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Falcão deu longa entrevista à Folha de SP; confira

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Historico
Publicada em 1 de abril de 2012 às 12:02 por Da Redação

A edição deste domingo da Folha de S.Paulo, maior jornal do Brasil, traz uma interessante entrevista com o comandante tricolor, feita pelo jornalista Nelson Barros Neto. Não perca:

“O melhor ataque do Brasil no ano é do Bahia, dirigido por Paulo Roberto Falcão, 58. Desde que chegou para substituir Joel Santana, levado ao Flamengo no início de fevereiro, o volante da inesquecível seleção da Copa-1982 e comentarista da TV Globo por 17 anos (quase o mesmo período em que fez análise) diz tentar implantar conceitos do Barcelona na equipe, que não ganha o Estadual há 11 temporadas –agora, tem nove pontos a mais que o vice, Vitória.

Em 19 jogos, foram 51 gols (média de 2,7 por partida). E a torcida já brinca que o ex-corintiano Souza está acima de Lionel Messi, pois tem média de tentos superior à do argentino em 2012.

Mas Falcão prefere não bater de frente com o “futebol de resultado” promovido pelos colegas treinadores. E não chega a já rejeitar virar o que foram Platini e Beckenbauer nos Mundiais de 98 e 2006 após a saída de Ricardo Teixeira. Confira:

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Folha – Trinta anos depois, ainda passa o filme daquela eliminação de 82 ou já encheu o saco de falar sobre isso?
Falcão – Eu acho muito bom quando se fala em 82, sabe por que? Não lembro na história brasileira uma seleção que tenha perdido e tenha se falado tanto. Todo mundo ainda busca: por que que perdeu? Acho que é destino, não tem uma explicação, até porque os dois times jogaram bem [Brasil e Itália]. E essa é a grande conquista daquela seleção. Então, nunca vai me encher porque é motivo de satisfação lembrar de um time que não ganhou, mas encantou o mundo inteiro, jogando um futebol brilhante.

Então, é realmente melhor perder jogando bonito do que ganhar jogando feio?
Sim. Você está muito mais perto das conquistas jogando bem, independente de ter uma derrota, que faz parte do futebol, porque vê uma possibilidade de uma chegada boa no final. Agora, quando ganha jogando mal, a tendência é que não chegue lá. Você tem que ter discernimento. Me parece importante, quando está ganhando, saber que também tem defeito. E procurar corrigir. Como também tem que ter a capacidade de entender que, quando vai mal e ganha, saber tirar as coisas positivas disso. Não dá para dizer que quando perde está tudo ruim, quando ganha está tudo bem. Os dois têm defeitos porque não somos perfeitos. Ninguém é perfeito.

A ideia é mesmo implantar conceitos do Barça no Bahia?
O Barcelona tem um conceito de 30, 40 anos, e eles jogam assim, mesmo nas categorias de base, de posição, de tocar a bola, de se aproximar e tal. A gente nem sabe se vai conseguir, mas eu tenho uma ideologia que, para mim, futebol tem que ser imposição, você tem que se impor em cima do adversário. E você tem que ter, acima de tudo, uma compactação. O que é compactação? O time tem que ser uma coisa só. Defesa, meio-campo e ataque próximos um do outro. Porque você se defende melhor e ataca melhor. Por que é que o Barcelona, na minha avaliação, é tão bom? Montar um time com jogadores de qualidade com dinheiro no bolso não é difícil. Você compra quem você quer, porque você dá a bola e eles resolvem. O difícil é você montar um time com essas qualidades do Barcelona que seja tão bom ou melhor sem a bola. É a coisa mais definitiva do Barcelona. Ele consegue ser muito bom sem a bola. Aperta a saída, e com jogadores como Messi, Iniesta, Fábregas, Xavi. Isso para mim é o diferencial do Barcelona, e isso é o que gosto. Sem a bola, temos que tirar ela do adversário. Não podemos esperar o adversário errar. Nós temos essa cultura de ficar olhando. Não. Temos que apertar e obrigar o adversário a fazer aquilo que a gente quer. Claro que é difícil. Claro que precisa tempo. O Barcelona tem todo esse tempo de filosofia. Mas é algo que miro tentar tirar uma situação assim.

