Avaliada em pelo menos US$ 6 milhões (R$ 10,5 milhões), conforme inquérito de Ministério Público Federal, sem contar as edificações, a Ilha de Saraíba tem como ocupante legal o empresário Marcelo de Oliveira Guimarães, ex-deputado estadual e ex-presidente do Esporte Clube Bahia. Ele é um dos acusados pelo Ministério Público Federal de chefiar esquema de fraudes em licitações públicas desarticulado pela Operação Jaleco Branco, realizada pela Polícia Federal.
Apesar de ser dono de uma ilha milionária, o valor total dos bens declarados por Guimarães ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE), quando se candidatou a deputado estadual em 2006, é de aproximadamente R$ 420 mil. A lista das posses do político e ex-cartola de futebol está disponível no site www.tse.gov.br, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e faz o ex-deputado parecer apenas uma pessoa de classe média alta, dono de metade (R$ 56 mil) de um imóvel residencial em Itapuã e de um automóvel Mercedes, ano 1999, avaliado em R$ 122,5 mil.
Marcelo Guimarães declarou ter ainda participação no valor de R$ 19 mil no capital da Consultiva Consultoria e Projetos Econômicos Financeiros, mais R$ 150 mil em dinheiro e outros R$ 1,5 mil em cotas da MOG Empreendimentos e Participações Ltda., empresa da qual seu filho homônimo é sócio. O saldo na conta corrente do Bradesco estava em R$ 71 mil e ele ainda tinha um título de capitalização no Santander de R$ 370,70. Nada de Ilha de Saraíba, onde existe uma área de proteção ambiental.
Em depoimento do empresário Afrânio Mattos, um dos 18 presos na Operação Jaleco, à Polícia Federal em Brasília, em novembro, o patrimônio de Marcelo Guimarães era mencionado como de alguns milhões, incluindo a ilha de US$ 6 milhões. Mas o próprio alega que seus bens têm valor inferior aos de Marcelo de Oliveira Guimarães Filho. Este declarou à Justiça Eleitoral, como candidato a deputado federal, ter apartamento avaliado em R$ 440 mil, capital da MOG Empreendimentos (R$ 214,5 mil), um Peugeot 304 (R$ 12 mil), além de ter recebido doação de R$ 32 mil do pai.
Mistério Durante duas décadas, Marcelo Guimarães ficou conhecido como empresário bem-sucedido nas áreas de segurança e limpeza pública na Bahia, comandando empresas criadas nos anos 80 e que prestavam serviços aos governos municipal, estadual e federal.
Ele foi eleito para a Assembléia Legislativa por três mandatos seguidos, entre 1991 e 2003, e presidiu por oito anos o Esporte Clube Bahia (1997-2005), o time mais popular do Estado. Os sites do Legislativo baiano e do Bahia não avançam na sua biografia. Apenas informam que é casado com a advogada Vera Lúcia de Medeiros Magalhães e tem seis filhos.
No ramo empresarial, conquistou importante espaço na esfera pública com empresas que não estão em seu nome, conforme evidenciado no depoimento de Afrânio Mattos. De 2002 para cá, duas delas, a Seviba (vigilância) e a Organizações Bahia (limpeza e locação de mão-de-obra), receberam R$ 26 milhões da União pela prestação de serviços de segurança e limpeza. Entre 2003 e 2006, o governo federal pagou R$ 15,7 milhões à Seviba, que embolsou outros R$ 70 milhões do governo estadual. A parcela federal foi paga por contratos com as universidades federais. Nos cadastros oficiais não consta o nome dele entre os donos dessas empresas. Seu nome é associado à Postdata e à Protector.
Coisa de cinema Uma visão aérea da Ilha de Saraíba, na Baía de Todos os Santos, vale a expressão coisa de cinema. Além de piscinas naturais, vegetação nativa e uma área total de 34,8 mil m², o imóvel tem pelo menos três casas, algo que se parece com uma academia de ginástica, além de um alojamento. Enquanto o helicóptero fretado por A TARDE sobrevoava o local, pertencente ao município de Jaguaripe e parte da microrregião de Santo Antônio de Jesus, podia-se ver empregados confusos tentando fazer contato com alguém, por telefone.
Saraíba a última das grandes ilhas da Baía de Todos os Santos, localizada entre a Ilha de Itaparica e o continente pertence ao governo federal. Mas a posse de Guimarães é assegurada por uma inscrição de ocupação precária, emitida pela Secretaria de Patrimônio da União (SPU), ligada ao Ministério do Planejamento. O documento serve, na prática, como licença de uso particular do imóvel do Estado brasileiro. No site da SPU (www.spu.planejamento.gov.br), o processo envolvendo ocupantes do imóvel está identificado pelo número 50-76-011767-50.
O chefe da Gerência Regional do Patrimônio da União, em Salvador, se disse impedido de dar mais informações.
A Prefeitura de Jaguaripe recebeu solicitação de alvará para construir na ilha, em nome do ex-deputado. O pedido foi negado, mas, mesmo assim, as melhorias foram feitas. Pode ser que ele (Marcelo Guimarães) tenha conseguido autorização em outra instância. Não tem como saber, informou um servidor, que preferiu não se identificar.
A TARDE tentou por diversos dias contato telefônico com Marcelo Guimarães, sem sucesso. O advogado dele, Adriano Fonseca, também não quis dar declarações e disse não estar autorizado a informar os telefones do seu cliente.
A Tarde
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