De André Uzêda, para o jornal A Tarde desta terça-feira:
Não foram exatamente com estas palavras, mas o recado dado pelo ex-treinador Falcão a Jussandro veio com o significado de: `Para jogar no profissional do Bahia é preciso comer muito feijão, garoto`.
Falcão foi quem pescou pela primeira vez Jussandro do júnior para o profissional, na partida contra o Atlético de Alagoinhas, em abril deste ano, ainda pelo Baianão. Até seu desligamento do clube, em julho, o craque da Seleção de 1982 não usaria mais o moleque em campo, preferindo optar por improvisações sem sucesso na lateral esquerda –à época, justificou que `Jussandro sentiu o jogo. Até brinquei com ele que jogo de homem é mais difícil`.
Titular do time há seis jogos (invicto, inclusive), o menino da pequena Ibititá (a 497 km de Salvador) hoje brinca com o ostracismo ao qual foi submetido até deslanchar: `O Falcão achava que eu era verde, mas desde que comecei a jogar, acho que arrebentei`, diz.
E ainda vai além: `Todo mundo diz que o futebol profissional é mais difícil, mas eu não tenho achado. Na base, você tem pouco espaço para jogar. No profissional, os espaços surgem naturalmente. Está sendo bem tranquilo até aqui`, afirma, revelando uma auto-confiança própria dos seus 20 anos.
A expressão `comer feijão` como metáfora para o longo caminho a percorrer caiu como uma luva para Jussandro. A cidade onde nasceu e morou até os 11 anos, no centro-norte do Estado, faz parte da microrregião de Irecê, popularmente conhecida como `Capital do Feijão`, pela abundância na cultura do cereal proteico.
`Meu pai é agricultor e planta feijão. Comi feijão minha vida toda. Aliás, adoro. Mas já passei dificuldade também. Quando a chuva não vinha, faltava comida lá em casa. Foram tempos difíceis, mas que conseguimos superar`, pontua.
Oportunidade
A chegada do técnico Jorginho ao Bahia foi o fator fundamental para Jussandro se consolidar na equipe. No jogo contra o Figueirense, no último final de semana, o garoto colheu seu primeiro número individual na Série A. Partiu dele a assistência para o gol de Hélder, no empate contra os catarinenses.
O bom rendimento, contudo, não vira salvo-conduto para Jussandro escapar do bullying dos colegas de vestiário. `Eles me abusam, pois sou o mais jovem do grupo. Ficam me chamando de juvenil e outras coisas lá… Nem lembro… Eu acho até graça, sabe? Sou na minha, mas gosto de uma resenha também. Sou muito amigo de Danny Morais, Souza e Hélder. Os caras são divertidos. E também de Madson e Rafael, que subiram comigo para o profissional e enfrentaram todo o caminho da base`, recorda.
Com elogios pontuais, mas também doses de críticas, Jorginho já apontou valências e deficiências do prata da casa do Esquadrão. `É um jogador muito interessante, sabe jogar simples. Mas deveria ter um pouco mais de força. Jussandro tomou um cartão de bobeira contra o Santos porque não teve força para acompanhar o lance`, disse, após triunfo sobre o Peixe.
Quatro perguntas para Jussandro:
Você está assumindo a posição de Ávine, que é um dos xodós da torcida e que também veio da divisão de base, mas está contundido há um bom tempo. A pressão é maior por conta disso? Você já sofreu alguma comparação com ele?
`Eu não procuro pensar nisso. O Ávine é um cara muito querido no clube, as pessoas falam muito bem dele. Ele tem um espaço aqui dentro. Tenho que buscar o meu. Não gosto muito de comparações. Quero ser lembrado pelo meu futebol`.
O que mudou desde que você se tornou de fato um jogador profissional. Já existe assédio da torcida em torno de você?
`Ainda não (risos). Tenho pouco contato com os torcedores, mas os que conversam comigo têm me elogiado bastante. Isso é bom… Lá onde moro tem o porteiro do meu prédio, que é Vitória, e vive me perturbando. Mas eu perturbo ele também. Esse é o assédio que sofro (risos)`.
E das mulheres?
`(Risos). Aí não, aí não… Tenho namorada, de um tempão já. Ela é lá da minha cidade, de Ibititá. Falo até para ela não ter ciúmes… Porque sou fiel e um cara direito. Acho que vamos casar, mas não agora, pois sou muito novo (risos)`.
Todo jogador de futebol quando vira profissional compra logo um carrão…
`Que nada… Eu ainda nem tenho carteira de motorista. Comprei o laudo, mas não comecei as aulas. Um primo meu que me leva pro Fazendão. Tô precisando de tempo para fazer as aulas`.”
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