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Em longa entrevista, meia conta objetivos no clube

Notícia
Historico
Publicada em 25 de março de 2014 às 11:28 por Da Redação

De Miro Palma, para o jornal Correio* desta terça-feira:

“Aos 35 anos, Lincoln garante ter alegria para seguir no futebol durante um bom tempo. Revelado no Atlético-MG, o meia passou oito anos no futebol alemão, entre Kaiserslautern e Schalke 04. Depois, transferiu-se para o Galatasaray, da Turquia. De volta ao Brasil, atuou no Palmeiras, Avaí e Coritiba antes de assinar por empréstimo com o Bahia até o fim do ano. Após marcar um gol no Ba-Vi de domingo, o meia espera entrar no ritmo da equipe para ter sucesso. Nesta entrevista concedida ao CORREIO, Lincoln falou também sobre a mentalidade vencedora que quer colocar no clube.

Como analisou o Ba-Vi? Você alternou muito com Talisca no ataque. Acabou segurando o jogo, recebendo faltas…

Já tenho um pouco dessas características. De segurar bem a bola, pra que dê tempo da nossa equipe se encaixar melhor. Aquilo ali foi tudo estratégia do Marquinhos. Tanto que, no primeiro tempo, Talisca fez mais esse posicionamento do que eu. No segundo, como a gente já tinha o placar, e até pela velocidade do Talisca, ele ficou um pouco mais livre e eu me prendi mais entre os zagueiros. Não tem essa questão de escolha, pois Marquinhos me conhece bem. Ele entrou com essa formação e pra mim não foi problema. Pra equipe também não, porque a gente sabe fazer essa função de uma hora entrar e outra abrir espaços. A questão de sofrer as faltas é que o momento ali pedia isso.

Recebeu muitas ligações depois do clássico?

Sim. Foi um momento de felicidade total. Acaba que uma transferência mexe com todo mundo, né? Para você ter uma ideia, meu filho veio aqui me visitar no final da semana passada, aí já disse que não quer ir mais pra escola em Curitiba. Já tá falando que a escola dele é na Bahia. Mexeu com a cabecinha dele. Espero que as coisas sejam regularizadas em breve.

A família ainda não mora em Salvador?

Por enquanto ainda não estão aqui: minha esposa (Raquel) e o meu filho (Lincoln), que faz 4 anos agora em abril. Tá difícil arrumar casa. Ainda estou morando no hotel, mas espero conseguir rápido, e a hora que estiver instalado, o pessoal poderá vir. Minha mãe (Regina), amigos, parentes. Todos vão querer conhecer as praias da cidade. Mas ainda não achei a casa. Ainda tem uns dez cachorros que precisam ter casa (risos).

Você é o número 99, mas joga como um camisa 10. Mesmo em pouco tempo, recebeu cobrança da torcida. Entende isso?

Vejo que, no momento, a torcida do Bahia está sentindo falta não só de um camisa 10. Tá sentindo falta da proximidade, de que o time volte a ter a cara do torcedor. Uma torcida muito apaixonada, que o Bahia estando bem vai estar junto coma equipe. Eu, que cheguei agora, não tenho dúvida disso. Converso com muita gente daqui e eles falam isso. Eles vão preferir nesse momento que o Bahia conquiste títulos, que seja um time forte, preparado para as competições. Eu não vim aqui querendo ser um destaque individual. É difícil você debater com o torcedor, pois ele vai mais pela emoção. Mas eu sei muito bem do meu potencial, daquilo que posso render. Realmente meu ritmo ainda não é 100%, vinha só treinando. Já estamos no fim de março e é apenas o meu quarto jogo no ano. Sei que tem toda uma expectativa, a gente tem que ter cautela. Ontem(domingo) já tive a oportunidade de fazer gol, de acertar um belo chute. Estou aqui no meu dia a dia. Hoje (ontem) era folga pela manhã, cheguei 10h30 e vou ficar o dia inteiro no clube.

Faz algum tratamento especial para evitar lesão?

Sempre fui um jogador que se cuida bastante. Não bebo, não fumo. Participo bastante dos treinamentos da maneira que eu posso. Se não cuidar, fica difícil. Muita exigência, muito contato, parte física muito forte. Saí do jogo com o adutor dolorido e espero que não tenha lesão.

O que te fez vir para o Bahia?

