De Victor Uchôa, para o jornal Correio* deste sábado:
“Está marcada para a próxima terça-feira, dia 23, no Marazul Hotel, na Barra, a Assembleia Geral em que os sócios do Bahia serão apresentados ao balanço financeiro de 2012. Antes que as contas sejam postas sobre a mesa, já se sabe que o caixa anual fechou com quase R$ 2 milhões no vermelho, mesmo quando o clube contava com o maior orçamento de sua história.
Para o mesmo dia, no mesmo local, às 17h, está prevista uma manifestação da torcida tricolor contra os gestores do Bahia – ou os donos do Fazendão, como queira. Uma explicação importante: quando digo torcida tricolor, me refiro à parte dela que não entra em acordos com os dirigentes para não vaiar o bando disforme que tem ido a campo nos últimos jogos (ou eu deveria escrever anos?).
Como repórter, já estive em algumas assembleias do Bahia, todas na finada sede de praia do clube. O roteiro nunca mudou. Do lado de fora, protestos com apitos e cartazes, enquanto sócios em dia tentam entrar e são barrados na porta por motivos jamais explicados. Do lado de dentro, cochichos, apertos de mão, tapinhas nas costas, risos estreitos – se eu fosse maldoso, diria que lembra muito aquelas reuniões de mafiosos cinematográficos, em garagens subterrâneas.
Em cada assembleia, o presidente começa a expor a pauta do encontro e a derramar seus argumentos sobre esse e aquele assunto. Os participantes passam a emitir suas considerações, alguém na mesa faz cara feia, outro grita no meio do público, surgem acusações de todos os lados, os tons sobem e aí um mais exaltado diz algo que tira todos do sério. Em boa parte das vezes, a assembleia é encerrada por falta de condições para dar prosseguimento aos trabalhos. Será assim terça-feira?
Por ser conveniente à diretoria, não foi assim em janeiro, quando, também em Assembleia Geral, o estatuto do Bahia foi modificado para deixar o torcedor com sua cara de otário amassada no alambrado. Com a revolucionária modernização implantada no clube, o sócio pode votar, mas só em um dos dois candidatos escolhidos antes pelo Conselho Deliberativo. O Conselho Deliberativo, sabemos, está todo na mão dos dirigentes da situação. E ninguém sabe ao certo quem são os sócios aptos a votar. É a piada toda pronta, mas ninguém deu um piu.
Ocorre que a piada pronta no Bahia se repete há pelo menos duas décadas e a gargalhada só é ouvida de um lado – do lado de quem faz o que quer com a instituição e não dá a mínima para os anseios da torcida, seu maior patrimônio. Minto. Nos efêmeros lampejos que fazem recordar o velho Esquadrão de Aço, a torcida também gargalha. Não há problema em gargalhar quando se merece. O problema é que, depois do riso, muita gente esquece que, por dentro, o Fazendão é um organismo completamente apodrecido há muito tempo.
O cheiro da podridão só incomoda a maioria dos torcedores quando a ressaca moral martela a mente. Depois da humilhação que o Vitória impôs ao Bahia na inauguração da nova Fonte Nova e de Marcelo Guimarães Filho trazer de volta um treinador rejeitado pela arquibancada, pululam nas redes sociais os joguinhos da velha com protesto, de #foraMGF a #foracorja, passando pelo #mgfNÃOmeREPRESENTA. Já criaram também uma petição na internet para recolher assinaturas. O intuito é forçar as mudanças na base da vontade popular.
Em 2006, também como repórter, vi, com estes olhos míopes, mais de 10 mil tricolores tomarem as ruas do centro de Salvador quando ficou claro que o time, naquele ano, não sairia da Terceira Divisão. Teve até trio elétrico. Na época, o mote era Devolva meu Bahia. Não devolveram. Será que os joguinhos da velha são mais eficientes?
Sinceramente? #osDONOSdoFAZENDÃOestãoseLIXANDO.”
Leia Também
“Os problemas são administrativos”, diz jornalista
“O Bahia segue com donos fora das arquibancadas”
Para jornalista, time “andou de lado” com estatuto
Jornalista faz comparações e questiona competência
comentários
Aviso: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do ecbahia.com.
É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral, os bons costumes ou direitos de terceiros.
O ecbahia.com poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios
impostos neste aviso ou que estejam fora do tema proposto.