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Confira entrevista de Maracajá ao Grupo A Tarde

Notícia
Historico
Publicada em 26 de junho de 2008 às 21:50 por Da Redação

De Adroaldo Anunciação, Edmilson Ferreira, Nelson Baros, do A TARDE e Carlos Alberto Vittorio, do A TARDE FM

Depois do governador Jaques Wagner e do ministro Geddel Vieira Lima, foi a vez do vice-presidente do Tribunal de Contas dos Municípios sentar no estúdio de A TARDE FM para participar da sabatina do Grupo A TARDE.

Nesta entrevista ao editor-coordenador de A TARDE Esporte Clube, Adroaldo Anunciação, ao editor Edmilson Ferreira, ao repórter Nelson Barros Neto e ao coordenador de Jornalismo de A TARDE FM, Carlos Alberto Vittorio, Maracajá não se esquivou de nenhuma pergunta, nem mesmo dos questionamentos dos 186 internautas que participaram através do canal interativo.

Durante mais de duas horas, ele falou sobre a sua trajetória no Bahia, patrimônio, finanças, a oposição, crise e o futuro do tricolor. Só não conseguiu deixar de transparecer uma grande mágoa: a forma como alguns protestos são dirigidos, que em seu entendimento chegam a prejudicar a sua vida pessoal. Considerando-se provocado por parte dos críticos, revelou uma intenção ainda inédita na imprensa soteropolitana: a de voltar à presidência já nas próximas eleições, previstas para o encerramento deste ano.

A aposentoria no TCM poderia acontecer a qualquer momento. O único obstáculo seria a família, que não desejaria vê-lo, aos 64 anos, enfrentando dissabores de 14 primaveras atrás. Garantiu estar tranqüilo ante mais uma representação no Ministério Público, mostrou-se novamente grato ao senador Antonio Carlos Magalhães, criticou Arturzinho e faltou até de política municipal.

A TARDE ESPORTE CLUBE – O Ministério Público acaba de instaurar inquérito contra o senhor, por estar supostamente desenvolvendo atividades paralelas à de conselheiro do Tribunal de Contas, o que é, segundo entendimento do MP, proibido. O que tem a dizer a respeito?

Paulo Maracajá – Primeiro, como homem público, é preciso saber que você está sujeito a ganhar inimigos. Ganhei muito mais amigos em toda a minha vida do que pessoas que não gostam de mim. Agora mesmo, quando eu chegava aqui em A TARDE, fui recebido por um recepcionista chamado Itamar, senhor de idade. Muito gentil, dizia assim: “Doutor Paulo, o senhor tem que voltar!”. Perguntei o nome dele, porque queria inclusive dizer aqui, que eu tenho demonstrações como essas, espontâneas, sem esperar, de pessoas do povo, humildes, mas acontece que eu granjeei também pessoas que são minhas adversárias. Essa já é a quarta representação que é feita contra mim. Foram três no Ministério Público e uma no Conselho Nacional de Justiça. Engraçado, em três do MP sempre tem a mesma pessoa, que eu não cito o nome para não promovê-la. Estou com dois processos contra ela, duas queixas-crimes. Mas quero frisar que o Ministério Público do Estado da Bahia, presidido, e muito bem, pelo doutor Lidivaldo Britto, merece todo o meu apreço, todo o meu respeito. E eu vou responder a todas as indagações que me forem feitas com o maior prazer, com a maior obediência, porque assim que deve ser feito. Eu diria que, às vezes, você tem uma paixão na vida e a grande paixão minha, fora Deus e minha família, é o Bahia. Eu adoro o Bahia. Desde garoto.