Até onde esse time pode ir?
Nosso objetivo aqui é o Baiano [clube não conquista desde 2001]. Claro que vamos focar também a Copa do Brasil, mas hoje esse é nosso foco. É difícil, a gente está com uma rotina de jogos absurda, os jogadores sentem, cansam, estamos cheios de lesionados, porque é jogo domingo e quarta… e nesse calor. Por isso, esse desempenho em um mês e meio foi muito além do que eu imaginava. Mas ainda falta muito. Muito. Essa é uma coisa importante, e eles sabem disso.

E o panorama geral do futebol brasileiro? Também vê uma crise, como muitos já falam?
Acho que muita gente visou o jogo Barcelona x Santos e tomou por base. Eu digo sempre uma frase: nós brasileiros somos humildes em tudo, somos um povo humilde, maravilhoso. A única coisa em que somos arrogantes é no futebol. A gente acha que é o melhor do mundo, e não é. Não é. Temos potencialidade de ser, mas a gente tem que ter a humildade para entender que hoje tem times e seleções melhores. Se não tiver, nunca vamos crescer. Todos vimos um espetáculo do Barcelona, reconhecido pelos próprios jogadores do Santos. Ali deflagrou [esse sentimento], e as pessoas começaram a ficar muito preocupadas. Porque o Barcelona fez aquilo que normalmente o Brasil faz. Mas aquilo é uma ideologia, todo mundo não é o Barcelona. Acho que se exagerou muito, mas essa é a realidade. Nós não somos humildes no futebol.

Nossos treinadores, a forma com que as equipes estão atuando, também não têm culpa?
Acho que cada um tem que jogar de acordo com as características de seu time, as características daquilo que imagina, que seja o ideal para seu time. Então, eu não tenho como criticar o trabalho de ninguém, até porque seria falta de ética. Eu acho que às vezes uma jogada aérea é uma jogada forte. Mas é evidente que você não pode só ter aquilo. Às vezes, você não consegue. Perde-se muitos jogadores… Mas não podemos achar que está tudo errado porque houve esse Barcelona 4×0 Santos.

E a seleção brasileira?
Acho assim… Eu gosto muito do Mano [Menezes], é um cara que se preparou para isso. Acho que o foco dele tem que ser acertar o time em 2012, para entrar 2013 firme, em condições de fazer uma boa Copa das Confederações. Acho que esse é o plano dele, e acho que está correto. Só que tem que ter um pouco de paciência, porque as coisas nem sempre acontecem como a gente planeja.

Ainda pensa em voltar?
Não, não, não… Aquele trabalho [1990-1991] foi de renovação, fiquei feliz que apareceram jogadores como Cafu, Leonardo, Mauro Silva, Márcio Santos, esses caras todos, que depois se sagraram campeões em 94. Fiquei muito feliz com uma declaração do Parreira [técnico na época], que a gente tinha feito um trabalho que levaria anos para fazer, de mostrar novos jogadores. Eu não penso, assim, não. Estou muito focado aqui, muito feliz, tendo um trabalho com eles muito legal, um reconhecimento do torcedor muito bom.

Como era a relação com Ricardo Teixeira (então, começando na presidência da CBF)?
Fiquei um ano lá, nunca se meteu em nenhum momento em escalação, em convocação. Eu tive naquele ano uma relação muito boa com ele. A saída foram duas ou três exigências que eu tinha que cumprir, mas aí eu não concordei, por isso não renovou. Meu contrato era de um ano. Era de um ano porque, na época, o Ricardo não tinha todo essa força política que adquiriu ao longo dos anos, tinha nova eleição em seguida, não sabia se ia ficar, estava começando no futebol.

Sem ele, cronistas esportivos como Juca Kfouri, colunista da Folha, chegaram a citar seu nome para assumir o COL (Comitê Organizador da Copa-2014). O que acha?
Você me pegou de surpresa, é uma coisa que não dá para falar agora, assim…

Acha que exemplos como os de Platini e Beckenbauer à frente das Copas na França e na Alemanha, em vez de cartolas, soam melhor?
Tudo quando se tem competência é possível. Não é porque foi jogador que tem competência para ser presidente de confederação ou comitê. Não é porque nunca jogou bola que não tem competência de ser treinador. Acho que as coisas não são assim, todo mundo pode trabalhar desde que se tenha competência. Não sei se as coisas seriam maravilhosas, não sei. Agora, que existe a vantagem de quem conhece, que trabalha no campo, que tenha uma relação, é verdade. Se você encontrar um profissional com a competência e a inteligência de poder administrar alguma coisa mais importante do futebol, seria excelente se ele já também tivesse sido jogador. Seria excelente. Mas não significa que se o cara nunca jogou bola, não sabe administrar, porque aí teríamos de perguntar: para comentar futebol, teria de ter jogado bola?

