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Ávine tenta recomeço após quase 3 anos parado

Notícia
Historico
Publicada em 30 de maio de 2015 às 09:08 por Da Redação

De Thiago Pereira, para o portal GloboEsporte.com

“A cada manhã, no abrir de olhos, a esperança é renovada. Repete-se o desejo rotineiro de ter um dia melhor que o anterior, de alcançar sucesso, ter paz. Mais do que qualquer outra coisa, a fé no retorno a uma atividade que, no passado, fazia parte da vida. A cada manhã, Ávine relembra o tempo em que acordava e vivia em função do momento em que entraria em campo, vestiria a camisa 6, marcaria gols, comemoraria com a torcida. No abrir de olhos, ele vê que a esperança segue como fiel companheira. Pensa no que passou e sorri com a certeza de que está perto de atingir o objetivo com o qual sonha há quase três anos anos.

A data não sai da memória. No dia oito de agosto de 2012, há exatos 1025 dias, Ávine disputou a última partida oficial. Tinha então 25 anos, era um dos principais jogadores do Bahia, apontado como atleta de grande potencial. Precisou deixar o jogo contra a Portuguesa, pela 15ª rodada do Campeonato Brasileiro, no intervalo. Deste então, não voltou a pisar nos gramados. Iniciou uma luta para se recuperar de uma grave lesão no joelho. Em 33 meses, realizou tratamento em São Paulo, foi liberado várias vezes para voltar a jogar, mas em todas voltou ao departamento médico com a frustração de quem não conseguia cumprir o que antes fazia com facilidade. Chegou a cogitar mudar de posição, jogar como meia, função que exigia menor esforço físico. Acumulou decepções, mas não perdeu a esperança, esse fiel sentimento que insistiu em acompanha-lo.

Nesta semana, Ávine renovou a expectativa pelo esperado retorno. Participou de um coletivo com o time Sub-20. Entrou na parte final da atividade, foram poucos minutos em campo, mas tempo suficiente para mostrar que não perdeu a habilidade. Aplicou uma caneta em um adversário e contribuiu com uma assistência para gol. Desempenho que anima o lateral-esquerdo, esperançoso pela proximidade em voltar a jogar futebol.

– Estava esperando por esse momento. No coletivo, pude mostrar em pouco tempo que estou me esforçando ao máximo para me tornar um atleta dentro do grupo, que possam contar comigo. É bom treinar em coletivo, para ver como estou, ganhar confiança. Me senti muito bem. (…) Estava me preparando para essa ocasião. Queria muito fazer parte do grupo, treinar, estar no campo. Sentir essa emoção novamente, de treinar com bola. Aos poucos, a gente vai se adaptando novamente. O ritmo vai voltando, a confiança também. Espero estar disponível o mais rápido possível – disse o atleta em entrevista ao GloboEsporte.com.

Com o retorno aos treinos coletivos, Ávine se vê perto da forma ideal. Na última quinta-feira, no período em que a imprensa pôde acompanhar o trabalho com bola no Fazendão, o lateral se mostrou bem à vontade em uma roda de bobinho. Distribuiu passes e sorriu quando um companheiro era desarmado. Uma rotina a qual ele se habituou, mas que faz com o prazer de um jovem recém-promovido ao grupo profissional.

– Estou quase chegando na forma ideal. Esperei muito por esse momento, para voltar a treinar com o grupo, em primeiro lugar. Queria fazer parte do grupo. Agora que estou no grupo estou procurando me esforçar cada vez mais, treinando forte para chegar na forma ideal e ajudar o grupo – contou o atleta, com a certeza de que, ao abrir os olhos em um belo dia de 2015, voltará a entrar em campo, vestir a camisa 6, marcar gols e comemorar com a torcida.