ATEC – Muito tempo, heim…

Paulo Maracajá – Eu adoro o Bahia desde pequeno. Eu ia para o estádio. Graça… Fonte Nova… levado por meu pai. Eu entrei nesse clube em 68, depois em 70 como diretor-secretário, fui indo, fui indo e levei ininterruptamente no clube 22 anos. Fui vereador por causa do Bahia. Fui eleito, em 76, o segundo vereador mais votado da Arena, atrás de Murilo Leite apenas, com 8 mil e poucos votos, por causa do Bahia. Depois, fui eleito deputado estadual três vezes também por causa do Bahia, mas aí com a ajuda do senador Antônio Carlos e de Luís Eduardo Magalhães, que me ajudaram politicamente. E fui pro Tribunal de Contas por indicação do senador. Então, eu criei um vínculo com o Bahia de amor e de gratidão. Por exemplo, se eu hoje estou num cargo vitalício, se hoje estou num cargo que tem o maior salário do Estado, eu agradeço principalmente à torcida do Bahia. Então, me incomoda ver o Bahia na Terceira Divisão, e depois na Segunda. Eu quero ver o Bahia na Primeira Divisão. Tenho o prazer muito grande de estar com o Bahia, onde o Bahia estiver. Então, por exemplo, tendo coletivo sexta-feira de tarde, eu adoro ver esse treino. E por isso que eu digo que granjeei, digamos, 90% de amigos, 5% de pessoas que divergem de mim democraticamente e 5% que são, vamos dizer, pessoas que não gostam de mim, que gostariam que acontecesse um episódio interessante, eu fosse embora, eu partisse daqui. Tem até o episódio que eu posso contar a vocês que, sem dizer os nomes, mas um deles está falecido, o prefeito Fernando José Guimarães Rocha. Nós voltávamos no avião de Campinas, uma pessoa estava junto dele e começou a rezar. Ele fez: “Tá rezando pra quê?”. O outro: “Pro avião cair”. “Você é louco?”, perguntou Fernando José, quando o outro respondeu: “Não, pelo menos Maracajá morre”. Então, tem pessoas que pensam assim. Tenho que respeitar também isso, mas prefiro ignorá-las, por mim não existem.

ATEC – Um internauta pergunta por que o Bahia é, senão a última, umas das últimas ditaduras do Pais? A atual e eterna diretoria do Bahia não vê que a solução para o clube está na sua imensa torcida? E,afinal, quem ganhou mais: “Maracajá com o Bahia ou o Bahia com Maracajá”? Você ganhou ou perdeu dinheiro com o Bahia?

Paulo Maracajá – Eu vou começar pelo “quem ganhou mais, quem ganhou menos”. Eu, pelo prazer que tive de ser diretor de futebol e presidente do Bahia, de ter tido, participado, eu não fui o grande responsável, mas digamos que eu fui o presidente campeão brasileiro. Vocês viram o Sport campeão da Copa do Brasil, de uma copa. O Bahia foi campeão brasileiro de pontos corridos. Quando eu me recordo, quando vejo hoje essa penúria de títulos do Bahia… Eu, em 22 anos de Bahia, fui campeão 17 vezes de profissionais, 17 vezes campeão de juniores. Eu fui heptacampeão de profissionais. Hoje, o Vitória chegou a ser tetracampeão baiano de profissionais. Nos juniores, nós fomos eneacampeões. Foi na minha gestão que o Bahia entrou no Clube dos 13. Chama-se Clube dos 13 por causa do Esporte Clube Bahia, pois eram só 12, do Rio, São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul. E eu coloquei o Bahia no Clube dos 13. Foi em nossa gestão, por exemplo, que a sede de praia foi concluída. Quando assumimos só tinha um galpão. Nós fizemos piscina, quadras, etc. E o Fazendão foi inaugurado em 21 de janeiro de 79. Naquela ocasião, 50% dos custos foram do passe de Jorge Campos, que nós vendemos. Eu contribuí pra enriquecer o patrimônio do Bahia. Quando saí em 21 de junho de 94 e deixei o Bahia com o presidente Francisco Pernet, o clube era bicampeão baiano, sexto colocado no Campeonato Brasileiro e devia R$ 200 mil. Agora, muita gente confunde. Há um ditado nazista que diz que a mentira, de tantas vezes repetida, passa a ser verdade. Então, começaram a dizer o tempo inteiro que o Bahia é uma ditadura. Eu não concebo que seja uma ditadura. A eleição do Bahia é da seguinte maneira: as pessoas que são torcedoras compram o título de sócio-patrimoniais. Os sócio-patrimoniais são convocados pra eleger o Conselho Deliberativo, que tem 300 nomes. O Conselho, por sua vez, elege o presidente do clube. Aonde é que está a ditadura? Se há livre associação de sócios, se há o chamamento para Assembléia Geral para os sócios comporem uma chapa… Agora, se a pessoa fica acomodada em casa, se a pessoa não se torna sócia, se a pessoa não quer se arregimentar para lutar por uma eleição… Eu vejo em outros clubes as pessoas se arregimentarem pra lutar para ganhar um Conselho Deliberativo. Aqui não há essa arregimentação. No dia que a oposição fez uma arregimentação eles levaram, se eu não me engano, se não me falhe a memória, 20 pessoas. Então, como é que pode com 20 pessoas dirigir o destino de um clube? Pernet, que foi meu sucessor, foi uma combinação de todas as correntes do Bahia. Depois veio Pithon, com uma combinação de todas as correntes do Bahia. Marcelo Guimarães não era meu candidato. Era candidato do Osório Villas-Bôas. Depois houve uma composição e houve um consenso em torno do seu nome. Na segunda eleição de Marcelo, Rui Ribeiro Cordeiro, irmão do ex-deputado federal Marcelo Cordeiro, foi candidato. Teve 8% dos votos. E posteriormente, na ocasião de Petrônio, havia três candidatos por parte da situação, que eram Petrônio Barradas, Zenildo Rodrigues e Ademir Ismerim. Prevaleceu o nome de Petrônio e foi bater chapa com Fernando Jorge. E ganhou a eleição, se eu não me engano, por 210 a 56. Então, isso não é ditadura. Às vezes as pessoas ficam acostumadas a não lutar e a querer que caia nas mãos. A pessoa pra conseguir as coisas tem que lutar. Vou dizer uma coisa: eu me casei com 18 anos de idade. Entrei na Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia com 18 anos. Trabalhava de manhã e de tarde, estudava de noite na faculdade de Direito. Me formei aos 22 anos. Aos 23 já tinha quatro filhos. Eu trabalho há 46 anos. Eu tenho 64. Então, eu sei o que é trabalho. Eu nunca fiquei no ócio. Se eu fizer 70 anos e ficar vivo, eu vou trabalhar. Só vou parar quando eu morrer. Agora, eu sou homem de luta, sou homem de combate. Qualquer pergunta que for feita eu respondo. Sou um cara democrático, não tenho medo de dialogar. Eu tenho medo, sim, de traição. Eu tenho medo, sim, de calúnia. Eu tenho medo de difamação. Isso é que eu tenho medo.

