Confira a interessante matéria que se encontra na edição desta sexta-feira do jornal A Tarde. Publicado pelo repórter José Raimundo Silveira, o texto é intitulado “Abatido, mas sem rancor”:
“A vingança, diz o ditado, é um prato que se come frio. Mas um dos personagens mais enxovalhados da história do Bahia segue outro rumo. Presidente do clube na ocasião do descenso para a Segundona, em 97, Antonio Pithon foi banido do ambiente tricolor. Ironia do destino, os mesmos que o colocaram no ostracismo estiveram no comando até a queda para a Série C.
Porém, em lugar de dar o troco aos detratores, o ex-dirigente sugere idéias para a fuga do abismo.
Afastado da vida política do clube desde o rebaixamento de 97, Pithon ainda acompanha os jogos do tricolor. Pela TV ou radinho, bom que se diga. Na Fonte Nova, jamais pôs os pés novamente.
O sofrimento pela queda para a periferia do futebol nacional transformou-se em vontade de ajudar na recuperação. Para tanto, indica medidas de ordem interna e externa.
No primeiro caso, salienta, tem que parar de ficar dizendo que a Série C é o inferno, sem se preparar para este inferno. Além disso, é preciso revigorar as categorias de base. No campo externo, a medida é sugerir à CBF mudança na forma de disputa da Terceirona. Há tempo para entendimento. Conheço Virgílio Elísio (diretor-técnico) e sei que ele está disposto a ajudar.
Mas todo o processo deveria ser conduzido por pessoas fora do atual círculo de poder do Bahia, dividido entre os ex-presidentes Paulo Maracajá e Marcelo Guimarães, segundo sua análise. Assim como grande parte da oposição do clube, ele não crê em mudanças no comando. Como não há voto direto, é o Conselho que decide. E essa é uma esfera manipulada desde a Era Osório Vilas Boas.
CULPA Voltar ele próprio à linha de frente na sucessão tricolor é hipótese fora de cogitação para Antonio Pithon. Terra arrasada é pouco para descrever no que se transformou a vida pessoal e profissional deste homem de 64 anos desde o rebaixamento de 97.
Condenado sumariamente como o responsável único pelo fracasso, o antes bem-sucedido arquiteto viu o chão sumir sob os pés.
A vitoriosa empresa de arquitetura, com três décadas de existência, fechou em 98. O casamento, que rendeu três filhos, acabou. Além da eterna cruz de culpado, o descenso deixou conseqüências físicas: problemas cardíacos, paralisia facial e Mal de Parkinson. Fiquei destroçado. Por um ano, residi no Abrigo Salvador, depois me isolei em Itaparica. Hoje, sou um sujeito pobre.
Aos poucos, porém, o ex-presidente do Bahia começa a se reerguer. Na artista plástica Laila, com quem está casado há quase cinco anos, reencontrou estímulo para tocar a vida. Atualmente morando em uma casa na Pituba, desenvolve projetos arquitetônicos como autônomo.
Assim como ocorreu com ele, espera que seu tricolor dê a volta por cima. Apesar de tudo o que fizeram comigo, não tenho mágoa. Sou Bahia desde a época do Campo da Graça, nos clássicos contra o Ypiranga. Essa é uma paixão que se leva para o resto da vida.
CARREIRA
Antonio Pedreira Pithon entrou nos quadros de comando do Bahia em 69, como diretor-social. Também atuou na áreas de Planejamento, mas foi na direção de Patrimônio que ganhou notoriedade.
São dele os projetos de melhoramentos da sede de praia da Boca do Rio e a edificação do Centro de Treinamentos do Fazendão, em 79, na gestão do presidente Paulo Maracajá.
Sobre a construção do CT, ele revela que o projeto estava longe de ser unanimidade no clube. Segundo conta, houve tentativa de ridicularizar a idéia. A mando do presidente de então, radialistas como França Teixeira gritavam no ar que a obra era faraônica. Dois anos depois, estava sendo homenageado com placa, por essa realização, na sede de praia.
Em 85, Pithon assumiu a direção da Federação Bahiana de Futebol, desenvolvendo uma gestão de três anos, até hoje, saudada. Na época, colocamos o Campeonato Baiano como segundo do Brasil em média de público e renda. Todos os times ganharam patrocínio de camisas, abolimos a taxa de 5% sobre a renda, obrigatória para os clubes, a competição era atrativa.
Depois da FBF, atuou como diretor-adjunto de Futebol da CBF entre 88 e 89, justamente na época em que o tricolor foi campeão nacional. Presenciei toda espécie de conchavo que os clubes dos grandes eixos tentaram fazer, em termos de arbitragem e lances de bastidores. Ajudei o Bahia evitando essas jogadas, diz Pithon, que também foi membro do Conselho Nacional do Desporto”.
Leia também: Ex-presidente tricolor diz ter cometido três erros
comentários
Aviso: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do ecbahia.com.
É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral, os bons costumes ou direitos de terceiros.
O ecbahia.com poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios
impostos neste aviso ou que estejam fora do tema proposto.