De Luiza Oliveira, para o UOL:
Um filme passou pela cabeça de Feijão ao marcar o gol do Bahia que eliminou o Corinthians na Copa São Paulo de futebol júnior. Nos poucos segundos entre o cabeceio certeiro para o gol e o abraço no companheiro, o volante teve tempo de pensar em dar um abraço na mãe Altamira, no sonho de vestir a camisa do time profissional e relembrar as tragédias na infância pobre em uma favela de Salvador.
Prestes a completar 19 anos, no próximo dia 8 de abril, Antônio Filipe Gonzaga de Aquino tem mais histórias que muito veterano, graças à experiência que a comunidade considerada muito perigosa Brasilgás, na periferia da capital baiana, pôde lhe proporcionar.
A mais difícil foi aos 13 anos quando viu seu amigo levar um tiro na cabeça e cair diante dos seus pés após ser acertado por um traficante. Foi o pior que já me aconteceu, conta, sem entrar em detalhes.
Feijão se esforça para mostrar que superou os problemas da infância, mas livrar-se de tantas cicatrizes é uma tarefa árdua. As dificuldades financeiras e a separação de seus pais interferiram em campo. O técnico do time de base Sérgio Araújo conta que o jovem volante não teve um bom desempenho no ano passado ao defender a equipe Sub-18 no Campeonato Baiano.
O Feijão tem um extracampo complicado e o Bahia está trabalhando em cima disso. Ele tem família pobre, pais separados e mora em uma favela extremamente perigosa em Salvador. A gente sente que o extracampo atrapalha porque ele é um garoto muito sensível aos problemas familiares”.
“Se algo acontece em casa, ele não consegue separar e leva para o campo, fica cabisbaixo. Se ele conseguir separar, será um excelente jogador. Estamos trabalhando nesse sentido com muito jeito. Tem que ter um trabalho importante motivacional.
A preocupação em perder uma joia fez o Bahia agir. A diretoria decidiu tirá-lo da favela e levá-lo para morar no alojamento do clube. Desde então, o jogador vem tendo acompanhamento de uma psicóloga e de uma assistente social, ficou mais entrosado com o grupo e seu foco se tornou exclusivamente o futebol.
Tudo para resgatar a alegria e o talento do garoto que era uma das grandes esperanças do profissional e foi convocado para a seleção brasileira de base em 2010.
Nesta quarta-feira, um grande passo foi dado. Feijão estava feliz. Ajudou na marcação, foi coroado com um gol de cabeça e deixou transparecer sua alegria no largo sorriso que abriu ao balançar as redes pela primeira vez na Copinha.
Além de ser o destaque da vitória por 1 a 0 sobre o atual campeão Corinthians na casa adversária ainda ajudou seu time a atingir um feito histórico. O Bahia se classificou para as oitavas de final com a melhor campanha da primeira fase com três vitórias, 12 gols marcados e nenhum sofrido.
A felicidade foi dividida com os pais e os dois irmãos por telefone assim que chegou à concentração. Depois, foi a vez de celebrar com os colegas de grupo até tarde da noite. Quero ser jogador do Bahia. A torcida é muito fanática, meu sonho é ver a torcida gritando meu nome, dizia ao emendar um discurso já típico de profissional.
É um momento muito feliz, estava batalhando por isso. O Bahia estava trabalhando para vencer um time grande na Taça São Paulo, aconteceu hoje, mas já estamos pensando no Juventude, disse ele, antes de mostrar o jeito ainda infantil e interromper a conversa. Estou com sono. Bons sonhos, Feijão.
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