Se você é um pai fanático por um clube, mas está enfrentando uma dificuldade imensa de fazer o filho herdar a sua paixão, saiba que não está sozinho. Pelo contrário, aliás.
Esta é a dura realidade de milhares de torcedores do Bahia, que hoje devem lamentar exatos cinco anos sem comemorar um título sequer. Nem turno de Estadual o glorioso Esquadrão de Aço conquistou para minimizar a situação.
No último caneco, em 12 de maio de 2002, os pequenos Diego e João Pedro ainda nem tinham nascido, para desespero dos pais, os irmãos Rogério e Ricardo Reis.
Apesar de toda a nossa vontade, é muito difícil estimular quando não se tem estímulo até para acompanhar como antes, lamenta Rogério, que assiste ao primogênito Diego, de três anos e meio, completamente desinteressado pelo tricolor. Nem os vários presentes em azul, vermelho e branco têm dado o resultado esperado.
A gente faz o que é possível em termos de aquisição de material, mas tá complicado. Dieguinho já ganhou boné, mochila e uniforme inteiro. Porém, não se empolga quando houve o hino do Bahia. O discurso de Ricardo é ainda mais forte: Rapaz, é na marrá, né? Sempre boto João na frente da televisão e compro muitos produtos, tudo para catequizá-lo, mas no momento em que ele começar a perceber, vai ficar impraticável.
CRIANDO COBRA Pior é o caso do vendedor Fernando Correia, conhecido como Ratinho, cujo filho de seis anos já debandou para o lado do rival. É uma coisa super chata. Não teve jeito. Rafael virou Vitória, diz, argumentando se tratar da influência do padrinho e dos coleguinhas da escola.
Meu amigos ficam cobrando, mas até a pediatra pediu para não insistir mais. Para ele, o Vitória é o melhor time do mundo. Ratinho alega que põe os CDs do Bahia para tocar e tenta levar Rafael à Fonte Nova, mas aí o time vai e empata com o Atlético de Alagoinhas… Agora mesmo, ele me ligou e disse : Papai, não foi o Vitória quem levantou o troféu?´. O que eu posso fazer?.
O jeito, para o jornalista César Rasek, foi recorrer aos heróis dos quadrinhos e desenhos animados. Ele fala para o filho Daniel, de dez anos, que o Bahia tem as mesmas cores do Super-Homem, do Capitão América e do Homem-Aranha. Uso também as bandeiras de grandes países como Inglaterra, França e Estados Unidos, além da do nosso Estado.
Estratégia semelhante à do bancário Marcelo Lemos, pai de Heloísa, 4, e Marcela, 2. Procuro as coisas mais graváveis para elas.E utilizo a brincadeira das estrelas, que o outro (Vitória) não tem.
Ele garante não esconder a sua indignação com o clube, que está passando por uma fase que denomina de ridícula, por culpa da diretoria. Mas diz que é preciso gostar nos momentos bons e ruins.
VELHA GUARDA E os torcedores mais antigos, que presenciaram as maiores glórias da equipe, será que não sofrem ainda mais? O consultor de Recursos Humanos Jorge Maia, 56 anos, assegura que sim.
A gente fica desiludido. Hoje não sinto mais nenhuma emoção. Esse time aí não é o Bahia que aprendi amar, declara, com a bagagem de quem diz ter convivido com os jogadores campeões da Taça Brasil de 1959, sobre o Santos de Pelé, na casa do pai.
Desde 94 morando no Maranhão, o torcedor Albino Brandão não apenas concorda como profetiza: Se continuar assim, muito em breve perderemos a maior torcida do Estado.
Matéria publicada originalmente, por esse mesmo autor, na edição deste sábado 12/05/2007 do suplemento A Tarde Esporte Clube
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