Foi uma série de fatores. O primeiro, sem demagogia nenhuma, a grandeza do Bahia, que eu nunca joguei aqui, mas eu sei de enfrentá-lo, principalmente a torcida. Obviamente, vocês todos sabem que o que mais pesou foi a vinda do Marquinhos, que é uma pessoa com quem eu já trabalhei, tenho confiança, confia em mim também, isso pesou muito. Mas também a decisão final foi a conversa que eu tive com Valton (Pessoa, vice-presidente), que me apresentou o projeto, me falou o que vinha acontecendo com o Bahia anteriormente e a forma com que eles tratariam o clube daqui pra frente. Isso foi fundamental.

O que pensa para o clube nesta temporada? O Bahia brigou para não cair nos últimos anos.

Então, fiz essa análise também antes de vir. Já são alguns anos que o Bahia oscila muito nas competições. Se eu te falar que a gente está pronto hoje pra uma grande competição, realmente ainda não estamos. Mas também acredito que não tenha nenhum grupo no Brasil, hoje, pronto. Falo por mim, particularmente. Foi apenas meu quarto jogo no ano, muito fui criticado por dois jogos que tinha feito, mas dificilmente as pessoas sabem que nenhum jogador no mundo com dois, três jogos no ano, vai estar pronto. Vejo isso também por parte da nossa equipe, vários jogadores ainda buscam um entrosamento, vários chegaram agora. Mas a intenção é sim colocar o Bahia num cenário melhor, onde tenha oportunidade de disputar os títulos de igual pra igual. Ainda é cedo pra isso, temos que pensar agora no Baiano e não esquecer da Copa do Brasil, que é uma competição curta e te dá possibilidade de coisas maiores. Vim pra tentar colocar um pouco dessa mentalidade no clube.

Chega pra ser um líder?

Pra mim é muito gratificante não estar aqui nem há 20 dias e, por exemplo, Talisca encostar em mim e perguntar algumas coisas. Isso mostra que o grupo me recebeu bem. Com certeza, não tenho como esconder isso, vou ser sempre um dos líderes aqui, até mesmo pela experiência, por tudo que vivi na carreira. Mas tiro pelo lado positivo de que isso me ajuda e vai me ajudar sempre a posicionar melhor, a dar uma opinião daquilo que vivi, mas sempre com o intuito de ajudar o Bahia. Não tem nada de querer ser estrela.

E Talisca, o que acha dele?

Eu vejo assim: o Brasil tem um talento todo dia, todo dia nasce um. Se você for no Santos, aparecem dez a cada temporada. Eu, na minha situação, já fui garoto um dia, subi como profissional com 17 anos em um time que tinha Taffarel, Márcio Santos, Evair, Valdeir, Doriva… A primeira coisa que eu fazia era ouvir o que as pessoas tinham para me passar, os mais experientes. Isso é um ponto positivo que eu vejo no Talisca. Ele ainda é um menino pro futebol, apesar de já ter 20 anos, mas é uma pessoa que ouve. E tem que ser desta forma, porque o futebol é muito dinâmico. Da mesma forma que te dá uma possibilidade de alguma coisa, ele te tira, isto num período muito curto. O crescimento do Talisca vai depender muito dele, mas também dos outros o ajudarem. Ele tem muito talento e tem tudo pra ter um futuro brilhante pela frente, mas tem que entender que, às vezes, as coisas não vão ser exatamente como ele pensa.

Gosta de dar conselhos?

Acho que eu nasci meio que pra isso. Por onde eu passei foi dessa forma, até porque eu era sempre um dos capitães do time. Então é natural até que as pessoas venham falar com você. Mas eu sei, também, que tem jogador que depois que você fala ele vira as costas e fala “pô, esse velho, esse experiente, está querendo me falar isso ou aquilo”. Faz parte do futebol.

Planeja o fim da carreira?

Sou um cara bem resolvido, tanto dentro quanto fora de campo. Não jogo por dinheiro. O que me faz jogar até hoje é a alegria que tenho, de fazer disso aqui a minha segunda casa. Sou muito apaixonado pelo que faço. No dia a dia, no vestiário, brincando com os companheiros. Enquanto eu tiver essa alegria e Deus me der essa oportunidade, vou estar jogando. Nunca tive uma lesão séria.

Jogador é uma eterna criança?

É mais ou menos isso. Você vai brincar de bola com o seu filho e ele faz alguma brincadeira, algum gesto com a bola que às vezes a gente faz até dentro de campo. É uma alegria que contagia todo mundo.”

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