E o seu caso? Acha que a carreira na TV ajudou a de agora?
Olha, eu fiquei muito tempo trabalhando na imprensa, 17 anos na Globo, mas comecei esse trabalho antes lá em Roma [após se aposentar dos gramados]. Então foi um trabalho que eu tive muito contato com muitos treinadores, vi muitos treinos, Copas do Mundo, vi trabalho de treinos das seleções em 98, 2002 e 2006, então isso me ajudou muito. E me ajudou muito também a entender às vezes algumas coisas que estão acima do treinador, dos jogadores. Eu passei por tudo.

Acha que a crítica supervaloriza o trabalho de vocês?
Às vezes se exagera muito, porque é uma coisa apaixonante, todo mundo acha que entende, mas muitos não entendem. Treinador, de modo geral. tem de olhar o todo. Não é uma ou duas coisas. É um trabalho muito difícil, muito desgastante, porque você mexe com a emoção das pessoas. Você mexe com o amor que se tem a um clube, você mexe com 25 profissionais heterogêneos, cada um pensa de uma maneira, você tem que fazer para tudo se encaminhar para um lado só, não é uma coisa simples. Você tem que ter psicologia de grupo. Não é uma coisa assim que é barbada. Não, realmente é um trabalho de dedicação total, e não só quando estamos no campo. Em casa, também. Você está sempre pensando, você não tem como se desligar.

Na parte final do ano passado, você viajou pela Europa e se encontrou com alguns treinadores. Como foi isso?
Na realidade, eu estava há muito tempo para fazer isso. Quis conversar com as pessoas que eu respeito, para saber o que eles fazem, foi um intercâmbio. Conversei primeiro com o Sachi [Arrigo], que é um profissional que sempre respeitei, foi o treinador que mudou um pouquinho a história do futebol italiano. O Milan e a seleção de 94. Ele revolucionou. Quando eu cheguei na Itália, todos os times jogavam homem a homem, na chamada retranca. O Sachi implantou a marcação por zona, com muita pressão e duas linhas de quatro, então é um cara que respeito. Hoje é o diretor-técnico do centro onde se formam os treinadores do país. Falei também com o Prandelli [Cesare], que é o atual treinador da seleção italiana, também uma figura excepcional sobre futebol, sobre marcação. Fui ver como é que ele organiza, comparar com o Brasil. Falei longamente com ele. E a última semana eu passei lá no Real Madrid, com o Mourinho [José], vendo os trabalhos dele, como orientava, conversando com todo mundo, enfim. Com o Guardiola [Pep, do Barcelona], nossas agendas não bateram. Mas acho que o profissional tem que fazer isso sempre que possível. Não significa que vai se fazer o que se faz lá. Mas temos que saber até para não fazer. Tem que estar acompanhando para ver se vale a pena.

Antes disso, houve o retorno à profissão no Inter, em abril. Afinal, o que aconteceu ali? Parecia ter tudo para dar certo, onde você é ídolo…
Deixa eu te dizer… Eu já falei tanto disso que eu… Eles [diretoria] sabem, eu sei o que aconteceu, mas eu acho que já faz tempo, já falei tudo que tinha que falar, não vou mais voltar nesse assunto, não. É chato. Não foi o trabalho. Foram outras coisas, ali.

Acha que existiu preconceito quando você foi anunciado no Bahia? Um catarinense que sempre morou em Porto Alegre e na Itália, que usa terno e bebe vinho, não tinha nada a ver com Salvador?
Nada, nada… Eu sempre respeito as opiniões, mas não tenho assim nada a dizer ao contrário. Não vai se resolver nada se disser alguma coisa relacionada a isso. As pessoas têm o direito de dizer o querem, de pensar o que quiserem, mas sempre a gente tem que pensar que depois vão ter de rever as posições. Nunca pensei sobre isso. E sempre passei as férias aqui.”

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