Criticada ao longo do ano, oposição volta se mexer

De Nelson Barros Neto, no jornal A Tarde desta quarta-feira:

“O campeonato acabou e, com ele, a pasmaceira que vinha reinando de maneira quase inédita no Fazendão. A última foi a carta enviada pelo chefe de gabinete do governador Jaques Wagner, Fernando Schmidt, em solidariedade ao jornalista e escritor João Carlos Teixeira Gomes. Filho do primeiro goleiro do Bahia, campeão em 1931, ‘Joca’ acaba de ser processado pelo presidente Marcelo Guimarães Filho.

“Não se preocupe com essa medíocre interpelação judicial. Duvido que um número enorme de torcedores não esteja disposto a também subscrevê-la. Uma coisa é certa: há muito o clube vive um claro processo de gestão temerária, sem abrir mão do autoritarismo e resistindo a qualquer tentativa democrática sobre seus órgãos diretivos”, escreveu Schmidt, à frente da nau tricolor de 1975 a 79. O documento foi colocado à disposição da reportagem, ontem, através de sua secretaria.

Apelidado “Pena de Aço”, referência aos embates com o ex-senador Antonio Carlos Magalhães durante a ditadura – quando obteve uma vitória histórica em pleno Superior Tribunal Militar –, Teixeira Gomes virou réu na 15ª Vara Crime de Salvador, aos cuidados do juiz Antonio Silva Pereira, em razão das críticas à diretoria no artigo “Como salvar o Bahia”, publicado em A TARDE no dia 17 de outubro. “Não fiz nenhuma acusação de desonestidade a quem quer que fosse e sequer citei o nome do presidente”, defende-se.

Assim, então, começou Schmidt: “Quero me congratular efusivamente por seus três últimos artigos. Concordo com você, sem fazer qualquer ressalva. Veja a que ponto chegamos: quando o Brasil, após tantas lutas, consegue afinal o respeito do mundo e se livra daquele terrível ’complexo de vira-latas‘ a que aludia Nelson Rodrigues, o Esquadrão de Aço resolveu adotá-lo e, dele, seus dirigentes não abrem mais mão”.

O novo momento nos bastidores tricolores é confirmado na despedida do texto. Segundo ele, “encerrada esta nossa lamentável participação na Série B, temos que somar esforços para promover uma verdadeira mudança no clube. Conte comigo nesta cruzada mobilizadora”.

Restaurante

Na véspera, não à toa, o secretário esteve em um almoço no Baby Beef com as presenças de Fernando Jorge, Reub Celestino, Pedro Barachísio, Fernando Passos e Nestor Mendes Júnior.

Ligados ao alto comando azul, vermelho e branco, Wellington Cerqueira, Ivan Durão e Celso Castro se encontravam no restaurante, na ocasião, e foram à mesa saber do que se tratava.

Um dos recém-convidados para assumir o até hoje vago marketing do Bahia, assim como Passos, Mendes Jr. explica: “Ainda em dezembro, fomos procurados para apoiar a atual administração. Decidimos aceitar, mas sob a condição das eleições diretas. Fizemos esse pacto, só que 11 meses se passaram, a assembleia não foi convocada e o estatuto não foi alterado”.

A ameaça de rebaixamento, de acordo com ele, contribuiu para aumentar o período sabático, “com o objetivo de não conturbar ainda mais nem ficar parecendo algo oportunista”. O próximo passo será a divulgação de uma nota “esclarecendo que tivemos paciência, boa vontade e todas as condições para que as coisas acontecessem, mas não aconteceram”.

No lançamento do estádio em parceria com a Lusoarenas, há uma semana, um outro oposicionista já havia escancarado a situação. “Sem democracia, o Bahia voltará a ficar em crise”, disse Rui Cordeiro.

Confira, abaixo, algumas manifestações de Marcelo Filho sobre o assunto:

“Schmidt tem todo o direito de apoiar o Joca, mas acho que a minha opinião é que a prevalece nesse episódio. Tanto que ele reconheceu seu erro em um artigo seguinte, no próprio jornal, admitindo que extrapolou, de acordo com a minha avaliação“

“Vejo isso muito mais um movimento político que uma carta sincera de apoio” (são de partidos rivais no próximo pleito para governador)

“Nunca tive a ilusão de que teria consenso ou unanimidade nesses três anos de mandato. No geral, essas pessoas são movidas realmente pelo bem do Bahia, embora um ou outro tenha interesse pessoal, mas algo normal. É positivo que haja vida dentro do clube”

“Sobre eleição, não é fácil acomodar todas as tendências de uma agremiação como essa. Mas aprovamos no Conselho um novo estatuto, que se não é o ideal para uns, para mim avançou”