Em vez de fazer como a maior parte da imprensa nacional, comentando o rebaixamento da dupla BA-Vi, o texto de Mário Magalhães – publicado na edição da última sexta-feira da conceituada Folha de S. Paulo – trata apenas do maior clube do Norte/Nordeste. Confira:
Cantava um desses sábios populares, por quem pouco se dá, que “felicidade não existe, o que existe na vida são momentos felizes”. Era capaz de ser o Odair José, craque da cafonice nos anos 70. Fui morar na filosofia da canção quando larguei o jogo do Robinho para ver o mata-mata entre Paulista e Bahia pela Segundona. Caiu o tricolor.
A vida é assim mesmo. No ano em que as arquibancadas babam pelo quarteto da seleção, duas desgraças maltratam o futebol. Primeiro, o Esporte Clube Pelotas não consegue voltar à elite do Gauchão. Agora, o Bahia despenca para a Terceirona.
O Vitória também, que pena. Mas o rubro-negro não foi campeão brasileiro nem tem torcida de tamanha vibração. O Bahia encarna a tragédia, e a tristeza evoca: nunca um clube teve o hino executado tão lindamente. Foi em julho de 69, no Teatro Castro Alves, em um show de Gil e Caetano antes do exílio. As guitarras rasgaram, e Caetano cantou.
Está no disco “Barra 69”. Fim do 3 a 2 do Paulista, botei-o para tocar. Logo lembrei dois dos mais elegantes versos futebolísticos: “No tempo que Lessa era goleiro do Bahia/ Um goleiro, uma garantia”. São de Gil, em “Tradição”. Toques sobre futebol são tradicionais em sua obra. Tricolor em Salvador e no Rio, Gil saudou os antagonistas ao sair da cana: “Alô torcida do Flamengo, aquele abraço!”.
Depois bolou uma versão em inglês, Clara Moreno gravou-a: “A day because of a good day, another day/ Because Flamengo soccer team is gonna play”. É o que leio -não ouvi- em “Gilberto Gil: Todas as Letras”, coletânea organizada por Carlos Rennó (Companhia das Letras, 2003).
Em qualquer convocação, “Meio-de-campo” é música que se garante. Festeja o jogador dono do seu próprio nariz: “Prezado amigo Afonsinho/ Eu continuo aqui mesmo”. Com direito a uma sacada para Dida considerar: “Que a perfeição é uma meta/ Defendida pelo goleiro/ Que joga na seleção”.
Gil alertou: “O bom jogador não engana a geral”. Contrapôs: “Viva Pelé do pé preto/ Viva Zagallo da cabeça branca”. Voltou ao rei: “Moleque Saci/ Saci-Pererê/ Um gol de Pelé/ Que é pra gente ver”.
Nessa letra de 1980, a antevisão do Bahia atual: “Entra um time novo, troca o time inteiro, muda tudo/ Tem jeito não”. Para a Fiel: “Ser corintiano é decidir/ Que todo ano a gente vai sofrer”.
Na sofrida Copa da França, Gil desfilou seu samba-enredo: “Quem lembrar Pelé ou Platini/ Sabe o que se comemora aqui”. Tabelou, autor da melodia, com o letrista Chico Buarque: “Didi tomou o que era pra tomar/ Isso é que é/ Pepe se chegou/ Pelé pintou/ Só que não quis ficar”.
Caetano deixou seu gol: “Quem não amou a elegância sutil de Bobô…” . Em “Barra 69”, na hora do hino o coro da platéia se impôs ao chiado da gravação. Diz a composição de Adroaldo Ribeiro Costa: “Ouve esta voz que é teu alento: Bahia! Bahia! Bahia!”. Haja alento, Bahia, nos dias que virão.
Ba-Vi da Terceirona
A culpa do fiasco é, essencialmente, dos dirigentes predadores. Eles seguiram no comando de Bahia e Vitória mesmo com a pseudo-profissionalização dos clubes.
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