Colunista critica postura e cria o “DataBaheeea”

De Nelson Cadena, jornalista, escritor e pesquisador das áreas de comunicação e história da Bahia, para o jornal Correio*:

“Antes do fim do ano e mesmo do fim do mundo, que em 2012 passou raspando, a diretoria do glorioso Esporte Clube Bahia, certamente para fazer média com a galera, contestou as pesquisas Datafolha que apontaram o real tamanho das torcidas brasileiras. Perdeu o Bahia a oportunidade de ficar calado, pois nada disse, nesse seu comunicado, além de manifestar indignação. E expressou um único e frágil argumento: o comprometimento à imagem e credibilidade da “nobre instituição”, as aspas são minhas, mas o mote é deles.

Em todo caso, me pareceu extemporânea a nota oficial do tricolor, considerando que o contra-argumento adequado seria exibir as pesquisas DataBaheeea com os números divergentes sugeridos no comunicado. Mas, como o DataBaheeea não existe e o clube nunca encomendou uma pesquisa séria, com amostragem nos conformes e dentro dos padrões recomendados por especialistas, mais fácil é desqualificar uma empresa que tem expertise no assunto, e todo um conceito referendado ao longo de décadas, do que admitir o óbvio: a torcida do Bahia não é tão grande assim quanto se quer que seja e se diz. Pode ser a mais apaixonada e a mais participativa do país, ou uma das, mas é a 12ª em números absolutos e ponto.

Mas, pelo visto, o desconforto da diretoria do bicampeão brasileiro não foi apenas pelo 12° lugar do ranking, mas pela vizinhança incômoda na tabela do Esporte Clube Vitória, o que feriu na canela a tradição popular do DataChute, aquela ideia cristalizada no Brasil de que um time tem mais torcida do que aquele, sem nenhum respaldo científico. Invenção das revistas e crônicas esportivas e de estatísticas de fundo de camarim, essas sim sem credibilidade. Afinal, como se mede o tamanho de uma torcida? Através de uma pesquisa qualitativa com uma amostra sobre a base da população, como fez o DataFolha, ou a amostra tinha que ser exclusivamente entre os baianos? Contestar a metodologia em favor de paixão pelo time é um gol contra.

Eu sei que essa questão das torcidas não me diz respeito e estou metendo o bedelho onde não fui chamado, mas é que me incomoda essa coisa do argumento sem argumentos. E, no futebol brasileiro, isso parece ser uma regra. Tenho certeza que não é só o Bahia que se sentiu desconfortável com a publicação do referido ranking. Os times criaram, ao longo dos anos, bordões e mantras que são alimento para as torcidas, aquela coisa de é preciso acreditar! Mas se estou aqui falando do time baiano é porque só ele ousou emitir um comunicado oficial, quando o bom senso recomendava ficar quieto. Agora, obriga-se, para ser coerente, a contratar uma pesquisa, que seja Ibope, ou qualquer outra, para exibir outros números. Claro que arrisca-se a ter o mesmo resultado, ou semelhante, mas é questão de coerência.

Deus não foi generoso comigo em matéria de me facilitar o entendimento das coisas complicadas, então vejo tudo com muita simplicidade. E me parece lógico que os times do Sul tenham maiores torcidas que os do Nordeste, não vejo despropósito nessa compreensão. Se São Paulo tem 42 milhões de habitantes, Minas Gerais 19 milhões e Rio de Janeiro 16 milhões, por que um time baiano, cujo estado tem 14 milhões, poderia ter uma torcida compatível com a dos times sulistas? E não é uma questão apenas de população, mas de mídia. O recall agregado de horas de televisão em favor dos times de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, é centenas de vezes maior do que o nosso, desproporcional.

A torcida do Baheeea é apaixonada, presente, fiel, entusiasta, é tudo de bom e isso é perceptível no sentimento e na emoção de quem veste a camisa. Mas não é das maiores do país e nunca será. E que mal há nisso?”

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