De Herbem Gramacho, sub-editor de Esportes do Correio*, na edição desta segunda do jornal:
“A análise tática pode esperar, pois o Bahia de dentro do campo Cristóvão consegue arrumar. Com treinamento, afinco e uma dessas razões que a razão não explica, o time supera limitações técnicas e mostra uma força que talvez nem os jogadores acreditassem que eles têm.
Após um Campeonato Baiano marcado por vergonhosas goleadas em Ba-Vis, a equipe saiu da Fonte Nova aplaudida mesmo com um 0x0 no clássico de oito dias atrás. O que mudou? A mentalidade. O time da lentidão amarrada, do zagueiro que segurava o adversário enquanto a bola já entrava no gol, da apatia e da fragilidade emocional passou a vibrar, a dividir todas as bolas, a correr. Entendeu o que seu torcedor considera obrigação.
Mudar a mentalidade de um time dá trabalho, mas é possível. E de um clube?
É esse momento que o Bahia vive agora. O ex-presidente Marcelo Guimarães Filho teve quatro anos e meio à frente do clube e conseguiu alguns bons resultados em campo, como a volta à Série A e o fim do jejum de título ao ganhar o Baiano 2012. Mas manteve – e perpetuou – o que o Bahia tinha de pior: a mentalidade fora de campo.
A bagunça administrativa no Bahia se vê de longe. Atrasar salário é regra, não recolher FGTS e perder jogador convocado para Seleção Brasileira de base por causa disso é regra, dever premiação de anos anteriores é regra, esconder computador é regra. Contratar um jogador e trazer outro de contrapeso do mesmo empresário é regra (Jones renovou em 2012 como condição para Ciro vir; Pablo veio este ano pelo mesmo motivo).
Parecem muitas regras, mas são todas práticas de um mesmo princípio: no dia a dia, o Bahia agia como clube pequeno. Parecia representar muito mais uma família ou um grupo de amigos do que a nação tricolor, expressão lembrada, por conveniência e com efusividade, quando era necessário convocar o torcedor para lotar o estádio nas rodadas finais do campeonato.
Trocar a promessa de eleições diretas, que colocaria milhares de torcedores e de reais no clube, por uma maquiagem no estatuto que manteria as portas do Bahia fechadas ao seu torcedor, foi a síntese do Bahia que não se abria para a realidade e as possibilidades do futebol atual, de entender o torcedor como cliente, fazer tudo para cativá-lo e assim transformar uma paixão eterna em cifrão constante.
Alguns verbos acima ainda estão no presente, até porque a intervenção judicial não muda, de imediato, hábitos construídos ao longo de anos. Outros já se conjugam no passado, pois a associação em massa é uma ação que qualquer clube grande, inclusive o Bayern de Munique, comemora: os alemães chegaram a 217 mil sócios neste mês. Por aqui, o Bahia deu o primeiro passo, com mais de 10 mil novos sócios cadastrados através do site www.sociodobahia.com.br nas primeiras 48 horas (sem contar os associados nas lojas físicas). Do povo um clamor. E da elite política também, ao passo que o governador Jaques Wagner se associou ao clube e, assim como o prefeito ACM Neto, declarou apoio ao movimento Bahia da Torcida.
Mais do que um sobrenome, o que Bahia precisa é pensar grande. É vergonhoso ver que a polícia teve que arrombar a sede administrativa para buscar e apreender documentos, como ocorreu na quinta-feira passada. É triste a constatação dos fatos: o Bahia virou caso de polícia. A hora de mudar a mentalidade é essa.”
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