ATEC – Até que ponto vai a sua influência? Por que não dá para dizer que o senhor é quem realmente quem manda no Bahia?

Paulo Maracajá – Sou consultado, porque, modéstia à parte, para os torcedores do Bahia vivos eu sou o maior vencedor. Agora eu tenho que ser responsabilizado pelos meus anos de gestão como diretor de futebol e como presidente do clube. Eu não posso ser responsabilizado eternamente por tudo aquilo que se passa no Bahia. O Bahia já teve, depois de mim, quatro presidentes. Eu fiquei dois anos e meio sem falar com Marcelo Guimarães. Fizeram xaveco, intriga e eu levei dois anos e meio sem pisar no Fazendão, brigado com Marcelo, que disseram que minha influência era ruim. Então, eu não tive nada a ver em dois anos e meio da gestão dele. Depois nós nos entendemos e hoje somos amigos novamente. Eu não mando no Bahia. Eu tenho influência pelo prestígio que eu tenho clube. Agora eu quero ser responsabilizado eu sendo, não eu ajudando. Ajudar é uma coisa, você ser é outra. É por isso que esse detalhe de voltar a ser presidente cada vez mais está em minha cabeça, porque de tanto eu tomar pau sem ser presidente, talvez seja melhor eu tomar pau sendo presidente. Porque aí eu sou responsável por tudo aquilo que se passa. E nem estou aqui criticando nenhum dos que passaram, porque todos merecem meu respeito, mas cada um tem seu modo de agir.

ATEC – Então o senhor pensa realmente em voltar à presidência do Bahia?

Paulo Maracajá – Não estava pensando, mas depois de tantas agressões que eu tenho sofrido, depois de panfletagem na Fonte Nova contra mim, depois de invasão de privacidade que está havendo comigo… Você pega o telefone, o celular, e às vezes, por exemplo, tem número particular e número desconhecido, e você chega ouve xingamentos, você vê o pessoal botar no Orkut, na Internet, seu telefone. Eu não mudo não, continuo com o mesmo telefone. A maior covardia que tem é você xingar alguém anonimamente. Você tem que xingar a pessoa tendo peito de assumir, xingar de cara, porque não suporto traição. Eu sou homem de frente. Nunca peguei um revólver, nunca peguei uma arma. Eu vou pra todos os lugares. Rapaz, minha segurança é Deus. Se vier acontecer, acontece. O homem mais poderoso do mundo foi morto, em Dallas, por uma bala. Quer dizer, se você ficar preocupado com segurança, você não vai pra lugar nenhum.

ATEC – O senhor apóia essa diretoria do Bahia, que já teve, em sete anos, dois presidentes diferentes. Essa diretoria já se mostrou incompetente para o torcedor tricolor. O senhor foi um vencedor. Não é um contra-senso?