LEMBRANÇAS

Os últimos dois anos estão na memória de Ávine como um filme de traços tristes. Foi preciso muita força de vontade para se manter firme diante das dificuldades provocadas pelo problema no joelho. O drama da recuperação se mostrou uma montanha repleta de obstáculos. O lateral-esquerdo não teve outra opção senão escalar cada centímetro e vibrar com cada etapa vencida.

– Se falar que é fácil, é mentira. É complicado, difícil. Mas venho me superando a cada dia. Trabalho forte, duro que estou fazendo, apoio de amigos, familiares e de pessoas de dentro do clube. Da torcida. O torcedor sempre me dá confiança. Procuro dar meu melhor para chegar na minha forma física o mais rápido possível e estar junto com o grupo – afirmou o jogador.

A família foi o principal ponto de apoio de Ávine, mas não foi o único. No período longe dos gramados, o lateral-esquerdo achou a esperança na religião. Passou a frequentar uma igreja pentecostal em Salvador. Achou em Deus um parceiro para as horas difíceis.

– Tenho buscado muitas forças em Deus. Com muita fé a gente alcança os objetivos. Não foi diferente dessa vez. Com muita força, muito empenho, venho trabalhando com a confiança de que tudo vai dar certo. Aos poucos vou evoluindo nos treinamentos. Se Deus quiser, vou estar junto com meus companheiros dentro de campo – destacou.

Recentemente, Ávine ganhou outro aliado na batalha para voltar aos gramados. O coach Lulinha Tavares foi contratado pelo Bahia para ajudar os atletas na gestão da carreira. O lateral-esquerdo foi um dos primeiros no elenco a receber consultoria. O trabalho lhe proporcionou outra visão dos problemas que enfrentou e daquilo que ainda resta para o sonhado retorno.

– Comecei a fazer esse trabalho com ele e no pouco tempo que começamos senti uma diferença grande. Pude ver pontos que não via antes, com outros olhos. Está sendo muito bom pra mim. Aprendizado novo, chegando para somar. Espero com o trabalho duro, com o trabalho que estou fazendo, que possa estar apto o mais rápido possível – disse Ávine.

Lulinha Tavares também está no Bahia para definir metas individuais e coletivas. Com Ávine não é diferente. O jogador, contudo, prefere não revelar os pontos que tem como objetivo para a temporada.

– Já tenho. Mas fica guardada essa meta. Com o trabalho do dia a dia a gente vai quebrando as barreiras, os obstáculos. Com a cabeça no lugar e fé em Deus a gente vai chegando ao ritmo que a gente quer, a forma que a gente quer, para em breve atuar nos jogos.

JAMES HARDEN DO BAHIA

A religião não foi a única mudança de Ávine no período longe dos gramados. No último ano, ele deixou a barba crescer. O resultado é um jogador bastante diferente daquele com cabelos trançados e cara de garoto que atuou em 225 jogos pelo Bahia e marcou 17 gols.

A barba também rendeu brincadeiras no Fazendão. No grupo de jogadores, Ávine ganhou apelidos. Um deles compara o lateral-esquerdo ao jogador de basquete James Harden, que atua na NBA pelo Houston Rockets. Ele conta que não deixou a barba crescer inspirado no atleta norte-americano. O real motivo é um segredo, ele cogita contar em breve, talvez quando um certo objetivo tiver sido concretizado.

– Não foi inspirado no Harden. Outra coisa, que é segredo. Depois eu posso até falar. Os companheiros até brincam, me chamando de James Harden. Mas com seriedade, força de vontade, a gente vai fazendo o que tem que ser feito, fazendo o que eu mais gosto, que é jogar. Não é promessa não – declarou.

Com a serenidade de quem já se habitou a esperar, Ávine aguarda o próximo dia. Ao abrir os olhos, ele terá a esperança renovada, desejará paz, sucesso, prosperidade. A esperança mais uma vez seguirá como companhia. Até o momento em que ela resolva se despedir. Momento que o lateral irá calçar as chuteiras e ter a certeza de que a hora de voltar aos gramados voltou.”

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