As diretorias da dupla BA-Vi deram um tiro no próprio pé. Especialistas na área de Economia acreditam que a majoração em 100% nos preços dos ingressos não irá aumentar a receita dos clubes com bilheteria dos atuais 10% para os pretendidos 30%. A renda do trabalhador não acompanhou esse aumento, o que vai afastar o público do estádio.
A Região Metropolitana de Salvador (RMS), onde está a maioria dos torcedores dos dois times, é a campeã nacional do desemprego. A mostragem da Pesquisa de Emprego e Desemprego (Ped), promovida pelo Departamento Intersindical de Estudos Econômicos e Sociais (Dieese), aponta que em fevereiro 27,2% da população da RMS se encontrava desempregada.
A mesma pesquisa indica a queda de 12,6% no poder de compra dos salários dos trabalhadores da capital entre 1997 e 2002. O salário mínimo atual é de R$ 240. O ingresso a R$ 20 é quase 10% deste salário. Se o trabalhador for a jogos do Bahia e do Vitória-BA a cada um dos quatro finais de semana do mês, vai sobrar apenas R$ 120 para serem gastos com alimentação, saúde, transporte, vestuário e outras formas de lazer.
Érika Aragão, coordenadora do Instituto Miguel Calmon de Estudos Econômicos (Imic), afirmou que a renda per capta da Bahia é 54% menor que a média do Brasil. Com ingressos a R$ 20, Fonte Nova e Barradão são os estádios com os bilhetes mais caros do Brasil. O preço vai reduzir o número de ocupantes dos estádios. Nada justifica este aumento, afirmou, antes de rebater todos os argumentos dos dirigentes dos dois times para justificar o aumento dos ingresso.
O principal argumento dos cartolas Marcelo Guimarães e Paulo Carneiro que perderam o mandato de deputado estadual nas últimas eleições é que o preço dos ingressos é o mesmo desde 1995. A inflação acumulada nestes sete anos não chegou ao índice de 100%, mesmo com a forte desvalorização do real em 1999 e 2002.
Outra tentativa de justificar é o número elevado de carteiras de estudante falsificadas. Em todo o Brasil existe essa falsificação e nem por isso times de outros Estados aumentaram o preço dos bilhetes, rebateu Érika Aragão. Os clubes, na mesma linha de raciocínio, alegam um aumento de custos com juízes, exames antidoping e segurança (esta, exigência do Estatuto do Torcedor).
Novamente basta comparar com outros Estados. Os times também têm estes custos e conseguem realizar partidas sem majorar os preços, afirmou a economista, sem mencionar o fato de que os dois clubes como de resto, todos os times do Brasil devem à Previdência Social e estão com os salários de atletas e funcionários atrasados.
Jorge Pereira, economista consultor do Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa (Sebrae), concorda com a colega do Imic e classifica como falsos os argumentos dos dirigentes para o aumento dos ingressos.
É uma visão de curto prazo dos dirigentes querer recuperar receita com aumento de preços. Eles têm de lembrar que a renda da população caiu, falou. Futebol é lazer. Em tempos de crise, os gastos com lazer são os primeiros a ser cortados, completou.
A Tarde (Adaptado)







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