Leia abaixo, retirado do jornal A Tarde da última segunda-feira, um texto do jornalista Paulo Leandro. Vale a pena conferir:
“TRIIIIIIIIIIISTE BAHIA
Ó quão dessemelhante! Gregório de Mattos, o Boca de Brasa, poderia declamar para contrastar a época de glórias e o lamento de hoje. São muitos motivos para se acreditar que o Bahia cavou a própria sepultura. A crônica do suicídio de um clube e uma queda anunciada
O alarme já havia sido acionado. O Bahia foi quase rebaixado em 2002. Nonato, o artilheiro rebelde, foi quem salvou, na última rodada, na vitória sobre a Portuguesa, por 4×2 em Mogi Mirim, interior paulista.
O sinal era nítido. O time merecia reforços de qualidade porque o Brasileiro de 2003 seria ainda mais longo e difícil. Mas o Bahia fez o percurso contrário. Foi o Bahia mesmo quem se rebaixou pela segunda vez em sete anos.
Uma história sofrida com o agravante de ter voltado à Primeira Divisão pela janela, depois de tentar sem conseguir pela via esportiva. O Bahia teimou em se valer apenas da mística da gloriosa camisa que jogava sozinha. Mas os tempos são outros.
O Bahia começou a cair desde que começou a sofrer com erros sucessivos da zaga, graças à saída da dupla de Jeans, Witte e Elias.
Desde então, embora a torcida venha apontando os erros, não houve investimento dos gestores do clube-empresa na aquisição de um jogador de desempenho ao menos regular para o setor, decisivo para um time.
A direção do clube também vacilou ao emprestar um jogador de alta qualidade como o lateral Daniel ao Sevilha. Um dos melhores de sua posição na Espanha, Daniel já atrai a cobiça do super-Real Madri.
Cortesia Além de ter ficado sem seu ótimo lateral-direito, o Bahia está ameaçado de receber apenas US$ 1,4 milhão, passe estipulado por um jogador que hoje valeria pelo menos o triplo. Na esquerda, perdeu Calisto.
No ataque, o Bahia esteve bem servido até que dispensou dois dos principais artilheiros. Robgol foi destaque na Libertadores e no Brasileiro pelo Paysandu. Sérgio Alves, mesmo com gol de bicicleta e tudo, foi descartado.
Didi até que fez umas gracinhas, mas o que dizer de Cláudio, ex-Vitória, goleador em jejum total no Brasileiro? Fenômeno de insistência em contraste com a exigência básica para um jogador de ataque: balançar rede.
Nada perto do espantoso caso de Nonato, herói da salvação de 2002. De festejado carrasco em Ba-Vis à reserva indesejado, o artilheiro sumiu em momentos decisivos e sua ausência ajudou a manter o rumo da degola sem chance de reversão.
No meio de campo, a direção achou por bem dispensar Bebeto e Ramalho, alegando altos salários.
Sem seus anjos-da-guarda, a defesa, que já era generosa, passou a receber os atacantes com uma cortesia bem ilustrada pelos 92 gols sofridos, pior desempenho entre times de Primeira Divisão no mundo.
Fez tudo Capixaba também faz falta. No São Caetano, um dos times de melhor campanha, ele foi um dos jogadores mais úteis. A meia direita passou a ser freqüentada por ex-volantes. Preto e Jair, deslocados, tentaram preencher este setor.
No momento em que rompia com o presidente Marcelo Guimarães, o conselheiro Paulo Maracajá, ex-homem-forte do Bahia, se gabava de ter trazido para o clube jogadores como Adriano e Paulo Sérgio. Mas Geraldo, bom de bola, não ficou.
Um caminhão de contratações erradas, como as que orgulhavam Maracajá fizeram a alegria de empresários e procuradores de bondes, como são chamados jogadores sem chance nos grandes times do Sudeste e que eram importados com frequência no passado.
O triste Bahia desta temporada resgatou esta prática que já havia sido abolida e substituída pela saudável revelação de jogadores. Arlindo, Adeildo e Guto foram considerados mais importantes que Daniel.
O técnico Evaristo de Macedo ainda tentou arrumar a casa, mas preferiu deixar o clube. E Macedo previu, antes de sair: Este time vai cair. Caiu mesmo, mestre. Fez tudo pra isso.
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