignada, que se acautelem, pois, no ritmo crescente do seu inconformismo, há um potencial de novas explosões. Só a renúncia dos ineptos para salvar o Bahia poderá redimi-los, no ocaso desta desonrosa história de fracassos”.

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