Paulo Maracajá – Olhe, eu não digo que os dirigentes se mostraram incompetentes. Eles podem não ter tido sucesso que gostariam de ter os seus presidentes. Mas cada um se esforçou pra fazer. Quando eu fui campeão sete anos seguidos no Bahia, estavam, no Vitória, Luís Catharino Gordilho, o velho, que já faleceu, doutor Manoel Tanajura, já falecido, Alexi Portela, já falecido, e outros, e eles não eram incompetentes porque eu ganhei sete anos. Então, nesses anos, o Bahia tentou ganhar. Veja o campeonato deste ano. O Vitoria foi campeão num detalhe. Um detalhe de gols marcados. Mas a campanha do Bahia foi brilhante. O Bahia, em 2001, ficou entre os oito melhores do Campeonato Brasileiro. Em 2002, ficou entre os 12 melhores. O Bahia foi bicampeão do Nordeste em 2001 e 2002. Agora, de lá pra cá, realmente, há um recesso. A não ser a subida pra Segunda Divisão, é uma série de desgostos, de insucessos. Então, eu não diria.. eu mudaria o termo, não teve a sorte necessária, porque às vezes você tem que ter estrela.

ATEC – Uma vez, você disse assim: “Acho que eu acostumei mal a torcida do Bahia…”

Paulo Maracajá – É verdade, vocês se lembram que Marco Aurélio [apresentador de um programa de rádio] dizia assim: “Mas não é possível, perdeu a graça o Campeonato Baiano. Só o Bahia ganha. O Vitória não ganha uma”. Então, o Bahia foi campeão estadual de 73 a 79, perdeu 80. Ganhou 81, 82, 83 e 84. Perdeu 85. Ganhou 86, 87 e 88. E eu era o presidente do clube. Então, essa série de sucessos é que me deixaram a ter uma ligação com o Bahia extremada. As maiores restrições que eu tenho são de pessoas que não acompanharam minha trajetória no Bahia de 73 até 94. Já tem anos que eu saí. Então essa geração de 19, 20 anos é uma geração sofredora. Eu poderia, perfeitamente me acomodar. Eu estou aposentado como deputado, com salário de deputado. Eu tenho o maior salário do Estado, do Tribunal do Contas. Eu poderia está na minha, mas não, me incomoda ver o Bahia onde está, ver o Bahia na Segunda Divisão, ver o Náutico na primeira, o Sport na primeira, Vitória na primeira, e o Bahia na segunda. Então, eu quero ajudar naquilo que me for possível pro Bahia voltar à Primeira Divisão. É essa minha intenção, mas acontece que por meu nome ser forte, ai tem a oposição. Você sabe que oposição tem em diversos setores. Teve um setor agora da oposição, de Ademir Ismerin, a Povão e a Bamor, que fez um acordo com Petrônio Barradas e com Ruy Aciolly. Mas tem outros que tem outro pensamento, que resolveu centrar em mim. Bem, ele é o nome mais forte que tem aí na situação. Então, vamos centrar em cima dele. Vamos bater nele. Vamos desqualificá-lo. Vamos cansar ele. Vamos telefonar pra casa dele. Vamos ameaçar. Vamos fazer, acontecer. Minha mãe estava à morte no Hospital Aliança, eu recebi ligação dizendo: “a velha vai morrer já, já. Já, já vai morrer”. Até ligação desse tipo eu tive. Então, é um negocio que você fica pensando: “Puxa, vale a pena essa negócio? Vale a pena você estar ajudando? Ou não é melhor você se aposentar do Tribunal, que eu já tenho tempo de me aposentar, e ser presidente do Bahia logo agora em dezembro? E ai enfrentar realmente, podendo fazer tudo que eu quero, à minha maneira, ao meu gosto, com minha cara, com minha cabeça e com minha estrela? Eu nunca estive tão próximo de tomar uma decisão de ser presidente do Bahia como agora.

ATEC – Quer dizer então que existe essa possibilidade já para o próximo pleito, agora de dezembro?

Paulo Maracajá – Agora. Estou pensando seriamente. Tenho conversado já com meus companheiros do Tribunal, com meus familiares, onde tenho encontrado reações. Uma reação muito grande. Porque eles acham que eu vou sair de um lugar em que eu estou muito bem, vamos dizer, me sinto como um oásis, e vou pra uma briga de foice, ao meu estilo 24 horas por dia. Porque quando eu fui presidente do Bahia eram 24 horas por dia.

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