De Moysés Suzart, no jornal A Tarde deste domingo:
“Existem mais tricolores em Cajazeiras do que atleticanos, adversário do Bahia, às 17 horas de hoje, na estréia do segundo quadrangular da Série C. Mas claro que estamos falando do bairro soteropolitano, que engole a cidade xará do Atlético da Paraíba, primeiro desafio do Esquadrão de Aço na segunda fase da Terceirona.
Com mais de 400 mil habitantes com o moral de ser o maior bairro da América Latina, a Cajazeiras baiana tem uma história parecida com o Bahia. Nasceu bonitinho numa prancheta, teve seus dias de glória, mas o crescimento desordenado acabou descontrolando a beleza de ambos.
* Distante 477 quilômetros da capital João Pessoa, a cidade de Cajazeiras/PB tem população estimada em 57.259 habitentes.
Hoje, enquanto o tricolor amarga a última divisão do futebol brasileiro, a comunidade cajazeirense sofre com o injusto estigma de bairro desorganizado. Nascido da desapropriação da Fazenda Cajazeiras, o bairro tem tricolores que fazem a história das nove divisões da comunidade e ainda acreditam na apropriação, pelo Bahia, de uma vaga à Segundona.
Se depender dos cajazeirenses baianos, Arturzinho tem toda liberdade e confiança para combater os paraibanos. Não só o técnico, como a diretoria também. Os amantes do Esquadrão bradam.
Estamos pagando caro os R$ 10 em partidas da Terceira Divisão, sem reclamar. Não estamos atacando Arturzinho com suas escalações. Só vamos botar a boca no mundo se, depois disso tudo, nosso time não subir, ressaltou o tricolor Gilson.
GARANTIDO No bairro, existem duas torcidas organizadas. A tradicional Bamor tem seu QG na comunidade, assim como a Terror Tricolor, que vai enviar um representante para o local da partida de hoje, na Paraíba.
Todos estão mais confiantes no Bahia desta temporada, comparada com a de 2006, quando não conseguiu sair da Série C. A zaga de Arturzinho é o setor mais elogiado, com todo o mérito. Hoje, o Atlético vai pegar uma defesa jovem, porém segura. Com a contusão de Rogério, o caminho continua livre para Alison e Eduardo, novos xerifes da cozinha.
Mas é na frente que um ídolo sumido começa a conquistar a confiança dos torcedores, não só de Cajazeiras. Depois que entrou na goleada de 4 a 0 diante do ASA, inclusive marcando o dele, o treinador Artur não tirou mais o atacante da lista de 11 preferidos.
Sem o cabelo invocado de sua estréia na Terceirona, Moré não terá a companhia do artilheiro Nonato, suspenso. O ausente é o único jogador do elenco que, pelo Bahia, já enfrentou o Atlético em Cajazeiras. De quebra, o paraense já marcou na casa do adversário.
Um cajazeirense chamado Bahia
Apenas familiares e amigos mais íntimos conhecem Arnaldo Bispo, dono de um mercadinho em Cajazeiras X. Mas a maioria da comunidade conhece senhor Bahia, proprietário de um mercado com o símbolo tricolor na parede.
Arnaldo e Bahia são os nomes de um dos tricolores mais apaixonados do bairro soteropolitano. Seu estabelecimento não é grande.
Cabe apenas o que as donas de casas mais necessitam, além de alguns doces para a criançada pedir aos pais. Mas nos poucos metros quadrados, o que não pode faltar são lembranças de um Bahia glorioso, vistos em quadros espalhados pelo mercadinho. Dono do mercado mais azul, vermelho e branco do lugar, Arnaldo virou Bahia, no apelido, há mais de 11 anos e esquece de responder quando gritam seu nome de batismo.
O comerciante tem o apelido desde que tinha o mercado, na Liberdade. Por não perder nenhum jogo na Fonte, tudo veio comigo quando vim morar em Cajazeiras, inclusive o nome no meu mercado e o símbolo pintado na parede”, lembra Bahia.
O comerciante tem vivido pesadelos com a decadência do seu time, mas começa a ver uma luz no futuro do elenco de Arturzinho. Ele se sente envergonhado por ver sua paixão, campeão brasileiro, jogar em Cajazeiras da Paraíba, a muitas e muitas milhas do cenário futebolístico nacional. “Mas o que importa é superar e subir novamente para Segunda Divisão”, minimiza senhor Bahia.
NONATO – Não é difícil percorrer todas as Cajazeiras para encontrar outros tricolores na “cidade dentro de Salvador”. Ao lado do mercadinho de Bahia, tem uma loja de material de construção comandado por Tiago Santos, apaixonado pelo Esquadrão de Aço.
Quando soube que a reportagem procurava por torcedores pelo bairro, providenciou trazer os futuros amantes do Bahia.
Mariana e Vinicius, ambos de 9 anos, além de Tiego, de 5, vieram com bandeiras e camisas para mostrar que a Cajazeiras daqui é bem mais animada do que a da Para íba.
Pelos papos da torcida, o único sem moral no bairro é o atacante Nonato, depois da falta de respeito com os torcedores, como lembra Tiago.
Depois dos gestos obscenos do atacante para a arquibancada, nem sendo o maior artilheiro da história da Série C ou pedindo perdão de joelhos, Tiago não perdoa. Para Nonato cair nos braços da torcida, só devolvendo o Bahia para Série B, disse o torcedor”.
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